Enquanto o tt do twitter discutiam uma treta no PSL, chamou-me mais atenção um artigo do Mark Lilla que trata de uma terceira via, à direita, na política francesa.
Li o artigo. Algumas notas:
- Lilla é um liberal (esquerdista). Ele pode estar à direita do liberalismo EUA, mas continua sendo um liberal.
- Significa que as idéias vem em primeiro lugar e, de certa forma, continua prisioneiro de suas categorias.
- Ele observa bem a existência de uma maioria católica silenciosa na França, que poderia ter eleito o tal Fillon, se este não tivesse se envolvido em corrupção. E mesmo assim, quase passou para o segundo turno.
- Ele considera que a posição de direita é o espantalho que o esquerdismo faz dela. Conservador nos costumes e liberal (sentido econômico) na economia. Nada de estado, anti-globalização, anti-imigração, anti-ambientalista, etc.
- Ele se surpreende que há uma nova direita surgindo na França que tem a mesma posição conservadora nos costumes, incluindo ser contra a UE, mas é contra o livre mercado, adotando posições quase marxistas (ou social-democrata).
- Esta direita seria pró-ambientalista, contra o capitalismo, a favor do Estado-nacional. Ele cita a encíclica de Francisco como sua referência.
- Lilla parece ignorar a doutrina social da Igreja, que sempre se distanciou tanto do capitalismo quanto do socialismo. Parece que ele é prisioneiro desta dicotomia, acreditando que só pode ser um ou outro, ignorando o que a Igreja afirma nos últimos cem anos, que socialismo e capitalismo tem raízes comuns, no individualismo do homem-exterior, como dizia Gustavo Corção.
- Que Bento XVI já tinha mostrado a posição da Igreja quanto ao meio ambiente em sua última encíclica, e que escreveu boa parte da encíclica de Francisco. Que conservar o meio ambiente é uma posição histórica da Igreja, o que não pode ser confundido como o alarmismo do aquecimento global.
- Lilla entende que a entrada desta direita no debate, através de jornais e criação de escolas é fazer Gramcismo. Acho que ele deveria estudar mais Gramsci.
- Há uma grande diferença entre ocupar cargos na Cultura para impedir o debate, demitir inconvenientes e obter uma hegemonia cultural e buscar um lugar para poder expressar idéias e participar do debate público. Acho que para Lilla, eu ter um blog na internet é praticar a estratégia do Gramsci. Se eu o entendi corretamente, tudo é Gramsci.
- Apesar de tudo, Lilla parece estar interessado em entender o pensamento conservador e ler seus autores de referência. Já é algo que 99,9% dos liberais se recusam a fazer. O problema é estar preso a suas próprias idéias, como achar que ter uma visão coerente que explica o mundo é algo que falta à direita tradicional quando é exatamente a estrutura da realidade. Não existe uma visão única que explique o mundo; esta é exatamente o erro que leva à ideologia.
- O mundo não se resume a uma disputa de ideologias. Há uma posição anti-ideológica, que se recusa a subordinar a realidade às idéias. Esse sempre tem que ser um ideal para quem busca a verdade, que muitas vezes é rotulado de direitista ou conservador para intelectuais como Lilla.
Em tempo: acho que entendo a admiração de certa @, do crítico que não sabe escrever, por ele. Lilla fornece as caixinhas que o crítico gosta para poder rotular tudo e poder afetar superioridade. Olavo já tinha criado uma definição para tipos como ele (e Lilla). A do intelectual gostosão.