Uma tragédia como a que aconteceu no Museu Nacional não acontece por um único fator; o que não quer dizer que não se possam responsabilizar os culpados. Nas notas abaixo, aponto alguma causas, remotas ou imediatas, sem ordem de importância.
- Alguns dizem para não politicar o que aconteceu, que é o mesmo que deixar de responsabilizar os culpados. A administração do Museu estava e está nas mãos de políticos. Devem sim ser responsabilizados.
- Também não adianta ir longe do problema. O dinheiro para manter as instalações do museu existia e estava nas mãos da UFRJ, cujo reitor atual é funcionário do PSOL, com vários companheiros de extrema esquerda nas diretorias. Ao que parece a preocupação desta turma era a agenda progressista e não preservação de patrimônio histórico.
- Todo mundo lembrando do Ministério da Cultura, mas desta vez o dono do problema era o Ministério da Educação. Mesmo assim, o Ministro não pode muito pois as universidades tem, por lei, a tal autonomia para definir suas prioridades e gastar seus recursos como achar melhor.
- Daí vem grande parte da responsabilidade do reitor _ este mesmo que culpou os bombeiros. Se ele tem autonomia para escolher, tem que ser responsabilizado por suas escolhas. Nenhum gestor tem dinheiro para fazer tudo que quer ou precisa; sempre é preciso priorizar. Quais foram as prioridades do militante do PSOL? É desta análise que deve ser responsabilizado.
- Falam do teto de Temer. Besteira. Essa conversa vem da falsa idéia de economistas de esquerda, e que caiu como doce nos ouvidos dos políticos, que todo gasto público pelo governo é bom para a economia e para a sociedade. As esquerda acha que dinheiro público não tem fim, que a simples análise do gasto, sem comparar com receitas e outras alternativas, é justificativa suficiente. O bom senso ensina que primeiro, deve-se perguntar se tem o dinheiro; depois, se determinado gasto é o melhor para este dinheiro comparando com as outras alternativas. A manutenção do museu custava praticamente o mesmo que a produção de um livro de fotos do Chico Buarque. Não tendo dinheiro para os dois, em que empregar? Está é a pergunta de ouro que deve julgar os gestores.
- Canecão. Este é o símbolo da competência da UFRJ na administração de um patrimônio. Décadas brigando na justiça pelo direito de transformar uma casa de shows em ruína.
- Sobra hipocrisia na hora de falar do descaso com a cultura. Eu mesmo nunca visitei o museu, mesmo tendo morado anos na cidade. Não vou tentar uma justificativa; é uma vergonha de minha parte. Talvez por isso eu tenha um pouco mais de cuidado ao apontar o dedo para os outros. O descaso existe, mas poucos podem ter consciência limpa nesse ponto. Especialmente os jornalistas, todos cheio de dedos apontando culpados.
- A esquerda quer sempre aparecer como defensora da cultura, mas temos que lembrar que nossa esquerda é gramsciana, mesmo que poucos deles saibam. Eles acham que a cultura é um instrumento de poder. Uma exposição do queer museu é muito mais importante como instrumento que um museu de história natural. Nesse aspecto, o reitor seguiu a doutrina que seu partido segue.
- Colocamos milhares de cargos da administração pública nas mãos de políticos. Ainda não caiu a ficha na maioria do tamanho desta tragédia. Mesmo que fossem todos honestos, o que estão longe de ser, seria uma desgraça pelo completo despreparo para a função. Políticos são para cargos políticos, ou seja, para cargos de decisão no nível político. Ministro da Saúde pode ser político; diretor de Hospital, não. Ministro da Educação pode ser político. Reitor de universidade, de jeito nenhum.
- A tragédia é simbólica por diversas perspectivas. Podemos chamar o museu nacional cultura brasileira e o incêndio de Antonio Gramsci. É bem fiel ao que aconteceu no Brasil desde os anos 60.