Mês: junho 2018
I, Tonya
Finalmente assisti o filme que conta a história de Tonya Harding, a patinadora americana que se envolveu em um atentado que resultou em quebrar o joelho de Nancy Kerrigan, sua rival.
Lembro dos acontecimentos na época, mas nunca me interessei muito nos detalhes. O filme é baseado em depoimentos dos envolvidos no que chamam de “incidente”: Tonya, o ex-marido Jeff, o amigo idiota Shawn, a mão dela e outros personagens mais secundários. Apesar de basear em depoimentos, ou talvez por causa disso, o filme deixa a dúvida na extensão do envolvimento de Tonya no episódio. O que resta claro é a responsabilidade de ter se envolvido com a figura abusiva de Jeff. Será sempre um mistério como muitas mulheres continuam em relacionamentos destrutivos como ela se permitiu, sempre na esperança que a pessoa vai mudar.
Um bom filme, que usa bem o recurso de misturara narração com os próprios atores simulando as entrevistas, o que confere um ar de realismo ao drama mostrado. Fiquei lembrando um periscope que vi com Scott Adams em que ele questiona a importância da família argumentando que basta um dos pais serem ruins para arruinar a vida de uma pessoa. É o que acontece com Tonya.
5 Bullets de Sexta!
Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)
O que estou lendo —
Na verdade, relendo. Confissões, de Santo Agostinho. Esta semana li o capítulo IX, em que ele narra a vida e morte da mãe, Santa Mônica. Só por esse capítulo ele merece figurar entre os melhores escritores de todos os tempos.
Quem estou seguindo no twitter —
Dionisius Amendola (@Dionisius). O criador do Bunker do Dio tem as melhores sacadas sobre cultura. Procurem no youtube, vão se surpreender. Especialmente se gostam de cultura pop.
Banda que estou “revisitando” —
Rory Gallagher. Meu guitarrista favorito. Album Against the Grain (1975)
Filme da semana —
To Have and Have Not (1944), do Howard Hawks. Um Casablanca melhorado (sim, isso mesmo que você leu).
Citação que estou meditando —
“O mundo, a ordem política, a civilização que está para cristalizar-se, dependem essencialmente, diretamente, do amor que tivermos. E não basta dizer do amor que tivermos para uso próprio em nossa vida particular; é preciso acrescentar: do amor que tivermos e soubermos projetar, e que assim venha a constituir o próprio tecido de um mundo novo que todos nós queremos menos egoísta e menos desumano.”
Gustavo Corção
E aí, o que acharam? Deixem um comentário e sugestões!
Tenho Algumas Coisas a Dizer
Encontrei hoje este impressionante relato no facebook. Como não o encontrei em página web, resolvi transcreve-lo aqui no blog. Boa leitura pois é realmente impressionante.
TENHO ALGUMAS COISAR A DIZER
Eu me lembro do momento exato em que soube que estávamos quebrados. Ainda consigo visualizar minha mãe na geladeira e o olhar no rosto dela.
Eu tinha seis anos de idade e cheguei de casa para almoçar durante o intervalo da escola. Minha mãe me dava a mesma coisa todos os dias: pão e leite. Quando você é uma criança, nem pensa sobre isso. Mas acho que era tudo que podíamos comprar.
Naquele dia, eu cheguei em casa e entrei na cozinha e vi minha mãe na geladeira com uma caixa de leite, como sempre. Mas, naquela vez, ela estava misturando algo. Ela estava balançando, sabe? Eu não entendi o que estava acontecendo. Ela me trouxe o almoço e estava sorrindo, como se tudo estivesse bem. Mas eu percebi na hora o que estava acontecendo.
Ela estava misturando água no leite. Não tínhamos dinheiro suficiente para o resto da semana. Estávamos quebrados. Não apenas pobres, mas quebrados.
Meu pai havia sido um jogador profissional de futebol, mas estava no fim da sua carreira e não havia mais dinheiro. A primeira coisa que perdemos foi a TV a cabo. Acabou o futebol. Acabou o Match of the Day (famoso programa esportivo britânico). Acabou o sinal.
