Notas de Sexta: Shakespeare, GOT, passado e um pedaço da mente

Bom dia!

5 Notas para esta sexta-feira, última de maio!

1. Uma peça que li:

Bem Está o que Bem Acaba (Shakespeare). Uma das chamadas peças “problemáticas” de Shakespeare. Pode até ser quando você lê no sentido literal, mas se entrar na interpretação simbólica verás claramente a tentativa de desfazer o casamento entre o Céu e a Terra.

2. Uma série que estou vendo:

Game of Thrones. Primeira temporada. Isso mesmo, assisti o episódio 1 na mesma hora que passou o último. Falar o que? Sou assim.

3. Um jogo que revi:

Flamengo 3 x 0 Santos (1983). Final de Brasileirão, 155 mil pessoas, último jogo de Zico antes de ir para a Udinese. Na verdade, não revi, foi a primeira vez que assisti pois em 1983 eu escutei o jogo inteiro abraçado ao rádio. Tinha 10 anos. Lembro que Adílio foi considerado o melhor da partida. Discordo. Foi Leandro.

4. Um disco que estou revisitando:

Piece of Mind (Iron Maiden). O Iron entrava na maioridade a partir deste disco, balanceando mais o peso com o progressivo. O resultado é aquele metal melódico (termo horroroso) que acostumamos tanto a gostar.

5. Um pensamento

Bem está o que bem acaba

Willie S.

Reflexão de fim de noite

Exigimos demais uns dos outros; queremos a perfeição, a concordância absoluta. É o nosso erro.

Por isso nos frustramos tanto; por isso nos odiamos. Nosso ódio é nossa queda constante.

Precisamos admirar mais as qualidades do outro e relevar os defeitos que vemos. Do mesmo modo que somos imperfeitos, o outro também é.

Ao condenar tanto o outro fazemos a nós mesmos um grande mal: passamos a acreditar que somos melhores do que realmente somos.

Dois tipos de contos

O crítico literário Harold Bloom defende que existem basicamente dois tipos de contos, representados por dois autores: Tchekhov e Borges.

Tchekhov é o arquétipo dos contos que tem por base a realidade que apreendemos pelos sentidos. Eles tratam essencialmente deste mundo, do chamado mundo material.

Borges trata do mundo fantástico, de um mundo que está além da realidade material, mas que termina por invadi-la. Nas palavras de Bloom, a realidade cede a este mundo fantástico.

Eu acrescentaria que ambos os mundos tratados são igualmente realidades. A primeira é o que chamamos de realidade imanente, tão bem retratada pelo russo. A segunda, abordada por Borges, muitas vezes por símbolos fantásticos, é a realidade transcendente. Como se Borges desse um passo a mais que Tchekhov, penetrando em uma esfera de realidade diferente, como faz Shakespeare em suas peças.

Para cada pessoa vai agradar mais o estilo de um ou do outro, mas compartilho com a conclusão do Bloom: para que escolher? Por que não apreciar os dois tipos básicos de contos?

Entre Tchekhov e Borges, fico com os dois.

E você, leitor, qual tipo prefere?

Tchekhov

Borges

A tentação do purismo

De tempos em tempos, movimentos tomam o debate público de assalto. Em torno de certas idéias, grupos de pessoas se unem e desafiam o status quo, mudando o tom da discussão e, no limite, criando modificações na própria cultura de uma sociedade. Em política há um deslocamento da Janela de Overton, que estabelece quais idéias são aceitáveis em uma discussão.

Um movimento vitorioso sofre uma grande tentação, a do purismo. Quem é mais fiel a este conjunto de idéias e quem não aderiu o suficiente. No início, ocorrem expurgos ideológicos, expulsando por campanha de difamação os traidores.

Em um segundo momento, pessoas sensatas, horrorizadas com as campanhas realizadas, começam a se afastar do movimento. Não querem fazer parte das caças às bruxas que se estabeleceram.

No fim, sobram os puros. Os radicais que colocam este conjunto de idéias, ou quem as simboliza, como um deus em um sistema próximo de uma idolatria. O que sobra, no fim, é a religião política que falava Eric Voegelin. Um bando de fanáticos que tratam a política como seita, impedindo o debate racional dos princípios básicos que acreditam e separando as pessoas por grau de adesão ao dogma que foi constituído.

Está acontecendo isso no Brasil hoje. De minha parte, estou me afastando. Não vou participar do assassinato em massa de reputação que estão promovendo, um governo dos puros. Não dou mais dois meses de termos um movimento intelectual só de puros, incapaces de fazer alianças ou entender o outro, preocupados apenas de serem os portadores das verdades eternas.

Sem perceberam que se tornaram justamente o que afirmavam combater.

5 Notas de Sexta: Imaginação, contos, janela de Overton, Janela Indiscreta e Chesterton

O que andou acontecendo na semana? Vamos à nossas 5 notas de sexta:

1. Uma série que comecei a assistir: Anne with an E. Faz tempo que desejava começar a assistir esta série, que mostra uma menina que se apoia na imaginação para lidar com a realidade hostil de uma orfã que nunca experimentou o amor dos pais. Gostando bastante.

