- Retrato de um homem medíocre (no sentido de mediano). Feliz em fazer um trabalho de nenhum valor intelectual ou para o espírito. Não somos assim, a maioria pelo menos?
- Desprezo dos colegas. Ganha status quando aparece com um capote novo. Mundo de aparências da burocracia do estado (e das grandes corporações também).
- O alfaiate mostra o que é colocar o espírito na profissão. É um artista. Tem orgulho da sua obra.
- O problema da vida de aparências é que ela depende dos bens materiais. Se os perdermos, somos nada.
- A pessoa importante existe em tudo que é lugar. Não sabemos direito o que ele faz para ser importante, mas ele se faz e é o que importa.
- O personagem principal só passa a ter alguma vida social quando adquire aparência. Troque o capote por um carro e chegamos nos dias de hoje.
- A visão de Gogol é pessimista. A maioria de nós é insignificante e a morte do personagem principal só é percebida na repartição dias depois. Ele é facilmente substituído.
- A virada fantástica do final mostra que nem mesmo na morte o homem consegue seu descanso. Mas afinal, o que o personagem fez em vida para der um destino melhor?
- Trata-se de um dos contos mais importantes da literatura russa. Dostoyevsky costumava dizer que eram todos filhos do Capote.
Mês: julho 2019
Perfil do solucionador de crises
Uma das coisas que aprendi em minha vida profissional é que existem pessoas talhadas para os momentos de crise. Elas possuem a energia e o pensamento rápido para reunir recursos e executar a tarefa urgente.
Só que este perfil tem um prazo de validade. Não pode ficar muito tempo na função. Assim que conseguiu estabilizar o ambiente, tem que sair, ir para outro desafio. Um grande erro é deixá-lo na função acreditando que por ter mostrado competência para dar o rumo para um barco à deriva, ele pode fazer a navegação.
Não consegue. Geralmente ele leva a própria equipe a um nível de stress que não se consegue manter em tempos normais. Acaba com o sentimento de equipe, gera tensões irreparáveis. Por isso esse profissional deve ser mantido em um local protegido, para ser usado, com todo cuidado, no momento certo.
E cada dia que se passa, mas me convenço que isto é mais que uma verdade, é um truísmo.
Um grande momento se aproxima
A pior decisão que você pode tomar é aquela sem volta, que não tem como reverter. Ainda mais quando ela define o fim de um período da nossa vida.
Aproximo-me de um momento assim. A decisão já foi tomada, mas o frio na barriga existe. E se tiver me precipitando? E se vier o arrependimento?
Até a efetivação, tem um mês pela frente. Tempo para as últimas reflexões, mas acho difícil mudar de idéia. Acima de tudo quero liberdade para definir como será a segunda metade da minha vida.
Avante.
5 Notas de Sexta: Green Book, Mr Beck, o horror e um gênio brasileiro
5 Notas sobre o que andei me ocupando nestas duas semanas que passaram.
- Um filme que assisti: Green Book. O oscar foi merecido. Baita filme, que mostra bem como superar o preconceito a partir da dignidade e como duas pessoas podem construir uma sólida amizade quando se respeitam.
- Um disco que andei reescutando. Rough and Ready, do Jeff Beck. Que baita album. Já escrevi sobre ele aqui.
- Um conto que li: A Colônia Penal, do Kafka. Uma pequena obra prima. Pode ser lido por várias chaves. Para mim, mostra bem o efeito desumanizador da ideologia em um espírito medíocre (o oficial).
- Um tema que andei estudando: a lógica hiperdialética, descoberta genial de um brasileiro, o filósofo Luis Sérgio Coelho de Sampaio. Alguém ainda vai estudar seriamente a teoria dele.
- Um pensamento:
O bom escritor é o que nos seus livros nos leva a um reencontro com o que temos em nós de mais profundo e verdadeiro.
Herberto Sales

A Colônia Penal (Kafka)
O conto A Colônia Penal, do Kafka, é uma pequena obra prima. Está tudo lá: o espírito científico que despreza os sentimentos; uma máquina que serve como metáfora para a ideologia, seja ela qual for; o horror do explorador diante do mal; a segunda realidade e sua difícil comunicação com a primeira; o condenado, metáfora para o homem comum, que assiste tudo sem entender que a vítima será ele; o soldado representando o homem burocrático que cumpre suas ordens sem questionar, e por aí vai.
