Seleção Brasileira: o que fizeram dela?

A grande verdade é que Tite e seus antecessores conseguiram a proeza de tirar do torcedor o prazer de assistir a seleção brasileira. Ela foi aos poucos transformada em uma massa burocrática de inibição de talento pois o que interessa é ganhar a copa do mundo.

O interessante é que quanto mais nosso objetivo passa a ser ganhar a copa, mais longe ficamos dela.

À rigor o último grande time do Brasil foi aquele de 2006, derrotado tanto pela França quanto pela empáfia de jogadores e comissão técnica.

Tempos difíceis. Entre perder a copa jogando bem e ganhar a copa jogando mal, escolhemos jogar mal. E vamos perdendo as copas do mesmo jeito.

Cuidado com os discursos!

Em tempos de rápido acesso à informação através da internet, temos que redobrar o cuidado com os discursos. É fácil receber em seu celular um discurso de algum político ou pessoa influente, especialmente quando parece estar de acordo com o próprio pensamento. É preciso sempre ter um cuidado com aqueles que “falam bem”. Eles possuem a capacidade de nos convencer de muitas coisas.

O discurso é um instrumento de convencimento, de usar nossas percepções para nos levar a conclusões que nem sempre chegaríamos sozinhos e, pior, nem sempre estão certas. Por isso no diálogo Protágoras, de Platão, Sócrates ameaça deixar a discussão se o famoso sofista não parasse de discursar.

O que Sócrates propunha era o diálogo. Perguntas e respostas, de preferência curtas. Ele reclama que respostas longas costumavam fazê-lo esquecer do ponto principal e não colaboravam para seu principal objetivo, a busca da verdade.

Protágoras tenta reagir e fugir do debate, mas as pessoas que estão assistindo apelam para que continue e discuta com Sócrates. O que Platão estava querendo nos dizer é que para buscarmos a verdade das coisas precisaríamos sempre refletir sobre os dois lados em disputa, seja debatendo com alguém ou mesmo dialogando com nós mesmos. Esta era a essência do método que criou com o nome de dialética. Alternância de idéias para buscar a mais segura.

Recuperar o sentido disso é um dos maiores desafios do debate público nos dias de hoje. Infelizmente a polarização está tão acirrada que pouco se aproveita dos chamados debates nas redes. Na televisão e na academia a coisa é ainda pior. O debate é sempre promovido entre aqueles que pensam parecido, como se pode ver em qualquer mesa de discussão nos programas de tv ou as chamadas “discussões acadêmicas”. O debate verdadeiro é coisa rara nos dias de hoje. E por isso mesmo a verdade é tão atacada e até esquecida. Quem se importa com a verdade?

O importante é vencer uma discussão.

Sala de aula: uma maravilha

Querem um exemplo de hipocrisia?

Sempre que se vai criticar a educação à distância, a aula presencial vira uma maravilha. Alunos, que estudaram previamente um tema, discutem de maneira construtiva com mediação de um professor que domina plenamente o assunto.

Realidade: raramente se lê previamente o material de uma aula. Discussão construtiva? Onde esse pessoal vive?

Ouvi de um deputado-médico (ou médico-deputado) que ele lembra de todos os conteúdos que recebeu em sala de aula há 30 anos atrás.

E nem ficou vermelho.

Uma palavra sobre Nelson Rodrigues

No imaginário popular, boa parte por culpa da nossa classe intelectual, a imagem de Nelson Rodrigues foi associada à depravação, como se ele fosse uma espécie de Marquês de Sade tupiniquim escrevendo peças e contos semi-eróticos para contentamento da massa.

Nada mais distante da realidade. Nelson fez uma denúncia da sociedade brasileira, que poderia muito bem ser descrita como uma sociedade libidinosa, nos termos do quase desconhecido filósofo Luiz Sérgio Coelho de Sampaio. . O que Nelson retrata, especialmente nos contos, são pessoas que não possuem auto controle nenhum e que se entregam sem pensar duas vezes aos prazeres.

Só que tem um detalhe. Há também uma hipocrisia muito grande, pois estas mesmas pessoas afetam uma moralidade acima do normal. O que aparece em seus contos é os desvelamento da verdade, que se coloca sem disfarces na frente do justo de plantão, que invariavelmente é um covarde e não consegue lidar com a consequência de seus atos.

Que não se consiga fazer a distinção entre uma obra de denúncia para uma de apologia mostra bem o buraco cultural que o país se enfiou. Para piorar, não há contrastes na obra de Nelson. Não há possibilidade de redenção porque todos ali são canalhas de alguma forma. Homens e mulheres entregues a seus libidos.