Enquanto preparo o texto sobre o quinto filme de John Hughes sobre amadurecimento, 5 notas como aperitivo:
O preconceito de classe vai nos dois sentidos. Não são só os ricos que não querem se misturar.
Li uma crítica que condena o filme porque o personagem Blane é sem carisma. Besteira. Ele TEM que ser sem carisma. Está no tédio existencial de quem tem tudo. A vida é assim.
A dor do Duckie é bem real. Eu sei bem.
A escola continua a ser um local sem sentido. A esforçada professora não consegue vencer o desinteresse visto em Curtindo a Vida Adoidado.
Dois diálogos que valem o filme: os confrontos entre Angie e Blane e entre Blane e Steff.
O professor Ricardo da Costa, especialista em medievalismo, apresentou estes 10 exemplos, que comenta em entrevista no canal Terça Livre.
DEZ EXEMPLOS DE PRESSÃO ACADÊMICA
1) Na graduação (1981), professores diziam o que nós NÃO devíamos ler (ou assistir). Dois exemplos: o livro “Casa Grande & Senzala” (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987) e o filme “Che” (1969, com Omar Sharif);
2) Na pós, autores “proibidos” de serem citados: Régine Pernoud (1909-1998), Barbara Tuchman (1912-1989), Giovanni Reale (1931-2014), Will Durant (1885-1981), Raymond Aron (1905-1983) (a lista é longa);
3) Em um concurso público, fiquei em terceiro lugar por ter explicado a defesa que Marx (1818-1883) fez do imperialismo inglês na Índia (disse-me um colega que era para eu ter passado em primeiro, mas como “fiz uma crítica” a Marx, fiquei em terceiro); em outro concurso público, fui criticado por ministrar uma prova didática muito boa (estava “querendo furar a fila” e passar na frente de outro candidato, pois era “a hora dele”); noutro, fui “aconselhado” a elogiar o Construtivismo na prova escrita, caso contrário, seria reprovado. Elogiei. Minha nota foi 9,2;
4) Certa vez, presenciei um doutor esquerdíssimo comprar o livro “Mea Cuba” (1968) de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), dissidente cubano. Há histórias inacreditáveis no livro (como, por exemplo, o pagamento de jornalistas da BBC de Londres para elogiar Fidel e o regime). Só havia um exemplar na livraria. Comprou-o para ninguém comprá-lo (e lê-lo);
5) Quando ingressei na universidade, me “aconselharam” a estudar “História colonial” (para ficar mais “próximo” dos colegas);
6) Certa vez, um colega criticou minha roupa (estava com uma camisa verde musgo e uma bota): achou minha aparência “militar”; outro criticou que escutava Frank Sinatra (1915-1998); outra, que eu não deveria usar a expressão “a coisa tá preta”;
7) Quando critiquei Eric Hobsbawm (1917-2012) em uma palestra, um aluno, no dia seguinte, me perguntou como eu “tinha coragem” de fazer aquilo;
8) Quando divulguei em minha página do Facebook os desenhos do coronel Danzig Baldaiev (1925-2005), integrante da polícia política soviética de 1947 até meados da década de 80, dos gulags soviéticos, um “amigo” me escreveu para me “aconselhar” a “tomar cuidado”, porque “poderiam me pegar em Vitória”;
9) Em um mesmo dia, fui publicamente censurado TRÊS vezes por um colega (doutor, ex-jesuíta) por usar um crucifixo no peito;
10) Participei de uma banca de doutorado. Em sua tese, o candidato fez uma crítica (em nota de rodapé!) a Jacques Le Goff (1924-2014). Aborrecido, um doutor da banca LEU o currículo do historiador francês (sim, é inacreditável, mas aconteceu) para afirmar que o rapaz não poderia ter feito aquilo.
Mas, caríssimos, digo isso para afirmar que, MESMO ASSIM, fiz tudo o que quis: pesquisei o que quis, fiz minha carreira APESAR disso tudo (e muito mais, pois coleciono histórias absolutamente inacreditáveis). Por isso, CORAGEM, cidadão! Não se acovarde!
Nunca tinha escutado falar deste filósofo, mas ele colocou uma questão interessante no twitter.
Welcome to the welfare state.
The first generation got security.
The second generation got paralyzed.
The third generation gets tyranny.
O problema, parece ser, que para conseguir o primeiro ponto, a segurança para todos, os governos empenham recursos que não possuem, inclusive sacrificando as futuras gerações. É o famoso fazer caridade com o dinheiro dos outros.
A geração seguinte enfrenta a paralisação pois os custos de manter estes gastos sociais crescentes impede que se continue criando riquezas. Passa-se a trabalhar para sustentar um status quo que não tem como se sustentar.
Por fim, a desordem, que é o prato cheio para os tiranos.
Se Molyneux estiver certo, o estado do bem-estar, aka social-democracia, é um dos maiores atos de egoísmo do homem em todos os tempos. Ele toma para si não as riquezas do mundo, mas as que ainda serão produzidas.
Talvez isso explique que tantas pessoas e casais sem filhos sejam tão fascinadas pelas teses da social-democracia. Ao mesmo tempo que tem o conforto espiritual de estarem ajudando os necessitados, não precisam se preocupar com o que virá. Afinal, como dizia Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos.
Acho que a França está passando do estágio 2 para o 3.
A pergunta que me faço é se tem como interromper esta sequência ou mudar a conclusão. E se o filósofo está considerando a figura do tirano como necessariamente mal.
Porque me parece claro que para sair da social democracia e do bem-estar exige-se algo grau de sacrifício de toda a sociedade.