Dica de Leitura 2

 

Sempre que terminar um capítulo, feche o livro e pense sobre ele. Tente resumir mentalmente o que leu, não recorra a anotações neste instante, pode voltar a elas depois.

Busque a essência. Como você explicaria o capítulo para alguém em poucas parágrafos?

Se quiser, escreva um parágrafo. Não mais do que um. Poucas frases. Guarde-o para guando terminar o livro e for refletir sobre ele como um todo.

Pascal: a que seita você pertence?

Hoje de manhã, antes de ir à missa, fui reler um pensamento de Pascal. A primeira leitura foi em um uber, quando voltava do trabalho. Trata-se de um pensamento extenso, de algumas páginas, tratando da natureza do conhecimento.

Pascal divide as possibilidades em três. De um lado, os pirrônicos e acadêmicos (cépticos); do outro, os dogmáticos. Pirrônicos são os seguidores de uma corrente que surgiu no platonismo de cépticos, que duvidam de todo tipo de conhecimento. Foi muito influente na modernidade. Os acadêmicos são uma derivação que acredita que nunca conseguiremos saber nada. Pelo que pesquisei, os pirrônicos perseguem o conhecimento, enquanto os acadêmicos não acreditam que seja possível.

Os dogmáticos são os que acreditam na possibilidade do conhecimento pela fé.

Para Pascal, todo mundo tem que escolher entre uma das três seitas, pois não escolher significa ser pirrônico.

Só que todas estas posições são insuficientes. Existem conhecimentos, que são rejeitados pelos pirrônicos, que nos são fornecidos pela própria lei natural. Ou seja, é impossível ser pirrônico sem rejeitar a lei natural. O dogmático, por sua vez, acredita em dogmas que vão contra a razão humana.

Pascal entende que o problema vem da insuficiência do homem em entender o próprio homem. Estamos acima da nossa capacidade racional e por isso o conhecimento mais seguro é o revelado por Deus.

Somos marcados pelo pecado original. Só entendemos conceitos como verdade e felicidade porque nossos pais pecaram. Se tivessem continuado fiéis no paraíso, não conheceriam mentira ou falsidade. Nenhum desses conceitos faria sentido para eles porque felicidade seria nosso estado natural.

Que sejamos responsabilizados pelos pecados de Adão e Eva afronta a razão humana, mas, entende Pascal, sem este mistério o homem se torna incompreensível. Já aceitando o mistério do Pecado Original, tudo mais se torna mais claro.

Dessa forma, o homem se apresenta em carácter dual. No estado de nossa criação, e na graça, somos como Deus. No estado de pecado, nos tornamos animais como os demais.

O homem, resume ele, transcende o homem. Nosso conhecimento sempre será incompleto porque nossa razão não alcança nos entender completamente.

Trata-se de um tenso profundo e não estou seguro se foi realmente isso que Pascal queria dizer. Pretendo voltar algumas vezes e refletir sobre este pensamento de Pascal. Fiquei com a impressão que nessas linhas está condensada toda uma filosofia.

Hold your Fire: enganado por um crítico

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Interessante como uma crítica pode nos afetar. Lembro que no fim dos anos 80, li uma crítica em uma revista sobre este disco do Rush. Ela foi tão devastadora que acabei nunca escutando o disco.
 
Os mais novos não entendem, mas não havia internet na época. Ou você comprava o disco, ou gravava de um amigo em fita k7. Até dava para escutar uma faixa ou outra em uma loja, mas eram poucas que permitiam deslacrar o disco para escutar.
 
Enfim, convenci-me que o disco era uma porcaria e nunca tive a curiosidade de escutá-lo.
 
Como estou num projeto de escutar toda discografia da banda, esta semana passei uns dias escutando-o. O crítico não entendia nada de rock. O disco é muito bom.
 
Minha favorita é Time Stand Still. Pela música, o ritmo e a letra. Não sou muito fã do refrão, mas aprendi a gostar. A música trata do erro de deixar a vida passar rápido demais, um tema que tem se tornado uma obsessão desde que li a maravilhosa peça Our Town, Thornton Wilder.
 
I let my skin get too thin
I’d like to pause,
No matter what I pretend
Like some pilgrim
Who learns to transcend
Learns to live
As if each step was the end

Notas de sexta: Lana, Corção, Footloose e dicas de leitura

Um single

Novo lançamento da Lana Del Rey, o single Mariners Apartment Complex. Como disse o Dionisius Amendola no twitter: melhor que todo o último disco dela.

Um livro que terminei

Volume I de Dois Amores, Duas Cidades. Cada vez mais convencido que um empreendimento fundamental para restauração da cultura no país é o resgate da obra completa de Gustavo Corção. Que o patrono de nossa educação seja Paulo Freire e não Corção já explica bem porque estamos nessa várzea toda. Neste primeiro volume, Corção trata da antiguidade e a da Idade Cristã, também chamada de Idade Média. Seu enfoque é a filosofia e cultura de cada época, associando pensamento com realizações. Coisa fina.

Um Filme

Esta semana revi um dos melhores filmes dos anos 80, Footloose. Um filme que poderia ser um conjunto de estereótipos, mas foi extremamente feliz em suas nuances e tom certo para contar a estória. Meu review aqui.

Dicas de leitura

Comecei uma série de dicas de leitura na minha página no facebook (@Paideia). Aos poucos vou replicando aqui no blog.

