Estou vendo, e revendo, os episódios de Seinfield. É uma daquelas séries que assistíamos quando dava. Parece incrível, mas houve uma época que você não escolhia o horário para assisti-las. Dependia de estar em casa, sem outra ocupação, naquele exato momento (ou tentar pegar as reprises). De modo que devo ter assistido mais ou menos metade dos episódios.
A série foi vendida como um show sobre o nada. Não é bem assim. Estou na terceira temporada e ficou evidente para mim que existia um tema central envolvendo os personagens de Jerry, George, Elaine e Kramer: a falta de alteridade. Ou seja, a falta de capacidade de qualquer um dos quatro em se colocar no lugar do outro, ou mesmo ter por ele qualquer simpatia. Tudo gira em torno do ego de cada um, mesmo que fosse um ego pessimista, como o de George. No fim do dia, eles se importavam apenas com eles mesmos.
São personagens memoráveis porque nos lembram de como a vida é insuficiente para quem tem este tipo de atitude. Não desenvolvem afetos, são irônicos e julgadores, um produto de uma modernidade que tem sua raiz no niilismo. Nesse aspecto sim, o nome da série faz sentido. É uma série sobre o niilismo, que enfoca pessoas que não são propriamente vilões, mas que estão longe de serem referências positivas. É como se juntos eles formassem o estrangeiro, de Camus, em versão de Nova Iorque, mas sem a disposição para o sangue.
Genialidade pura.