O Capote (Gogol) – Notas

  • Retrato de um homem medíocre (no sentido de mediano). Feliz em fazer um trabalho de nenhum valor intelectual ou para o espírito. Não somos assim, a maioria pelo menos?
  • Desprezo dos colegas. Ganha status quando aparece com um capote novo. Mundo de aparências da burocracia do estado (e das grandes corporações também).
  • O alfaiate mostra o que é colocar o espírito na profissão. É um artista. Tem orgulho da sua obra.
  • O problema da vida de aparências é que ela depende dos bens materiais. Se os perdermos, somos nada.
  • A pessoa importante existe em tudo que é lugar. Não sabemos direito o que ele faz para ser importante, mas ele se faz e é o que importa.
  • O personagem principal só passa a ter alguma vida social quando adquire aparência. Troque o capote por um carro e chegamos nos dias de hoje.
  • A visão de Gogol é pessimista. A maioria de nós é insignificante e a morte do personagem principal só é percebida na repartição dias depois. Ele é facilmente substituído.
  • A virada fantástica do final mostra que nem mesmo na morte o homem consegue seu descanso. Mas afinal, o que o personagem fez em vida para der um destino melhor?
  • Trata-se de um dos contos mais importantes da literatura russa. Dostoyevsky costumava dizer que eram todos filhos do Capote.

Perfil do solucionador de crises

Uma das coisas que aprendi em minha vida profissional é que existem pessoas talhadas para os momentos de crise. Elas possuem a energia e o pensamento rápido para reunir recursos e executar a tarefa urgente.

Só que este perfil tem um prazo de validade. Não pode ficar muito tempo na função. Assim que conseguiu estabilizar o ambiente, tem que sair, ir para outro desafio. Um grande erro é deixá-lo na função acreditando que por ter mostrado competência para dar o rumo para um barco à deriva, ele pode fazer a navegação.

Não consegue. Geralmente ele leva a própria equipe a um nível de stress que não se consegue manter em tempos normais. Acaba com o sentimento de equipe, gera tensões irreparáveis. Por isso esse profissional deve ser mantido em um local protegido, para ser usado, com todo cuidado, no momento certo.

E cada dia que se passa, mas me convenço que isto é mais que uma verdade, é um truísmo.

Um grande momento se aproxima

A pior decisão que você pode tomar é aquela sem volta, que não tem como reverter. Ainda mais quando ela define o fim de um período da nossa vida.

Aproximo-me de um momento assim. A decisão já foi tomada, mas o frio na barriga existe. E se tiver me precipitando? E se vier o arrependimento?

Até a efetivação, tem um mês pela frente. Tempo para as últimas reflexões, mas acho difícil mudar de idéia. Acima de tudo quero liberdade para definir como será a segunda metade da minha vida.

Avante.

5 Notas de Sexta: Green Book, Mr Beck, o horror e um gênio brasileiro

5 Notas sobre o que andei me ocupando nestas duas semanas que passaram.

  1. Um filme que assisti: Green Book. O oscar foi merecido. Baita filme, que mostra bem como superar o preconceito a partir da dignidade e como duas pessoas podem construir uma sólida amizade quando se respeitam.
  2. Um disco que andei reescutando. Rough and Ready, do Jeff Beck. Que baita album. Já escrevi sobre ele aqui.
  3. Um conto que li: A Colônia Penal, do Kafka. Uma pequena obra prima. Pode ser lido por várias chaves. Para mim, mostra bem o efeito desumanizador da ideologia em um espírito medíocre (o oficial).
  4. Um tema que andei estudando: a lógica hiperdialética, descoberta genial de um brasileiro, o filósofo Luis Sérgio Coelho de Sampaio. Alguém ainda vai estudar seriamente a teoria dele.
  5. Um pensamento:

O bom escritor é o que nos seus livros nos leva a um reencontro com o que temos em nós de mais profundo e verdadeiro.

