Cuidado com os discursos!

Em tempos de rápido acesso à informação através da internet, temos que redobrar o cuidado com os discursos. É fácil receber em seu celular um discurso de algum político ou pessoa influente, especialmente quando parece estar de acordo com o próprio pensamento. É preciso sempre ter um cuidado com aqueles que “falam bem”. Eles possuem a capacidade de nos convencer de muitas coisas.

O discurso é um instrumento de convencimento, de usar nossas percepções para nos levar a conclusões que nem sempre chegaríamos sozinhos e, pior, nem sempre estão certas. Por isso no diálogo Protágoras, de Platão, Sócrates ameaça deixar a discussão se o famoso sofista não parasse de discursar.

O que Sócrates propunha era o diálogo. Perguntas e respostas, de preferência curtas. Ele reclama que respostas longas costumavam fazê-lo esquecer do ponto principal e não colaboravam para seu principal objetivo, a busca da verdade.

Protágoras tenta reagir e fugir do debate, mas as pessoas que estão assistindo apelam para que continue e discuta com Sócrates. O que Platão estava querendo nos dizer é que para buscarmos a verdade das coisas precisaríamos sempre refletir sobre os dois lados em disputa, seja debatendo com alguém ou mesmo dialogando com nós mesmos. Esta era a essência do método que criou com o nome de dialética. Alternância de idéias para buscar a mais segura.

Recuperar o sentido disso é um dos maiores desafios do debate público nos dias de hoje. Infelizmente a polarização está tão acirrada que pouco se aproveita dos chamados debates nas redes. Na televisão e na academia a coisa é ainda pior. O debate é sempre promovido entre aqueles que pensam parecido, como se pode ver em qualquer mesa de discussão nos programas de tv ou as chamadas “discussões acadêmicas”. O debate verdadeiro é coisa rara nos dias de hoje. E por isso mesmo a verdade é tão atacada e até esquecida. Quem se importa com a verdade?

O importante é vencer uma discussão.

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