Notas de Sexta: Rush, Brideshead, História e Paulo Guedes

Disco que estou revisitando

Signals(1982), do Rush. O desafio de lançar um disco depois do magistral Moving Pictures era gigante, assim como a expectativa. O Rush evitou a comparação ao lançar um album diferente, com uma influência crescente dos sintetizadores e, de certa forma, mais leve, com menos pretensão. O disco é bom e ainda considero Subdivisions uma das grandes canções do grupo.

Um livro que estou relendo

Bridesread Revisted, do Evelyn Waugh. Interessante a quantidade de coisas que não percebi na primeira leitura, dez anos atrás. Esqueçam o filme da BBC com a Emma Thompson, que retira da estória sua força mais viva: o cristianismo. Este é um dos livros que prova a tese que escutei esta semana do Sidney Silveira: a literatura católica é uma literatura superior a tudo mais.

Um conceito

Em Dois Amores, Duas Cidades, Gustavo Corção apresenta um conceito do historiador Henri Marrou de que a história é o conhecimento do passado humano. Parece trivial, mas não é. Dizer que a história é estudo dos fatos, do passado humano como sociedade, etc, é limitar ou desvirtuar a principal função da história: entender o ser humano.

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Um perfil no facebook

O Facebook está cada vez mais como uma rede de controle nas mãos dos progressistas, o que é uma lástima, mas tem gente produzindo bom conteúdo também. Recomendo o perfil do Ícaro de Carvalho (icaro.decarvalho.7). Ele trata de questões de empreendedorismo, economia e um pouco de política. Sempre com boas sacadas.

Um pensamento

“Living in the pools
They soon forget about the sea”
(Rush, Natural Science)

BONUS

A entrevista do Paulo Guedes na Globonews. Uma aula do que aconteceu no Brasil nas últimas décadas. Não deixem de assistir.

Santo Agostinho, uma breve palavra

Hoje é dia de Santo Agostinho, um dos gigantes do catolicismo. Na minha opinião, um dos cinco maiores filósofos que a humanidade produziu.

Depois dele, só surgiu mais um no mesmo nível.

O grande pensador que escreveu na transição da Idade Pagã para a Idade Cristã.

Foi um dos presentes que Deus nos deu.

O que é contra a verdade não pode ser justo.

De Volta para o Futuro

Terminei ontem de rever a trilogia De Volta para o Futuro, a segunda melhor do cinema. Sério, é perfeita. Entretenimento feito com esmero, sem ofender a inteligência do espectador. Eu tinha uma imagem da adolescência que a parte III era inferior aos outros dois; besteira, fecha com chave de ouro e conclui a grande lição que Marty McFly aprende a duras penas: não se pode viver preocupado com o que vão achar de você. Querem te chamar de covarde? O problema é de quem chama. Como ele sabiamente conclui: ele é um idiota! Quem importa com o que diz um idiota?

No fundo, a trilogia é uma meditação sobre como fatos aparentemente sem importância, que não damos valor na hora, afetam significativamente nosso futuro. Temos que ter atenção no que realmente importa e ajudar-nos uns aos outros, caso contrário corremos o sério risco de crescermos ressentidos e infelizes, sendo apenas um rascunho do que poderíamos ser. É um filme sobre o potencial das pessoas, que muitas vezes permanece irrealizado, sem transformar-se em ato.

Robert Zemeckis nos brindou com um cinema de aventura de primeira grandeza, lembrando que entretenimento também pode ser arte.

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Colégio Militar: desfazendo mitos

Já que o assunto é Colégio Militar, alguns pontos que gostaria de ressaltar:

1. O Colégio Militar do Exército é diferente dos Colégios Militarizados e de Colégios Militares de Forças auxiliares (Bombeiros e Polícia). A recente matéria do Estadão criticando os custos dos CM trata do modelo adotado no Exército.

2. O pessoal está aceitando o cálculo do custo do aluno do Estadão sem discutir. Esse negócio de calcular custo de aluno e comparar é complicadíssimo. Pode até estar certo, mas a experiência recente mostra que ninguém é menos confiável hoje que o jornalismo tradicional, especialmente quando querem provar uma tese. A matéria do Estadão não diz como foi calculado este custo, simplesmente o joga como dado da realidade. Estranho a parte que diz que o aluno do CM é de renda considerada muito alta. Isso é mentira e basta calcular a renda média familiar nos colégios. A própria matéria diz que a maioria dos alunos são filhos de militares. Desconheço salário de militar que possa ser considerado muito alto. Outra afirmativa distorcida é de que há professores que ganham mais de 10 mil por mês. Provavelmente estão falando de professores militares, que não estão no colégio apenas para dar aula. Eles cumprem expediente, missões administrativas e militares, tem regime de dedicação integral, tudo como os demais militares. Lançar este salário como salário de professor é má fé. Aliás, dez mil por mês só ganha o coronel comandante do colégio. E na risca. Ou seja, pode até ser que o custo do aluno em um Colégio Militar seja superior ao da rede pública, mas não confio na imprensa para apresentar esta comparação.