Um trecho de música

“Tough times demand tough talk

Demand tough hearts demand tough songs”

(Rush, Force Ten)

Footloose: celebração da liberdade de escolher

Esse fim de semana revi um dos filmes da minha adolescência, Footloose. Aproveitei para apresentar à minha filha.

O filme poderia facilmente ter caído nos esteriótipos. Um pastor intolerante, a mocinha rebelde, o garoto que vem de fora ensinar os caipiras. Felizmente foi na direção oposta.

O pastor é mostrado com sensibilidade, como um homem que ama sua família e sua comunidade, e justamente por causa deste amor passa do ponto. Ele comete um dos maiores pecados para alguém em sua posição: ele retira o livre arbítrio das pessoas.

É a grande tentação totalitária. Para que as pessoas não pequem, ele as impede de pecar. Ele constrói uma rede de proteção sobre toda a cidade. O símbolo dessa rede é a proibição de festas e danças.

Além de ser uma violência contra a liberdade, na prática é inútil e perigoso. Ariel, a filha, comete um ato de absoluta irresponsabilidade no início do filme que choca até suas colegas. Aos poucos descobrirmos algo de suicida na menina. Provavelmente terminaria morta em algum acidente, que encobriria sua irresponsabilidade.

O pastor, interpretado brilhantemente por John Lithgow, não é um vilão. Não quer poder e controle; quer apenas que não aconteça com os outros o que aconteceu ao próprio filho. É paciente, bondoso. Mas está perdendo a batalha que não tem como vencer, a batalha pelas almas da cidade.

No fundo, ele quer desfazer a lei divina. Por algum motivo, Deus nos quis livre, inclusive para negá-Lo. Se o próprio Senhor nos deixou livre para pecarmos, como pode um pastor querer nos limitar desta forma?

O ser humano tem sua natureza pervertida pelo pecado original. Tem a tendência ao pecado, mas também tem a graça para ajudá-lo a ser bom. O pastor quer ser a própria graça divina, e isso é impossível.

Felizmente ele entende a tempo que precisa confiar, que a liberdade é um bem preciosos demais porque é base para a própria alegria. Sem liberdade somos taciturnos, tristes, incapazes de amar.

Footloose é um grande filme. Em muitos aspectos. Um deles é nos mostrar o problema de retirar a liberdade, mesmo que seja para seu bem _ ou especialmente se for para o seu bem. Nascemos para sermos livres e a tentação de nos proteger de nós mesmos viola profundamente nossa natureza.

Dica de leitura 1

Quando terminar um livro, tente escrever um parágrafo descrevendo-o. Não mais que isso. Umas 3 ou 4 frases.

Se não conseguir, sinal que não entendeu. Se o livro for importante para você, leia novamente, reflita mais.

Se capaz de entender a essência de uma leitura é o grande teste de compreensão. Como já disse um grande escritor (não lembro quem): queria escrever um livro menor, mas não tive tempo.

Você só é capaz de sintetizar o que entende. Buscar a síntese te força a entender o texto.

Violência se combate com educação?

Quando se fala de violência, a esquerda sempre fala que a solução é educação. Trata-se de uma palavra de ordem, que usam para evitar ter que encarar a parte difícil da questão. Afinal, quem seria contra a educação como solução para alguma coisa?

Bem, a Alemanha da década de 30 era muito bem educada, mais do que todos os outros países europeus e no entanto abraçaram com gosto a violência como arma política.

Mas nem vou entrar nesse mérito. Não vou tratar que educar é um verbo transitivo direto. Que mais importante que educar é saber o que será ensinado.

Até acredito que a educação, em sentido geral, e não apenas de escola, seja um bom instrumento para EVITAR a criminalidade. Embora ache que muito mais que a educação, a família é o principal instrumento para evitar que um sujeito se torne criminoso.

Mas defender família não é exatamente o negócio da esquerda.

Seja como for, existem vários fatores que acredito serem importantes como prevenção ao crime: educação, emprego, família. Nenhum é infalível, afinal até na Noruega tem criminosos. Mas tudo isso é importante para prevenir. Depois que a doença se instala, não adiantam as famílias.

Contra criminosos armados, que não ligam para a vida humana, capazes de tudo por tão pouco, não adianta a aula de capoeira. Contra a violência, apenas a violência da força armada do estado, que detém o monopólio do uso coletivo da força.

Responder, em debate eleitoral, que a solução para 70 mil assassinatos por ano é educação é enganar a população. Soluções preventivas podem evitar que se formem criminosos, mas pouco podem fazer com os atuais.

Para estes, só prisão e condenação resolvem.

A importância da releitura

Acho que foi numa crônica do Millor que li que a verdadeira arte da leitura é a releitura. O difícil é resistir a atração de um livro novo por algum que já leu, mas aos poucos vou melhorando.

Dos 60 livros que li este ano, 15 foram releituras. Há livros como Orgulho e Preconceito que já li umas 5. Atualmente estou relendo, creio que pela terceira vez, O Homem do Terno Marrom, da Agatha Christie. Reli, este ano, O Senhor dos Anéis, Confissões do Santo Agostinho (primeira parte), Hamlet, Otelo entre outros.

Acho que você só conhece realmente um livro quando o lê novamente. A primeira é uma apresentação; depois vem o namoro.

Quero chegar no ponto de passar metade do meu tempo de leitura relendo. Talvez já para o ano que vem.

Possivelmente haverá um dia que praticamente só vou reler.

A releitura é o verdadeiro teste se um livro vale a pena. E seu ato de amor para ele.