Chegava em casa à noite e as luzes estavam apagadas. Sem eletricidade por duas, três semanas de uma vez.
Eu queria tomar banho, e não havia mais água quente. Minha mãe esquentava a chaleira no fogão, e eu ficava em pé no chuveiro jogando água quente na minha cabeça com um copo.
Houve ocasiões em que minha mãe precisava pedir pão “emprestado” da padaria no fim da rua. Os padeiros nos conheciam, eu e meu irmãozinho, então deixavam que ela pegasse uma fatia de pão na segunda-feira e pagar apenas na sexta.
Eu sabia que tínhamos problemas. Mas, quando ela estava misturando água no leite, eu percebi que já era, sabe? Essa era nossa vida.
Eu não disse uma palavra. Não queria estressá-la. Eu apenas comi meu almoço. Mas eu juro por Deus, eu fiz uma promessa a mim mesmo naquele dia. Era como se alguém tivesse estalado os dedos e me acordado. Eu sabia exatamente o que precisava fazer e o que iria fazer.
Eu não podia ver minha mãe vivendo daquele jeito. Não, não, não. Eu não aceitaria aquilo.
As pessoas no futebol amam falar sobre força mental. Bom, eu sou o cara mais forte que você vai conhecer. Porque eu me lembro de me sentar no escuro com meu irmão e minha mãe, rezando, e pensando, acreditando, sabendo… que um dia aconteceria.
Não contei minha promessa para ninguém por um tempo. Mas, alguns dias, eu chegava em casa da escola e encontrava minha mãe chorando. Então, eu finalmente a disse um dia: “Mãe, tudo vai mudar. Você vai ver. Eu vou jogar futebol pelo Anderlecht e vai acontecer rápido. Vamos ficar bem. Você não precisará mais se preocupar”.
Eu tinha seis anos.
Eu perguntei para o meu pai: “Quando eu posso começar a jogar futebol profissional?”
Ele disse: “Dezesseis anos”
Eu disse: “Ok, dezesseis anos, então”.
Aconteceria. Ponto final.
Deixa eu dizer uma coisa – todo jogo que eu já disputei foi uma final. Quando eu jogava no parque, era uma final. Quando eu jogava no recreio do jardim de infância, era uma final. Eu estou falando sério para caralho. Eu tentava rasgar a bola todas as vezes que eu chutava. Força total. Não estava chutando com o R1, brother. Não era chute colocado. Eu não tinha o novo Fifa. Eu não tinha um Playstation. Eu não estava brincando. Eu estava tentando te matar.
Quando eu comecei a ficar mais alto, alguns dos professores e pais começaram a me estressar. Eu nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi um dos adultos dizer: “Ei, quantos anos você tem? Que ano você nasceu?”
E eu fiquei, tipo, o quê? Tá falando sério?
Quando eu tinha 11 anos, eu jogava pela base do Lièrse, e um dos pais do outro time literalmente tentou me impedir de entrar no gramado. Ele disse: “Quantos anos tem essa criança? Onde está o documento dela? Da onde ela veio?”
Eu pensei: “Da onde eu vim? O quê? Eu nasci na Antuérpia. Eu vim da Bélgica”.
Meu pai não estava lá porque ele não tinha carro para me levar aos jogos for a de casa. Eu estava completamente sozinho e precisava me impor. Eu fui pegar meu documento, na minha mala, e mostrei para todos os pais, e eles o passaram de mão em mão, inspecionando, e eu lembro do sangue me subindo à cabeça… e pensei: “Oh, eu vou matar o seu filho mais ainda agora. Eu já ia matá-lo, mas, agora, eu vou destruí-lo. Você vai levar seu filho para casa chorando agora”.
Eu queria ser o melhor jogador de futebol da história da Bélgica. Era esse meu objetivo. Não apenas bom. Não apenas ótimo. O melhor. Eu jogava com muita raiva por causa de muitas coisas… por causa dos ratos que viviam no nosso apartamento…. porque eu não podia assistir à Champions League… pela maneira como os outros pais olhavam para mim.
