Ensimesmado e alteridade

Que leitura densa e interessante fiz agora da primeira metade do capítulo 1 de O Homem e A Gente, do Ortega y Gasset!

O pensamento não é garantido no homem, temos que conquistá-lo. O homem não é um animal racional ou sapiens, é um homem que ignora. Que sabe poucas coisas, mas que tem a capacidade de conquistar o pensamento e agir racionalmente sobre o homem.

Para isso precisa ensimesmar-se, ou seja, afastar-se do mundo exterior buscando refúgio em seu interior para pensar e meditar. Só assim poderá agir.

Sem isso, o homem vive de sua alteridade, de uma reação não refletida com o mundo exterior. Ele não age, reage. Essa capacidade é própria dos animais, é tudo que eles possuem. O animal não pode ensimesmar-se, não pode se apartar do que lhe é diferente.

Para Ortega, o homem vive três fases:

1) Um náufrago no mundo, que não compreende e que lhe é muitas vezes hostil. Fase da alteridade.

2) Voltar-se para si mesmo e buscar o pensamento, as idéias.

3) Agir de acordo com o pensamento, ou seja, ele retorna para o mundo externo levando o si mesmo. É a verdadeira práxis.

Ortega também faz um alerta: o pensamento, por ser uma conquista, pode ser perdido. Sem o pensamento, o homem é alteridade, é como os animais, ou seja, perde sua própria humanidade. O tigre não pode deixar de ser tigre, mas o homem pode deixar de ser homem. Pode desumanizar-se.

Guardiões da Galaxia, volume 2

AVISO: CHEIO DE SPOILER

Uma pena que o James Gun tenha se revelado ser um tipo tão escroto, pois é um cineasta de mão cheia. Seus dois filmes sobre estes heróis improváveis do universo marvel estão entre os melhores do estúdio.

No segundo Guardiões temos os melhores temas da literatura universal: a afirmação do herói e a redenção.

Além isso, temos os temas da amizade, amor e a divindade.

Ego é um deus com d minúsculo, como ele mesmo afirma. Isso é evidente por sua falta de sabedoria e propósito, como vai se tornando evidente. Seu destino é a solidão, ou seja, falta-lhe o principal, a capacidade de amar.

Quill, por sua vez, tem no coração sua força. De que adianta todos os poderes do mundo se não puder amar? Sim, amizade também é conflito, traição, decepção. Mas qual a alternativa? O amor sempre será um risco se dependermos da forma como os outros reagem. O segredo, é se entregar, mesmo se tiver que perder a vida.

É o caminho de Yondu, o da redenção através do sacrifício Ele cometeu um erro terrível na juventude e passou a vida tentando repará-lo, buscando a aceitação dos capitães. Só no fim, percebe que o caminho é o de amar ao limite, dando sua vida pelo outro. Quill não é apenas o filho que criou para a vida e dificuldade, mas o símbolo de todas as crianças que foi cúmplice involuntário de suas mortes.

Gun conseguiu reunir os elementos de grandes dramas humanos na forma leve de um filme de aventura, com muito humor e boas escolhas. Ajuda a resgatar a aventura como o gênero literário mais adequado a retratar os dramas humanos, como defendia tão insistentemente Chesterton.

Obsessões culturais

Quando você entra no mundo maravilhoso da cultura, fazendo expedições para conhecer o que os grandes artistas já produzirem, é normal ficar perdido. Afinal, este mundo só cresce quanto mais você se aventura.

Autor chama autor, cineasta chama cineasta, livro chama livro. Um desespero! Quando vê, está cheio de livros e filmes para assistir. E só piora!

Uma possível solução é ter boas obsessões. Escolha um tema ou autor para priorizar. Não significa que só vai se dedicar a eles, mas que eles terão prioridade.

Eu faço isso anualmente.

Para 2018, escolhi ler sobre I Guerra Mundial em não ficção, literatura “católica” em ficção, rever a discografia do Rush e mergulhar no universo marvel do cinema.

Para 2019, já escolhi o tema: a Idade Cristã, também conhecida como Idade Média.

E você? Tem obsessões?