O que mais me impressionou é que foi escrito em 1914. Kafka nem tinha visto ainda o poder destruidor da ideologia quando toma controle do estado moderno. Mais um grande escritor que foi, antes de tudo, um visionário.

A grama do vizinho é sempre mais verde
Estamos sempre achando que a grama do vizinho é mais verde. Tendemos a pensar que nosso trabalho é o mais difícil, que nosso salário é o pior, que as coisas não dão muito certo para nós.
Entretanto, quando temos abertura, ficamos sabendo que o vizinho pode estar com problemas muito maiores do que os nossos. Que o que considerávamos grave, é coisa da vida, dificuldade que temos que superar.
Estou com um amigo numa UTI combatendo um câncer; uma outra amiga lidando com problema de depressão pesado dos filhos; outra vivendo 24 horas em função da mãe que se recupera de uma AVC e sofreu maus tratos da cuidadora.
Temos que dar graças a Deus, mesmo.
Jean Guitton: idéia e fato
Em O Trabalho Intelectual, Guitton defende que nossa inteligência vive mudando do fato puro para a idéia pura; e que nenhuma das duas existe. Um fato sempre representa alguma idéia e a idéia surge de uma multidão de fatos.
O trabalho intelectual é justamente de relacionar as duas coisas. Como a idéia se materializa nos fatos e como os fatos nos conduzem a uma idéia.
Pelo menos, foi o que entendi.
Irmã Wendy e as pinturas
Interessante como um bom livro puxa muitas coisas. Lendo Magnitezed By God, do Padre Lauder, fiquei conhecendo a Irmã Wendy, que apresentou uma série na BBC sobre a história da pintura.
Tem no youtube. Infelizmente, tem que entender inglês.
https://youtu.be/QBv0HezlOBw
Green Book: oscar merecido!
Finalmente assisti Green Book, o último vencedor do Oscar. Minhas notas:
1. Belíssimo filme. O Oscar acertou dessa vez. Melhor que todos os que assisti da lista deste ano (ainda não vi A Favorita e o filme da KKK).
2. Uma pessoa vítima de preconceitos pode ser também preconceituosa.
3. A saída não é a violência e nem o vitimismo. É manter sempre o senso de dignidade humana, mostrando o absurdo da situação.
4. A verdadeira amizade é aquela que melhora constantemente os amigos. E existe o momento que eles precisam ser duros um com o outro.
5. Fui escutar um disco do Don Shirley. Absurdo de bom.
6. Deu vontade de comer KFC.
7. A américa foi construída também por imigrantes, mas imigrantes que assumiram a cultura americana como suas.
5 Notas de Sexta: Black Sabbath, um Padre, uma extraordinária mulher e cerveja artesanal!
Fazia tempo, mas aqui estamos novamente. Cinco notas fresquinhas!
1. Uma peça que terminei: Hedda Gabler (Ibsen). Vou confessar uma coisa. Ibsen é o autor que amaria odiar. Não consegui. Foi um gênio absoluto. Hedda é uma das personagens mais fascinantes de toda história do teatro. Mesmo.
2. Um disco que ando escutando: Master of Reality (Black Sabbath). Animado pela leitura da biografia do Mick Wall sobre o Sabbath, escutei várias vezes este disco. O primeiro gravado sem sobras da época de clubes, com composições feitas especificamente para o disco. Pesado.
3. Um livro que estou lendo: Magnetized By God (Padre Robert Lauder). Eu conheci o trabalho do Padre no youtube, onde ele comenta livros que tratam de temas católicos, ou como gosta de dizer, do mistério católico. O livro é curto, mas sensacional. Trata das artes e como elas podem refletir um convite de Deus para que nos juntemos a Ele. Coisa fina.
4. Um local para Happy Hour. Desde que voltei à Brasília tenho experimentado restaurantes e bares que não conhecia. Um deles está se transformando rapidamente em nossa casa. O Beer Club, na 402 sul. Cervejas especiais, um ótimo ambiente, bom atendimento e boa música. Excelente combinação.
5. Um pensamento
If we “listen” to art we may hear God’s voice
Padre Robert E Lauder