Eu estava em uma missão.
Quando eu tinha 12 anos, eu marquei 76 gols em 34 partidas.
Eu marquei todos eles usando as chuteiras do meu pai. Quando nossos pés ficaram do mesmo tamanho, nós as compartilhávamos.
Um dia, eu liguei para o meu avô – o pai da minha mãe. Ele era uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ele era minha conexão com a República Democrática do Congo, da onde minha mãe e meu pai vieram. Então, eu estava no telefone com ele um dia, e eu disse: “Estou indo bem. Eu fiz 76 gols e ganhamos a liga. Os grandes times estão começando a me notar”.
E geralmente ele queria ouvir sobre os meus jogos. Mas, naquela vez, estava estranho. Ele disse: “Yeah, Rom, yeah, isso é ótimo. Mas você pode me fazer um favor?”
Eu disse: “Sim, qual?”
Ele disse: “Você pode cuidar da minha filha, por favor?”
Eu me lembro de ter ficado confuso. Sobre o que o vovô estava falando?
Eu disse: “A mamãe? Sim, estamos bem. Estamos ok”.
Ele disse: “Não. Você tem que me prometer. Você pode me prometer? Cuide da minha filha. Apenas cuide dela para mim. Ok?”
Eu disse: “Sim, vovô. Entendi. Eu prometo”.
Cinco dias depois, ele morreu. E, então, eu entendi o que ele queria dizer.
Eu fico muito triste pensando nisso porque eu gostaria que ele tivesse ficado vivo mais quatro anos para me ver jogar pelo Anderlecht. Para ver que eu cumpri minha promessa, sabe? Para ver que tudo ficaria bem.
Eu disse para minha mãe que eu conseguiria chegar lá quando tivesse 16 anos.
Eu errei por 11 dias.
24 de maio de 2009. A final do playoff. Anderlecht versus Standard Liège.
Aquele foi o dia mais doido da minha vida. Mas precisamos retroceder um pouco. Porque no começo da temporada, eu mal estava jogando pelo sub-19 do Anderlecht. O treinador me colocou na reserva. E eu pensava: “Como vou conseguir um contrato profissional no meu 16º aniversário se ainda estou no banco pelo sub-19?”.
Então, fiz uma aposta com o treinador. Eu disse para ele: “Eu garanto algo a você. Se você me colocar para jogar, eu vou fazer 25 gols até dezembro”.
Ele riu. Ele literalmente riu da minha cara.
Eu disse: “Vamos fazer uma aposta”.
Ele disse: “Ok, mas se você não fizer 25 gols até dezembro, você vai para o banco de reservas”.
Eu disse: “Certo, mas, se eu vencer, você vai limpar todas as minivans que levam os jogadores para casa depois do treino”.
Ele disse: “Ok, fechado”.
Eu disse: “E mais uma coisa. Você tem que fazer panqueca para nós todos os dias”.
Ele disse: “Ok, certo”.
Foi a aposta mais estúpida que o homem já fez.
Eu tinha 25 gols em novembro. Estávamos comendo panqueca antes do Natal, bro.
Que sirva de lição. Você não mexe com um garoto que está com fome.
Eu assinei contrato professional com o Anderlecht no meu aniversário, 13 de maio. Fui direto comprar o novo Fifa e um pacote de TV a cabo. Já era o fim da temporada, então estava em casa relaxando. Mas a liga belga estava doida naquele ano, porque Anderlecht e Standard Liège terminaram empatados em pontos. Então, haveria um playoff de duas partidas para decidir o título.
Durante o jogo de ida, eu estava em casa assistindo à TV como um torcedor.
Então, no dia anterior ao jogo de volta, eu recebi uma ligação do técnico dos reservas.
– Alô?
– Alô, Rom. O que você está fazendo?
– Saindo para jogar bola no parque.
