Terminei de ler A Mente Naufragada. Algumas notas:
- O autor parte da idéia de reacionário, que seria aquele que tem uma utopia no passado. Ou seja, enquanto o revolucionário deseja criar uma utopia, o reacionário acha que ela já existiu e depois o mundo se desviou do caminho.
- Por isso ele age como um náufrago, que navega em um rio vendo destroços do navio que é a própria civilização destruída.
- Ou seja, para o reacionário vivemos em uma época de decadência pois em algum momento cometeu-se um grande erro e a civilização, pelo menos a ocidental, se desviou de seu rumo.
- Inicialmente ele analisa três autores que apesar de não serem reacionários, tiveram sua idéias assimiladas por correntes reacionárias, oriundas da direita conservadora americana.
- Apesar de abundarem estudos sobre a mentalidade revolucionária, faltariam estudos sobre a mentalidade reacionária, ou seja, da mente naufragada. Lilla se propõe a estimular estes estudos.
- Acho que o maior talento do Lilla é de resumidor de livros. Praticamente ele passa do resumo de um livro para outro, com alguns comentários seus.
- No fim, ele conclui, sem dar nenhuma evidência, que o maior perigo hoje são os grupos reacionários, meio que deixando entender que a mentalidade revolucionária está em completa decadência. E que, inclusive, grupos de esquerda, desiludidos com o fracasso do socialismo, estão repaginando idéias reacionárias para manter os movimentos vivos.
- O livro tem pequenos estudos interessantes, como o feito sobre São Paulo que o coloca dentro de uma tradição revolucionária, sendo uma espécie de Lenin para Jesus (Marx). Felizmente Lilla discorda desta visão, apenas aponta como um exemplo da esquerda utilizando um mito da tradição para criar um mito próprio.
- Ele critica a utilização do passado, e da criação de mitos do passado, para justificar um projeto de futuro, mesmo que seja para restaurar um passado que nunca existiu, como é o caso do reacionário.
- O problema é que levando ao limite, qualquer coisa boa que já tenha existido no passado e seja referenciada como algo perdido, seria classificado por Lilla como mentalidade reacionária. E essas coisas existem! Nem tudo é mito e invenção para justificar projeto de poder.
- Sobre a mentalidade reacionária em si, João Pereira Coutinho já tinha chamado atenção para o problema em seu livro sobre o conservadorismo.