Qualidade na educação: a hipocrisia

Em 7 meses trabalhando no MEC constatei algo triste: a grande maioria das pessoas que nos procuram dizendo que estão preocupados com a qualidade da educação estão defendendo os próprios interesses ou da classe que pertencem.

Um exemplo é a EAD. Para uma parcela da população brasileira, é a única opção para fazerem um curso superior. Qualquer limitação à sua utilização, e entendo que algumas são necessárias, significa retirar a possibilidade deste brasileiro fazer uma faculdade e por isso mesmo tem que ser muito pesado.

Mas o que mais vejo é defenderem sua proibição para uma área específica. Se a tese desse pessoal prosperar, acaba praticamente a EAD no Brasil pois os pedidos já cobrem todo os cursos mais procurados.

No fim, acabam sempre se traindo. Começam com a preocupação sobre a EAD e em algum momento deixam escapar que naquela área já há profissionais demais. Ou seja, a proibição da EAD é uma estratégia para diminuir a formação naquela área. Para um país em que a quantidade de pessoas com curso superior é bem abaixo da média da OCDE, alguma conta não fecha.

Outra hipocrisia: sempre dizem que são a favor da EAD e depois acrescentam o “mas”. Como Ned Stark já ensinou recentemente, tudo que vem antes do mas é irrelevante. São a favor da EAD mas desde que pros outros.

O Brasil é um país de hipócritas.

Amazônia em chamas?

Claro que não, pelo menos não mais que o habitual. O que sobra neste caso é a hipocrisia.

Lembro dos incêndios florestais na California, em Portugal (inclusive com perda de vidas), sul da França, só para ficar nos países chamados desenvolvidos.

O que anima o idiota que preside a França é o velho interesse. O Brasil tem que ganhar esta batalha de comunicação e creio que vencerá. Depois de décadas de militância verdade, muita gente já está farta desse discurso e já percebeu que o interesse é verde mesmo, mas a grama é de outra natureza.

A Verdade, breve reflexão

A modernidade tem como uma das suas máximas a afirmação que “tudo é relativo” ou que “não existe verdade”. Elas acreditam tanto neste pensamento que ele passa a ser uma verdade absoluta, o que mostra como a frase é vazia de significado e uma impossibilidade lógica.

O que elas querem, ao dizer essa frase, é ter o direito de estarem erradas e não precisarem se corrigir. Assim, não existem verdades, apenas ponto de vistas.

Mais do que direito a estar errado, deseja-se o direito a continuar no erro e persistir na ação. Talvez essa sim seja uma novidade na história humana. Saber que está errado e mesmo assim clamar o direito de considerar-se certo.

Essas inversões conceituais são os principais problemas do nosso tempo. Economia, política, sociologia, tudo mais derivam da falsa liberdade de se pensar o que quiser. Com isso torna-se na verdade prisioneiro.

Por que continuar com o blog?

Em tempos de redes sociais, por que continuar investindo tempo em manter um blog?

Primeiro porque aqui é realmente meu espaço. Tudo que coloco, encontro depois. Não tem essa de censura, de plataforma cada vez mais vigiando o que digo. Para coibir abusos na liberdade de expressão existem as leis.

Segundo porque gosto. Ajuda-me a pensar e praticar a escrita. Queria ter evoluído mais nestes anos, mas falta combinar a prática com o estudo da gramática. Falta tempo. Sou blogueiro de horas vagas.

Por fim porque tem vocês, que ainda passam por aqui e lêem, deixando comentários ou simplesmente dando uma espiada. Enquanto houver interesse, continua valendo a pena.

Seinfield: um show sobre o nada?

Estou vendo, e revendo, os episódios de Seinfield. É uma daquelas séries que assistíamos quando dava. Parece incrível, mas houve uma época que você não escolhia o horário para assisti-las. Dependia de estar em casa, sem outra ocupação, naquele exato momento (ou tentar pegar as reprises). De modo que devo ter assistido mais ou menos metade dos episódios.

A série foi vendida como um show sobre o nada. Não é bem assim. Estou na terceira temporada e ficou evidente para mim que existia um tema central envolvendo os personagens de Jerry, George, Elaine e Kramer: a falta de alteridade. Ou seja, a falta de capacidade de qualquer um dos quatro em se colocar no lugar do outro, ou mesmo ter por ele qualquer simpatia. Tudo gira em torno do ego de cada um, mesmo que fosse um ego pessimista, como o de George. No fim do dia, eles se importavam apenas com eles mesmos.