– Não, não, não, não, não. Faça suas malas. Agora mesmo.
– Por quê? O que eu fiz?.
– Não, não, não. Você precisa sair para o estádio agora. O time principal pediu por você.
– Yo….o quê? Eu?!
– Sim. Você. Venha. Agora.
Eu literalmente corri para o quarto do meu pai. “YO! Levanta, porra. Precisamos correr, cara!”.
– Huh? O quê? Pra onde?
– ANDERLECHT, CARA!
Eu nunca vou esquecer. Eu cheguei ao estádio e praticamente corri para o vestiário. O roupeiro disse: “Ok, garoto, que número você quer?”.
E eu disse: “Me dá a 10”.
Hahahahahaha sei lá, eu era muito jovem para ter medo, acho.
E ele: “Jogadores da base usam números acima do 30”.
Eu disse: “Ok, bem, três mais seis é igual a nove, e esse é um número legal, então me dá a 36”.
Naquela noite, no hotel, os jogadores adultos me fizeram cantar uma música para eles no jantar. Eu nem me lembro qual escolhi. Minha cabeça estava girando.
Na manhã seguinte, meu amigo literalmente bateu na porta da minha casa para ver se eu queria jogar futebol e minha mãe disse: “Ele saiu para jogar”.
Meu amigo: “Jogar onde?”
Ela disse: “Na final”.
Saímos do ônibus no estádio, e cada jogador estava usando um terno legal. Menos eu. Eu saí do ônibus usando um terrível agasalho e todas as câmeras de TV estavam na minha cara. A caminhada para o vestiário foi de talvez 300 metros. Talvez uma caminhada de três minutos. Assim que coloquei meu pé no vestiário, meu telefone começou a explodir. Todo mundo havia me visto na televisão. Eu recebi 25 mensagens em três minutos. Meus amigos estavam ficando loucos.
– Por que você está no jogo?!
– Rom, o que está acontecendo? Por que você está na TV?!
A única pessoa que respondi foi meu melhor amigo. Eu disse: “Brother, eu não sei se vou jogar. Eu não sei o que está acontecendo. Mas continua vendo TV”.
Aos 18 minutos do segundo tempo, o treinador me colocou em campo.
Eu corri no gramado pelo Anderlecht aos 16 anos e 11 dias.
Perdemos a final naquele dia, mas eu já estava no céu. Eu cumpri a promessa para a minha mãe e para meu avô. Aquele foi o momento em que eu soube que ficaríamos bem.
Na temporada seguinte, eu ainda terminava o meu último ano do colégio e jogava na Liga Europa ao mesmo tempo. Eu precisava levar uma grande mochila para o colégio para poder pegar um voo no fim da tarde. Vencemos a liga com folga. Foi…uma loucura!
Eu realmente esperava que tudo isso acontecesse, mas talvez não tão rápido. De repente, a imprensa estava crescendo em torno de mim, e colocando todas essas expectativas nas minhas costas. Especialmente com a seleção nacional. Por algum motivo, eu não estava jogando bem pela Bélgica. Não estava funcionando.
Quando as coisas corriam bem, eu lia os artigos de jornal e eles me chamavam de Romelu Lukaku, o atacante belga.
Quando as coisas não corriam bem, eles me chamavam de Romelu Lukaku, o atacante belga descendente de congoleses.
Se você não gosta do jeito como jogo, tudo bem. Mas eu nasci aqui. Eu cresci na Antuérpia, em Liège e em Bruxelas. Eu sonhava em jogar pelo Anderlecht. Eu sonhava em ser Vincent Kompany. Eu começava uma frase em francês e terminava em holandês, e colocava um pouco de espanhol e português ou lingala, dependendo do bairro em que eu estivesse.
Eu sou belga.
Somos todos belgas.
Eu não sei por que algumas pessoas do meu próprio país querem que eu fracasse. Eu realmente não entendo. Quando fui para o Chelsea e não estava jogando, eu os ouvi dando risada de mim. Quando fui emprestado para o West Brom, eu os ouvi dando risada de mim.
