Tchekhov: mestre do conto

Terminei esta semana de reler Treze Contos, do Tchekhov. É daqueles livros para ler e reler durante toda a vida, pois é tão rico que sempre terá algo a mais a apreender a cada leitura, principalmente com a maturidade.

O que me impressiona neste escritor é sua capacidade de nos conectar com seus personagens com poucas linhas. Ele não precisa de mais do que alguns parágrafos para despertar em nós a simpatia, antipatia, raiva, alegria. De alguma forma, aquelas pessoas se tornam conhecidas nossas, torcemos por eles. Talvez porque no fundo eles nos sejam familiares porque são tipos humanos que conhecemos em nossas próprias vidas.

O pequeno livro fecha com chave de ouro com O Duelo, um conto que coloca face a face dois tipos comuns do século XIX, que se tornaram dominantes no século XX.

Lacvsky, o anti-herói, é o homem decaído do ocidente. Tão acostumado aos confortos da vida moderna que apenas se iniciava que vai abandonando os valores tradicionais um a um, contanto mentiras para si mesmo para se enganar o tempo todo. Admite sua fraqueza para não ter que lidar com ela. Quer ser livre de qualquer compromisso e viver sem limites. No entanto, sua constante perturbação indica que suas consciência está lá em algum lugar, tentando chamá-lo à razão. É o homem conformado que não quer lutar por nada.

De outro, Von Koren, o intelectual, darwinista social, que não respeita a sabedoria tradicional, é intolerante com os decadentes, quer moldar o mundo à sua visão. Não por acaso é acusado o tempo todo por Samoilenko de ter sido estragado “pelos alemães”. É um fruto da ideologia alemã que se espalhava pela europa, o protótipo do revolucionário, que tanto sangue espalhará pelo mundo.

Há outros tipos como o diácono que deseja mais as pompas do cargo de bispo do que uma vida espiritual, a dividida Nadezha que de certa forma representa a própria Rússia dividida, o bom Smoilenko, que tenta a tudo conciliar, mas que é dominado por ambas as partes.

No fim, uma mensagem de redenção. Não há homem tão caído que não possa se redimir, não há pecado que não possa ser perdoado. Deus age de muitas formas, até através de nossos erros.

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