3. O Colégio Militar do Exército foi criado, e ainda permanece em seu estatuto, até onde eu sei, como um colégio com propósito assistencial para a família do militar. Não podemos perder isso de vista. Ele visa reparar o mal que as constantes transferências causam para a família dos militares que têm o ensino dos filhos descontinuados. Foi assim que estudei 11 anos em 12 colégios diferentes. Os 7 anos dos colégios militares procuram pelo menos reparar esta descontinuidade.

4. Os colégios se situam em grandes cidades, onde o custo de vida para os militares, especialmente praças, é elevado.

5. Eu não sei a proporção, mas uma grande quantidade de alunos são filhos de sargentos. Há críticas que são escolas elitistas. Onde pode ser elitista uma escola que grande proporção dos alunos, talvez até a maioria, é de família de pessoas de nível técnico? Pegando um segundo sargento como média, estamos falando de renda familiar na casa dos 5 mil reais ao longo da carreira. Sim, porque na maior parte dos casos a renda do militar é a renda da família pois as constantes transferências fazem um estrago na vida do conjugue, seja homem ou mulher.

6. Em vez de ficar marretando, devia-se estudar o motivo que levam um aluno do Colégio Militar a ter um desempenho bom quando comparado ao restante do país. Particularmente acredito que este motivo não esteja no fato do colégio ser militar, pelo menos não diretamente. O que conta mais é o fato de existir uma organização para o ensino (diretores de escola deveriam visitar uma seção técnica de um CM para entender o que é planejamento de ensino) e uma preocupação dos diretores de ensino de impedirem a ideologia em sala de aula. Não é fácil. Muitos professores fazem isso na surdina, aproveitando o momento que estão sozinhos em sala, mas a defesa é muito maior que um colégio particular ou da rede pública. É difícil passar determinados livros pelo crivo, como aqueles que exaltam Fidel Castro como exemplo de liderança e democracia, e boa parte dos professores são militares, que tem pelo menos uma cultura anti-ideológica por formação. Também há uma preocupação muito grande de evitar-se os modismos pedagógicos no processo de ensino. Lembro de um colégio no Rio de Janeiro que estava alfabetizando minha filha usando o método Paulo Freire de alfabetização para adultos. Isso não aconteceria num CM. Aliás, Paulo Freire nos CM não é referência, o que já explica muita coisa.

7. Além disso, existe um sistema de valorização do bom aluno, que ostenta símbolos em seus uniformes que o destacam, servindo de exemplo para os demais e quebrando aquela cultura nefasta de se exaltar o mal aluno. Ou seja, procura-se mostrar que o esforço gera resultados e que o mérito é algo positivo. Há uma seção de orientação educacional que procura auxiliar o aluno com dificuldades. Não é perfeito, pois muitos destes colégios estão no limite de suas capacidades, mas existe uma direção geral correta.

8. Se o pessoal acha que aluno de CM é cordeirinho, que fica comportado em sala e não tem iniciativa, estão muito enganados. São crianças como qualquer outra. Fazem bagunça, tentam ser rebeldes, exageram muitas vezes, mas são repreendidos quando se comportam mal, são ensinados a respeitar os professores, inclusive no tratamento pessoal. São questionadores também. Eles não são militares, apenas estudam em um colégio militar. Estão muito mais próximos do modelo ginasial das escolas brasileiras dos anos 60, com inspetor de turma, de corredor, culto ao símbolos nacionais, do que com um quartel. A ordem no colégio se manifesta principalmente pelo cumprimento do horário, presença em sala, coibição de cola, do que pela imagem que se faz de um monte de criança robotizada imóvel em forma. Isso não existe. Aluno do CM entra em forma, mas se mexe o tempo todo (e ainda bem!). Quem quiser ser militar vai ter bastante tempo para ficar imóvel durante a vida.

9. Independente do comportamento, é interessante que praticamente todo aluno tem um orgulho enorme de pertencer ao Colégio. O aluno pode ser um bagunceiro, reclamar de tudo, mas tente falar mal do Colégio para ele. Vai defendê-lo com unhas e dentes. Para isso creio que contribui muito o ambiente limpo, bem cuidado, sem pichações e a arquitetura em geral tradicional, com formas esteticamente bonitas. Visitem os Colégios Militares mais antigos e terão uma boa surpresa.