Mas tudo bem. Essas pessoas não estavam comigo quando colocávamos água no nosso cereal. Se vocês não estavam comigo quando eu não tinha nada, vocês realmente não podem me entender.
Sabe o que é engraçado? Eu perdi dez anos de Champions League quando era criança. A gente não podia pagar. Eu chegava à escola e todas as crianças estavam falando sobre a final e eu não sabia o que havia acontecido. Eu me lembro de 2002, quando o Real Madrid jogou contra o Bayer Leverkusen, e todo mundo falava “aquele voleio! Meu Deus, aquele voleio!”.
E eu tinha que fingir que sabia do que estavam falando.
Duas semanas depois, estávamos sentados na aula de computação, e um dos meus amigos baixou o vídeo da internet, e eu finalmente vi Zidane mandar aquela bola no ângulo com a perna esquerda.
Naquele verão, eu fui para minha casa para assistir ao Ronaldo Fenômeno na final da Copa do Mundo. A história de todo o resto daquele torneio eu ouvi das crianças da escola.
Eu lembro que eu tinha buracos nos meus sapatos em 2002. Grandes buracos.
Doze anos depois, eu estava jogando a Copa do Mundo.
Agora, estou prestes a jogar outra Copa do Mundo e meu irmão está comigo desta vez (o texto foi provavelmente escrito antes da convocação final porque Jordan Lukaku, irmão de Romelu, estava na pré-convocação, mas não chegou à lista final). Duas crianças da mesma casa, da mesma situação, que deram certo. Sabe de uma coisa? Eu vou me lembrar de me divertir dessa vez. A vida é curta demais para estresse e drama. As pessoas podem dizer o que quiserem sobre nosso time, sobre mim.
Cara, escuta – quando éramos crianças, não podíamos pagar para ver Thierry Henry no Match of the Day! Agora, estamos aprendendo com ele todos os dias no time nacional (Henry é auxiliar de Roberto Martínez, técnico da Bélgica). Estou junto com a lenda, em carne e osso, e ele está me dizendo tudo sobre como atacar os espaços como ele costumava fazer. Thierry deve ser o único cara no mundo que vê mais jogos do que eu. Nós debatemos tudo. Estamos sentados e tendo debates sobre a segunda divisão da Alemanha.
– Thierry, você viu o esquema do Fortuna Düsseldorf?”
– Não seja tonto. Claro que vi”.
Isso é a coisa mais legal do mundo para mim. Eu só gostaria que meu avô estivesse vivo para ver isso.
Não estou falando da Premier League.
Nem do Manchester United.
Nem da Champions League.
Nem da Copa do Mundo.
Não é disso que estou falando. Eu apenas queria que ele estivesse vivo para ver a vida que temos agora.
Eu gostaria de ter mais uma conversa com ele por telefone, para poder dizer para ele: “Viu? Eu disse para você. Sua filha está bem. Não há mais ratos no nosso apartamento. Ninguém mais dorme no chão. Não há mais estresse. Estamos bem agora. Estamos bem.Eles não precisam mais checar nossos documentos. Eles conhecem nosso nome”.
Romelu Lukaku
Em tempo: achei a fonte da tradução: http://m.trivela.uol.com.br/players-tribune-da-pobreza-ao-preconceito-lukaku-tem-algumas-coisas-dizer/
5 Bullets de Sexta
Olá pessoal!
Eis minha lista semanal de 5 coisas interessantes que andei fazendo (inspirado pelo Tim Ferris 5-bullets friday)
O que estou lendo —
Lepanto, o poema de G K Chesterton que conta a história da batalha de mesmo nome. Mais que isso, estou decorando os 150 versos como prática de memória. Até agora, decorei os 15 primeiros.
Quem estou seguindo no twitter —
Scott Adams (@ScottAdamsSays). O criador do Dilbert é quem melhor está entendendo o fenômeno Trump.