Herberto Sales

A máquina imaginada por Kafka

A Colônia Penal (Kafka)

O conto A Colônia Penal, do Kafka, é uma pequena obra prima. Está tudo lá: o espírito científico que despreza os sentimentos; uma máquina que serve como metáfora para a ideologia, seja ela qual for; o horror do explorador diante do mal; a segunda realidade e sua difícil comunicação com a primeira; o condenado, metáfora para o homem comum, que assiste tudo sem entender que a vítima será ele; o soldado representando o homem burocrático que cumpre suas ordens sem questionar, e por aí vai.

O que mais me impressionou é que foi escrito em 1914. Kafka nem tinha visto ainda o poder destruidor da ideologia quando toma controle do estado moderno. Mais um grande escritor que foi, antes de tudo, um visionário.

A grama do vizinho é sempre mais verde

Estamos sempre achando que a grama do vizinho é mais verde. Tendemos a pensar que nosso trabalho é o mais difícil, que nosso salário é o pior, que as coisas não dão muito certo para nós.

Entretanto, quando temos abertura, ficamos sabendo que o vizinho pode estar com problemas muito maiores do que os nossos. Que o que considerávamos grave, é coisa da vida, dificuldade que temos que superar.

Estou com um amigo numa UTI combatendo um câncer; uma outra amiga lidando com problema de depressão pesado dos filhos; outra vivendo 24 horas em função da mãe que se recupera de uma AVC e sofreu maus tratos da cuidadora.

Temos que dar graças a Deus, mesmo.

Jean Guitton: idéia e fato

Em O Trabalho Intelectual, Guitton defende que nossa inteligência vive mudando do fato puro para a idéia pura; e que nenhuma das duas existe. Um fato sempre representa alguma idéia e a idéia surge de uma multidão de fatos.

O trabalho intelectual é justamente de relacionar as duas coisas. Como a idéia se materializa nos fatos e como os fatos nos conduzem a uma idéia.

Pelo menos, foi o que entendi.

Green Book: oscar merecido!

Finalmente assisti Green Book, o último vencedor do Oscar. Minhas notas:

1. Belíssimo filme. O Oscar acertou dessa vez. Melhor que todos os que assisti da lista deste ano (ainda não vi A Favorita e o filme da KKK).

2. Uma pessoa vítima de preconceitos pode ser também preconceituosa.

3. A saída não é a violência e nem o vitimismo. É manter sempre o senso de dignidade humana, mostrando o absurdo da situação.

4. A verdadeira amizade é aquela que melhora constantemente os amigos. E existe o momento que eles precisam ser duros um com o outro.

5. Fui escutar um disco do Don Shirley. Absurdo de bom.

6. Deu vontade de comer KFC.

7. A américa foi construída também por imigrantes, mas imigrantes que assumiram a cultura americana como suas.

5 Notas de Sexta: Black Sabbath, um Padre, uma extraordinária mulher e cerveja artesanal!

Fazia tempo, mas aqui estamos novamente. Cinco notas fresquinhas!

1. Uma peça que terminei: Hedda Gabler (Ibsen). Vou confessar uma coisa. Ibsen é o autor que amaria odiar. Não consegui. Foi um gênio absoluto. Hedda é uma das personagens mais fascinantes de toda história do teatro. Mesmo.

2. Um disco que ando escutando: Master of Reality (Black Sabbath). Animado pela leitura da biografia do Mick Wall sobre o Sabbath, escutei várias vezes este disco. O primeiro gravado sem sobras da época de clubes, com composições feitas especificamente para o disco. Pesado.

3. Um livro que estou lendo: Magnetized By God (Padre Robert Lauder). Eu conheci o trabalho do Padre no youtube, onde ele comenta livros que tratam de temas católicos, ou como gosta de dizer, do mistério católico. O livro é curto, mas sensacional. Trata das artes e como elas podem refletir um convite de Deus para que nos juntemos a Ele. Coisa fina.

4. Um local para Happy Hour. Desde que voltei à Brasília tenho experimentado restaurantes e bares que não conhecia. Um deles está se transformando rapidamente em nossa casa. O Beer Club, na 402 sul. Cervejas especiais, um ótimo ambiente, bom atendimento e boa música. Excelente combinação.

5. Um pensamento

If we “listen” to art we may hear God’s voice

Padre Robert E Lauder

 

Blanchet como Hedda