São personagens memoráveis porque nos lembram de como a vida é insuficiente para quem tem este tipo de atitude. Não desenvolvem afetos, são irônicos e julgadores, um produto de uma modernidade que tem sua raiz no niilismo. Nesse aspecto sim, o nome da série faz sentido. É uma série sobre o niilismo, que enfoca pessoas que não são propriamente vilões, mas que estão longe de serem referências positivas. É como se juntos eles formassem o estrangeiro, de Camus, em versão de Nova Iorque, mas sem a disposição para o sangue.

Genialidade pura.

O Desconcerto do Mundo – Notas de Leitura

Terminei ontem o livro O Desconcerto do Mundo, do Gustavo Corção. Minhas notas:

  1. Trata-se de 3 ensaios que tratam do mesmo tema, o desconcerto do mundo, uma expressão do Camões.
  2. O desconcerto teria sua raiz não no homem ou um mundo errado, mas na relação entre o homem e o mundo.
  3. O homem tem uma dupla realidade de grandeza e miséria. Éramos destinados a algo maior, mas escolhemos este mundo.
  4. Não somos deste mundo, estamos neste mundo.
  5. A poesia lírica de Camões, que trata deste tema, é maior que seu épico.
  6. Filosofias que tentam reduzir o homem ao mundo são profundamente equivocadas. Elas negam a diferença específica do homem, que também é sua essência, a alma. Esta alma é dotada de uma inteligência que o distingue de toda criação.
  7. Machado de Assis não foi um cético pessimista, mas alguém que percebeu este desconcerto e que entendeu que a realidade descrita no livro Eclesiastes, seu favorito, leva ao absurdo por negar a possibilidade transcendente do homem. No Eclesiastes não há o grande remédio para o mundo injusto, as bem-aventuranças e a ressurreição.
  8. Eça de Queiroz foi um escritor que ficou na superfície de seus personagens, deixando de dar a eles a profundidade que os faz humanos.
  9. A arte tem uma importância fundamental para todos, é fonte de criatividade.
  10. A grande arte é aquela que revela a natureza humana e da criação.
  11. Boa parte da arte moderna perdeu essa compreensão e por isso se torna artificial e sem sentido.
  12. Arte e técnica precisam caminhar juntas para que realizem seus potenciais.

Um poema apropriado para o momento

Ontem um professor lembrou, por motivo totalmente diverso, o grande poema de John Donne.

Hoje ele caiu como uma luva.

Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por vós.

Os sinos dobraram hoje aqui no trabalho.

Jorge Jesus: pagando o preço de não ser da turma

Eu juro que não tinha percebido a má vontade dos jornalistas e comentaristas esportivos com treinadores estrangeiros no Brasil. Observem que esta má vontade não existe com jogadores; apenas com os treinadores.

Mauro Cesar foi um dos que expôs esta situação ao cunhar o termo “clube do vinho” para falar da turma que fez de tudo para defender o Abel de qualquer crítica. O apelido deve-se ao fato do treinador ser um apreciador da bebida.

Só que a coisa é mais ampla. Já existia má vontade com Rueda no próprio Flamengo e existe agora contra Sampaoli. A alegria que parte dos comentaristas demonstram com as derrotas dos treinadores estrangeiros é palpável. Demonstram um fenômeno que na verdade ultrapassa o futebol, a defesa da reserva de mercado.

5 Notas de Sexta: shopping com Becky Bloom, Sacred Heart, Cultura e um certo capote.

Olá, novamente retomo para as 5 notas de sexta. Destaques da semana:

  1. Um filme que assisti: Os Delírios de Consumo de Becky Bloom. O tema é importante, mas a execução é pavorosa. Sou bem condescendente com essas comédias, mas esta não desceu.
  2. Um disco que estou escutando: Sacred Heart (1985), do Dio. Último disco com Vivian Campbell na guitarra e mantém a pegada dos dois primeiros. Dio ficou bem melhor que o Sabbath depois do divórcio.
  3. Um livro que achei no sebo: Filosofia da Cultura, do Luiz Sergio Coelho de Sampaio. Um verdadeiro achado, que procurava há algum tempo. Ainda vou dominar o conceito da hiperdialética.
  4. Um conto que reli: O Capote, do Gógol. Um dos contos mais importantes da literatura russa. O próprio Dostoiévsky costumava dizer que eram todos filhos do Capote.
  5. Um pensamento

Hoje em dia, cada um crê que o fato de se tocar na sua pessoa redunda em ofensa a toda sociedade.

Gógol, em O Capote.