Banda que estou “revisitando” —
Iron Maiden. Disco Matter of Life And Death. Um disco quase conceitual, tratando de guerra e religião. Adoro a bateria do Nicko neste disco.
Filme da semana —
Baby Doll (1956), do Elia Kazan. O cara era um gênio da direção de atores.
Citação que estou meditando —
“Filhos dos homens, até quando fechareis o coração? Por que amais a ilusão e procurais a falsidade?”
— Salmo 4
O que achou? Adoraria saber da sua impressão no Twitter. Qual bullet te interessou mais? Sugestões? Mande um tweet para @jotaramone e coloque #Jota5Bullet para que eu encontre.
Seleção brasileira: quem pode torcer?
Parece que apenas países desenvolvidos podem torcer por sua seleção. Brasil? E a corrupção? E o IDH menor que o Canadá? E o salário dos professores? Torcer para a seleção é alienação, é aderir ao pão e circo.
Interessante que um famoso comentarista esportivo postou foto com a camisa da Argentina. Que até onde sei tem todos os nossos pecados e mais alguns, como o de cancelar um amistoso contra Israel, o que inclusive lhe rendeu parabéns.
Se aceitarmos que não podemos torcer para o Brasil porque o país não vai bem, teremos que aceitar a tese implícita que só podemos aproveitar os bens contemplativos se os problemas sociais estiverem todos resolvidos. Significa que só os países desenvolvidos podem curtir esportes.
Mas por que só esportes? Por que não teatro, música, cinema, livros e tantas outras opções de lazer que nos fazem esquecer por algum momento de nossa realidade? Quer escutar funk? Não pode. Só o músico da Urca pode. Ou aquele outro que vive mais em Paris do que aqui. Você, brasileiro, tem que usar a copa para protestar contra Temer. Ou o capitalismo. Ou o patriarcado. Copa do Mundo é só para os bacanas.
Baby Doll (1956): retrato da modernidade
Ontem assisti Baby Doll (1956), dirigido por Elia Kazan e texto do Tennessee Williams. Três personagens fascinantes, retratos do mundo moderno.
Um homem fraco, constantemente humilhado, que perde o controle sobre seu destino por falta de capacidade pessoal para lidar com a modernização. Um posso de ressentimento que encontra no uso a violência sua válvula de escape.
Uma mulher que se recusa a crescer e acha que pode brincar de boneca a vida inteira. Ao finalmente encontrar uma adversário que se recusa a fazer seu jogo tem a oportunidade de enfim amadurecer.
Um homem racional, produto da modernidade, mas que diante da incapacidade do estado não pensa duas vezes em assumir a justiça nas próprias mãos. Falta-lhe piedade e empatia para lidar com o mundo.
Um panorama sobre a ruptura de uma antiga ordem para emergência de uma nova, de natureza científica mas desprovida de laços de amizade que constroem uma sociedade.
Destaques da semana
Alguns destaques da minha semana:
O Senhor dos Anéis
Terminei a releitura. Peter Kreeft disse uma vez que se livros pudessem ser santificados, canonizaria O Senhor dos Anéis. Não que um livro seja uma apologia cristã; em verdade trata-se de uma mitologia pré-cristã. Mas da mesma forma que o Antigo Testamento prefigurava o Cristo que viria, o livro de Tolkien faz o mesmo, especialmente com os personagens de Frodo (sacerdote-sacrifício), Aragorn (rei que retorna) e Gandalf (mago profeta). Mas nada disso funcionaria se não fosse realmente uma obra de arte, um grande épico de coragem, sacrifício, honra e luta implacável contra o mal.
A Matter of Life and Death
Curtindo esse disco do Iron Maiden em vinyl. Esse é um daqueles que gostei desde o início, em seu lançamento, mas ainda não tinha prestado atenção nas letras. É quase um disco conceitual, tendo guerra e religião como seus temas.