10. Enfim, não pensem que um colégio militar é um ambiente repressivo ao aluno, que existe castigo físico e etc. Não tem nada disso. Só que tem organização, disciplina, ordem, planejamento e bom disposição de realmente funcionar como escola e não como laboratório de experiências esdrúxulas e fábrica de formação de idiotas úteis.

Revolta Macabeu: ensinamentos

Depois da morte de Alexandre, seu Império foi repartido por seus generais. A Palestina ficou com o general Ptolomeu, que governou o Egito. De início, houve uma helenização na região, mas de forma tolerante, sem imposição. Com o tempo, novas força tomaram o poder e tentaram impor a apostasia ao povo judeu na Palestina. Tentaram obrigá-los a adorar deuses pagãos, comer carne de porco e outras medidas.

Uma parte cooperou e aceitou as imposições. Mas duas formas de reação se colocaram.

A primeira foi a da revolta. A partir de Matatias Macabeu e seus filhos, um grupo de judeus passou a enfrentar com violência os dominadores. Depois de 300 anos de revolta, período que procuraram uma aliança com Roma, a coisa acabou com a ocupação romana com Pompeu em 63 A. C. No fim, a revolta gerou uma classe dirigente na Judéia que era em muito semelhante aos inimigos que enfrentaram no começo. Ou seja, o revolucionário, por maior que sejam seus méritos, acaba se tornando o que combate.

A segunda forma de reação foi a do martírio. O segundo livro de Macabeus narra dois episódios significativos. O primeiro, do ancião Eleazar, que recusa-se a comer carne de porco, mesmo depois que os sacerdotes o avisam que vão trocar a carne na hora certa para evitar que ele faça a apostasia. Mas ele pergunta: mas todos vão achar que comi. Que exemplo estarei dando para os jovens? Recusa-se a participar da farsa e é executado. O segundo exemplo é da mulher e seus sete filhos, que são todos executados por se recusarem a cometer apostasia. Os discursos dos filhos alertam que é preferível perder a vida e ganhar a eternidade do que ser infiel ao Senhor. Lembram também que tudo aquilo estava acontecendo porque Israel não tinha sido fiel. Eles prefiguram o supremo sacrifício que virá com o Cristo. A própria mãe dos sete é uma figura mariana, que sofre com a morte dos filhos mas confia que estão fazendo o certo aos olhos do Senhor.

Estes dois livros não existem na versão evangélica; são próprios do catolicismo.


Fonte: Tim Gray e Jeff Cavins. Walking With God. Capítulo 10

Música de fundo: Pirates, Emerson Lake and Palmer

CDs: duração foi um estrago

Um problema que o CD criou para a indústria musical foi seu tamanho. De uma hora para outra se passou de um LP de 45 minutos para um CD de 70 minutos. Foi ruim para os artistas que trabalhavam o conceito de album, que pensavam a composição do disco inteiro; mas para os artistas de hits é que foi um verdadeiro desastre.

Sim, pois existe em geral dois tipos de artistas. Existem aquele que pensam em albuns e aqueles que pensam em hits. Os primeiros buscam um trabalho coeso, que tenha boas músicas em todo disco. Não quer dizer que não tenha hits, mas o restante mantém o nível do disco. Pensem no Revolver dos Beatles ou The Number of the Beast do Iron Maiden. Os dois possuem hits, mas o restante do disco é de mesmo nível.

Pois estes artistas de uma hora ao invés de compor 45 minutos de músicas tiveram que passar a compor 70 minutos. Ou seja, muita coisa que ficaria como extra, passaram a compor o disco. O resultado, em geral, era bem irregular. Era como se a banda tivesse que lançar todos os seus albuns como duplos, o que se fazia uma vez ou outra. O disco do Iron Maiden Fear of the Dark é um bom exemplo. Eu cortaria quase metade do disco e ele passaria de um trabalho bom para excelente. (Polêmica: acho o disco mais fraco da banda).

Mas se a duração do CD foi ruim para a banda que pensava o album, para os artistas que pensavam hits, foi um desastre. O que significa pensar hit? O artista se esforça mesmo é para fazer 2 ou 3 hits. O restante do disco é de fillers, ou seja, preenchimento. É canção bem meia boca apenas para ocupar o espaço. O que vai puxar as vendas é o hit. Se antes eles compunham umas 6 canções meia boca, agora tinham 10. Tem que ser muito fã para escutar um CD inteiro de um artista que só busca os hits. Um exemplo é o disco 1987 do Whitesnake, campeão de vendas. Ali tava na cara que Coverdale queria 2 ou 3 hits para conquistar o mercado e deu. Isso porque o disco ainda foi na época do LP. Com o CD veio coisa bem pior, com muito mais música para ocupar espaço. Adoro Whitesnake, mas como album sou muito mais um Come And Get It (1981), sem hits mas um album coeso.

