Justiça, política e realidade

Toda meditação sobre política deveria começar por uma meditação sobre justiça, já alertava Platão na República. É curioso que quase todo mundo pensa neste livro como um livro de política quando na verdade ele usa a meditação sobre a justiça como uma aplicação do método filosófico. O diálogo começa com um ancião, homem público de sucesso, pensando sobre a morte que se aproxima. Alguém diz a ele que o importante é ter vivido com justiça e ele se pergunta: mas o que é justiça?

Corte para os tempos atuais. Desde Maquiavel que aos poucos as sociedades foram se convencendo que a política independia de justiça. Seu propósito era pragmático; o importante era a coisa funcionar. Em cada eleição, as pessoas se perguntam se tal coisa vai funcionar ou não, mas pouco gente se pergunta se é justo. Sim, a esquerda usa o termo justiça social para tudo, mas é mais uma palavra de ordem para evocar sentimentos e justificar qualquer ação do que um conceito que tenha algo a ver com a realidade. Além do mais, sua visão é parcial. Ela vê alguém recebendo um benefício e chama isso de justiça, mas pouca consideração faz com quem está provendo o benefício (uma dica, não é o estado ou o governo).

Mas afinal, o que é justiça? Grandes filósofos se dedicaram ao tem, pelo menos até o fim da Idade Média. Na modernidade, a questão foi colocada em segundo plano. Para a corrente marxista, nem tem sentido, pois justiça seria um conceito burguês. Que as maiores meditações sobre o tema se encontrem antes do surgimento da burguesia é apenas um detalhe.

santo-agostinhoEnfim, fiz este texto para introduzir uma frase de Santo Agostinho que tem tudo a ver com o que penso:

Não existe justiça se é contra a realidade.

A aceitação _ o termo usado é importante _ da realidade é o primeiro passo para se pensar em justiça.

Termino com outro pensamento de Agostinho, este um tanto mais famoso:

Perdida a justiça, um reino nada mais é que um grande roubo.

Um pensamento sobre “Justiça, política e realidade

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