Scott Adams
Comecei a assistir mais atentamente os periscopes de Scott Adams, o criador de Dilbert e talvez a pessoa que melhor esteja entendendo não só o fenômeno Trump como a própria realidade que estamos vivendo. Quem acha que Trump é um grande idiota e Scott um conservador fã do laranja, está completamente enganado. Scott é ultra liberal, mas como estudioso da arte de persuasão, ficou fascinado com o domínio de Trump sobre o tema. Ele propõe que o grande filtro que tem que ser usado para entender Trump é a persuasão. Comecei a ler seu livro, Win Bigly, onde ele trata deste assunto.
The Good Place
Terminei de rever a primeira temporada da série. Ficou ainda melhor, apesar de não ter o prazer das reviravoltas. Alguns comentam que tinham adivinhado e só me pergunto: por que? Por que eu perderia o prazer de ser surpreendido?
Leituras do Dia: Zweig e Ortega
Comecei hoje a ler dois livros.
O primeiro é uma biografia do Ortega y Gasset, de Gonzáles Serrano. O autor chama atenção, nas páginas iniciais, para a crítica de Ortega às generalizações, que sempre implica em um erro de perspectiva e, principalmente, ao erro de achar que podemos ter uma fórmula aplicada a cada situação particular. Justamente aí está o problema de tentar definir um conservador pelas teses que acredita: a principal delas é não acreditar que possa existir uma tese universal que seja válida em todas as situações. Diante de um problema real, um conservador tem que parar, estudar a situação particular, para tentar encontrar uma solução com base no bom senso. Justamente o contrário do pensamento de esquerda que vai querer aplicar um dos seus dogmas independente do caso real, como mostra o caso do menino Alfie na Inglaterra. Aplicou-se uma receita geral a uma caso particular sem levar em conta seus aspectos próprios, como a oferta do Vaticano de tratar o menino e a vontade dos pais.
El desarrollo de la vida no permite fórmulas mágicas, concepciones puramente racionales que puedan ser aplicadas a cada caso en particular.
O segundo livro é uma coleção de 12 ensaios do Stephan Zweig chamada Momentos Estrelares da Humanidade. A concepção é interessante. Zweig defende que a maior parte da história é composta por horas desinteressantes, que culminam em alguns momentos decisivos, que impactam profundamente a história. Não que nada aconteça nestes períodos, pelo contrário. Estes acontecimentos pontuais concentram um longo desenvolvimento que culminam em uma decisão, uma ação ou mesmo não ação.
O primeiro ensaio é sobre Cícero e Zweig ressalta que ao ser exilado por Julio César, ele ganha o necessário distanciamento da vida pública e pode se voltar para si mesmo e refletir sobre sua vida e as coisas que realmente importam, os acontecimentos particulares. Lembrei-me da derrota eleitoral de Churchill em 1945, que lhe permitiu refletir sobre os acontecimentos da II Guerra Mundial. Acho que Deus age nestas horas para permitir o exílio desses grandes espíritos, beneficiando todos nós com a organização dos pensamentos que muito nos ajudam posteriormente.
Ramones Leave Home: Memórias
Tem discos que despertam mais que simples memórias, nos lembram estados de espírito. Estão associados a determinadas épocas que passávamos por transformações ou estados emocionais intensos.
Leave Home é um destes discos. Quando pensamos Ramones, pensamos no rock direto e visceral que salvou o próprio estilo do pedantismo que estava chegando. Foi como trazer de volta às origens, quando o rock conquistou a garotada no mundo inteiro por sua simplicidade, ritmo e temática. No entanto, neste disco é a melancolia de Joey cantando temas como Swallow my Pride e What’s Your Game que mais me tocam, provavelmente pelo estado de espírito que tinha na época, no alto dos meus 18 anos.
Como é bom voltar no tempo! Tão longe e ao mesmo tempo tão perto pela música. Um dia um primo me disse que o rock passa quando envelhecemos, que perde a graça. Quase 20 anos depois eu ainda sinto o sangue aquecer ao escutar os acordes básicos do Johnny Ramone e o baixo do Dee Dee. Para mim, eles serão eternos.