Pensando bem, acho que vou formas umas listas no spotify de CDs limitados a 45 minutos, tentando imaginar como ficaria o album.

Exemplo: Fear of the Dark (Iron Maiden)

Lado A

1. Be Quick or Be Dead

2. From Here to Eternity

3. Afraid to Shoot Stranger

4. Wasting Love

Lado B

1. The Fugitive

2. Chains of Misery

3. Weekend Warrior

4. Fear of the Dark

Notas de Sexta: censura, Angel Dust, Borges e Pascal

Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)

Uma preocupação — A perseguição promovida pelos gigantes da tecnologia contra conservadores ou anti-esquerdistas. Não tem nada a ver com o conteúdo do que eles falam, e sim de quem são. Podem pesquisar. Um progressista pode falar o que quiser na rede e não será molestado, inclusive ameaçar de morte. O que está acontecendo é muito grave. Se a internet se tornar fechada para o pensamento contrário à cultura individualista da pós-modernidade, voltaremos a ser tutelados pela mídia tradicional.

Um Disco que passou batido — Angel Dust, do Faith No More. Durante os anos 90 eu cometi o grave erro de desprezar todo disco que veio depois de uma obra prima. Assim, abandonei o Metallica depois do black album, Megadeth depois do Countdown, Nirvana e outros. O mesmo aconteceu com Faith No More. Depois do grande album The Real Thing, criei muita expectativa com o seguinte e, para variar, me frustrei. Por acaso escutei o Angel Dust esta semana e gostei muito da primeira audição. Como fui idiota!

Um conto — Reli El Imortal, conto de Jorge Luis Borges onde ele explora a vida de um militar romano que adquiriu imortalidade ao beber de um rio no Egito. Depois ele passa a vida inteira procurando o rio que teria o efeito oposto e retomar sua mortalidade. Sensacional.

Um livro que terminei
A Mente Naufragada, do Mark Lilla. Interessante, mas creio que criei uma expectativa exagerada com o livro.

Citação que estou meditando

“A justiça sem a força é impotente; a força sem a justiça é tirânica”.
Pascal, Pensamento 103

E aí, o que acharam? Deixem uma opinião nos comentários. Gostaria muito de saber algo interessante que anda fazendo. Aproveite este espaço!

Justiça, política e realidade

Toda meditação sobre política deveria começar por uma meditação sobre justiça, já alertava Platão na República. É curioso que quase todo mundo pensa neste livro como um livro de política quando na verdade ele usa a meditação sobre a justiça como uma aplicação do método filosófico. O diálogo começa com um ancião, homem público de sucesso, pensando sobre a morte que se aproxima. Alguém diz a ele que o importante é ter vivido com justiça e ele se pergunta: mas o que é justiça?

Corte para os tempos atuais. Desde Maquiavel que aos poucos as sociedades foram se convencendo que a política independia de justiça. Seu propósito era pragmático; o importante era a coisa funcionar. Em cada eleição, as pessoas se perguntam se tal coisa vai funcionar ou não, mas pouco gente se pergunta se é justo. Sim, a esquerda usa o termo justiça social para tudo, mas é mais uma palavra de ordem para evocar sentimentos e justificar qualquer ação do que um conceito que tenha algo a ver com a realidade. Além do mais, sua visão é parcial. Ela vê alguém recebendo um benefício e chama isso de justiça, mas pouca consideração faz com quem está provendo o benefício (uma dica, não é o estado ou o governo).

Mas afinal, o que é justiça? Grandes filósofos se dedicaram ao tem, pelo menos até o fim da Idade Média. Na modernidade, a questão foi colocada em segundo plano. Para a corrente marxista, nem tem sentido, pois justiça seria um conceito burguês. Que as maiores meditações sobre o tema se encontrem antes do surgimento da burguesia é apenas um detalhe.

santo-agostinhoEnfim, fiz este texto para introduzir uma frase de Santo Agostinho que tem tudo a ver com o que penso:

Não existe justiça se é contra a realidade.

A aceitação _ o termo usado é importante _ da realidade é o primeiro passo para se pensar em justiça.

Termino com outro pensamento de Agostinho, este um tanto mais famoso:

Perdida a justiça, um reino nada mais é que um grande roubo.