2. Um conto que li: La Busca de Averroes, do Borges. Impressionante a capacidade deste argentino em ser profundo com tão poucas palavras. Gênio.

3. Um conceito que andei refletindo: a Janela de Overton. Em tempos de redes sociais e pressão direta sobre os atores políticos, este conceito é fundamental para entender as janelas de oportunidades para novas políticas públicas.

4. Um filme que assisti: A Janela Indiscreta. Não lembrava que este filme é também uma discussão sobre o amor e os problemas de fazer um casamento funcionar no ambiente da modernidade. (Mentira, o filme é uma contemplação da Grace Kelly. Que presente de Deus!)

5. Uma frase para a semana:

A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns.

Chesterton

Inteligência e seu maior inimigo, o ego

Uma das verdades fundamentais que Sócrates descobriu foi que o conhecimento verdadeiro exige uma profunda humildade. Está na Apologia, quando explica a filosofia. Não foi por acaso que retratou os falsos sábios como pessoas que julgavam saber o que não sabia e que ele, Sócrates, era superior justamente por saber que não sabia.

Em época de redes sociais, essa constatação é cada vez mais patente. O que mais se vê é gente arrotando conhecimento e julgando-se no direito de atropelar o outro. Esse mal assola principalmente os mais inteligentes, alguns com serviços relevantes para nossa cambaleante cultura. Pior ainda quando geram ¨filhos¨, versões pioradas de si mesmos.

Está sendo uma enorme decepção ver os ególatras se revelando a cada dia; e só piora. A cada dia estão mais cheios de razão e mais nocivos, juntando-se para praticar assassinatos de reputação indignos da inteligência que professam. As vítimas variam, mas o método é o mesmo. Crie uma teoria, associe a vítima a algum grupo que você despreza e peça sem parar a sua cabeça. Uma vergonha e uma lástima.

Estou bem decepcionado com tudo isso.

5 Notas de Sexta: Vingadores, Bachman, Jesus, cinema e a engenharia

Bom dia, amigos!

Todas as sextas eu divido com vocês 5 notas sobre o que andei me ocupando durante a semana. Dicas preciosas para quem se interessa pela cultura!

1. Um filme que assisti: Vingadores, Ultimato.

O fim dos 3 arcos que compõem o universo marvel até aqui precisava de um fim grandioso, e isso o filme entregou muito bem, especialmente na batalha final. Também tinha que dar soluções para personagens que enfrentavam o envelhecimento dos atores. Resolvido. Ou seja, diversão.

2. Um disco que estou escutando: Any Road, do Randy Bachman

Randy Bachman foi um dos fundadores do Guess Who. Saiu no início dos anos 70 e formou o seminal Bachman-Turner Overdrive, com aquele som setentão rasgado que tanto gosto. Neste disco de 2014, pode experimentar estilos que não combinavam com o som do BTO, como as baladas e tons mais para o jazz. Ficou bem legal o resultado.

3. Um livro que terminei: Jesus de Nazaré, do Bento XVI.

Terceira vez que leio. Na verdade, a obra tem 3 partes. Uma que trata da infância de Jesus, outra que trata de sua vida pública e esta que trata da Paixão. Decidi que todo natal leio a primeira e na quaresma as outras 2. Para o resto da vida. Acreditem, o livro é inesgotável em riqueza e profundidade.

4. Uma página que descobri: personacinema.com.br

Aqui o assunto são as mensagens dos filmes, especialmente os com conteúdos filosóficos. Muito bem escrito e abordando filmes que não são muito tratados na mídia tradicional como Malik, Rohmer, Kielowski, Surukov, etc.

5. Uma frase que andei meditando.

Dita pelo Ministro Tarcisio em recente programa do Roda Vida, lema da engenharia militar brasileira:

“Não vivemos em vão.”

Lema de quem deseja deixar um legado.

Vingadores: vale a pena?

Depende. Você quer se divertir? Ver seus personagens favoritos, humor e ação? Não temo como se arrepender, o filme é muito bem feito.

Agora se você quer uma história impecável, sem furos no roteiro, com todas as implicações lógicas e filosóficas sobre viagem no tempo, bem, pode assistir Os 12 Macacos ou Exterminador do Futuro. Vingadores não perde muito tempo com isso e usa a viagem no tempo apenas de escada para cenas de ação e resolução de conflitos.

Vingadores é DIVERSÃO, entretenimento. Tem alguma reflexão sobre o sentido da perda, falta de esperança, como lidar com o fracasso, mas isso tudo é secundário. O filme não foi feito para isso. Foi feito para um bande de heróis reunirem-se e dar uma sova no Thanos.

E, sim, a Capitão Marvel está ali só pela lacração mesmo. Faz parte da época que vivemos.