Notas sobre a tragédia do Museu Nacional

Uma tragédia como a que aconteceu no Museu Nacional não acontece por um único fator; o que não quer dizer que não se possam responsabilizar os culpados. Nas notas abaixo, aponto alguma causas, remotas ou imediatas, sem ordem de importância.

  1. Alguns dizem para não politicar o que aconteceu, que é o mesmo que deixar de responsabilizar os culpados. A administração do Museu estava e está nas mãos de políticos. Devem sim ser responsabilizados.
  2. Também não adianta ir longe do problema. O dinheiro para manter as instalações do museu existia e estava nas mãos da UFRJ, cujo reitor atual é funcionário do PSOL, com vários companheiros de extrema esquerda nas diretorias. Ao que parece a preocupação desta turma era a agenda progressista e não preservação de patrimônio histórico.
  3. Todo mundo lembrando do Ministério da Cultura, mas desta vez o dono do problema era o Ministério da Educação. Mesmo assim, o Ministro não pode muito pois as universidades tem, por lei, a tal autonomia para definir suas prioridades e gastar seus recursos como achar melhor.
  4. Daí vem grande parte da responsabilidade do reitor _ este mesmo que culpou os bombeiros. Se ele tem autonomia para escolher, tem que ser responsabilizado por suas escolhas. Nenhum gestor tem dinheiro para fazer tudo que quer ou precisa; sempre é preciso priorizar. Quais foram as prioridades do militante do PSOL? É desta análise que deve ser responsabilizado.
  5. Falam do teto de Temer. Besteira. Essa conversa vem da falsa idéia de economistas de esquerda, e que caiu como doce nos ouvidos dos políticos, que todo gasto público pelo governo é bom para a economia e para a sociedade. As esquerda acha que dinheiro público não tem fim, que a simples análise do gasto, sem comparar com receitas e outras alternativas, é justificativa suficiente. O bom senso ensina que primeiro, deve-se perguntar se tem o dinheiro; depois, se determinado gasto é o melhor para este dinheiro comparando com as outras alternativas. A manutenção do museu custava praticamente o mesmo que a produção de um livro de fotos do Chico Buarque. Não tendo dinheiro para os dois, em que empregar? Está é a pergunta de ouro que deve julgar os gestores.
  6. Canecão. Este é o símbolo da competência da UFRJ na administração de um patrimônio. Décadas brigando na justiça pelo direito de transformar uma casa de shows em ruína.
  7. Sobra hipocrisia na hora de falar do descaso com a cultura. Eu mesmo nunca visitei o museu, mesmo tendo morado anos na cidade. Não vou tentar uma justificativa; é uma vergonha de minha parte. Talvez por isso eu tenha um pouco mais de cuidado ao apontar o dedo para os outros. O descaso existe, mas poucos podem ter consciência limpa nesse ponto. Especialmente os jornalistas, todos cheio de dedos apontando culpados.
  8. A esquerda quer sempre aparecer como defensora da cultura, mas temos que lembrar que nossa esquerda é gramsciana, mesmo que poucos deles saibam. Eles acham que a cultura é um instrumento de poder. Uma exposição do queer museu é muito mais importante como instrumento que um museu de história natural. Nesse aspecto, o reitor seguiu a doutrina que seu partido segue.
  9. Colocamos milhares de cargos da administração pública nas mãos de políticos. Ainda não caiu a ficha na maioria do tamanho desta tragédia. Mesmo que fossem todos honestos, o que estão longe de ser, seria uma desgraça pelo completo despreparo para a função. Políticos são para cargos políticos, ou seja, para cargos de decisão no nível político. Ministro da Saúde pode ser político; diretor de Hospital, não. Ministro da Educação pode ser político. Reitor de universidade, de jeito nenhum.
  10. A tragédia é simbólica por diversas perspectivas. Podemos chamar o museu nacional cultura brasileira e o incêndio de Antonio Gramsci. É bem fiel ao que aconteceu no Brasil desde os anos 60.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *