Depois de décadas de domínio completo das esquerdas, finalmente abriu-se espaço para que intelectuais não-esquerdistas possam ocupar o debate de idéias neste país. Como deveria ser esperado, tem de tudo, inclusive muita gente sem preparo suficiente para tal empreitada. O espaço foi aberto, na base do facão, por aquele que boa parte dos beneficiados de hoje gostam de ridicularizar. Mas essa é outra estória. O fato é que hoje existe espaço para intelectuais independentes dos dogmas esquerdistas poderem expor e defender outras idéias.
O problema é que muitos desses nomes estão se comportando como meninos e meninas mimados. Não admitem serem contrariados e se comportam como donos da verdade. Até ai, nada de novo em relação ao que a esquerda já fazia. O problema é a pessoa fazer isso em nome do conservadorismo, pois está na essência do pensamento conservador a dialética de Platão e Aristóteles, que não deve ser confundida com a dialética hegeliana/marxista. Enquanto os alemães entenderam a dialética como uma praxis, uma marcha histórica, os antigos a entendiam como método de investigação. É preciso confrontar idéias para que a verdade termine sendo revelada. Basta ler Chesterton _ já que somos incapazes de ler São Tomás de Aquino. Era impressionante como o genial pensador inglês era capaz de resumir as teses que não concordava melhor do que seus defensores, de forma até carinhosa, para poder questionar seus pressupostos e consequências, mostrando onde estavam os erros. Não por acaso, seus maiores adversários intelectuais eram seus amigos.
Fico triste de ver gente boa caindo nas armadilhas do próprio ego. Esta semana temos o espetáculo deprimente do Carlos Andreazza, que tem feito um trabalho excepcional na Record, com os Bolsonaros. Não dá nem para dizer quem tem razão porque a coisa tomou a dimensão de discussão de meninos no colégio de ginásio. Para piorar, o editor agora está batendo boca com leitor de twitter. “Ah, mas ele está mostrando a virulência do seguidor do Bolsonaro!”. Não diga? Em qualquer área de comentários, sobre qualquer assunto, vamos encontrar boçalidades. Pinçar um ou dois idiotas como exemplo não é coisa que se faça. Querer generalizar a partir de alguns exemplos e tratar todos que discordam como se fossem iguais e, no limite, responsabilizar o adversário pelo comportamento de meia dúzia de imbecis é indigno de um bom pensador. Foi o mesmo padrão da discussão alguns meses atrás entre a Madame Brazyl e o Bené Barbosa.
É possível ser diferente? Alexandre Borges mostrou que sim. Diante de ataques gratuitos por um dos Bolsonaros, por ter ido a um evento com João Dória, fez o correto; ignorou solenemente a situação. Não dá para ser um intelectual sério, querer ser respeitado, entrando em qualquer discussão. O Alexandre não foge ao bom debate, mas para isso é preciso ter algo para debater. Ficar chamando um ao outro de feio só depõe contra quem participa desse tipo de confronto gratuito _ não dá nem para chamar de discussão.
No caso Andreazza e Bolsonaros, a coisa começou, até onde sei, por ataques no twitter pelo voto dos Bolsonaros pela admissão do processo contra Temer. Andreazza poderia ter analisado o cálculo político do voto do clã, mostrado que tratava-se de um voto mirando 2018, ou mesmo pedindo explicações. Ao invés disso, preferiu partir para ridicularizações e associação com o petismo. Ficou feio, pois ficou parecendo coisa de histérico. Em uma discussão, perder o tom é fatal.
Uma pena que esse tipo de comportamento esteja se alastrando pela rede. Quero crer que trata-se apenas de um primeiro momento, fruto da inexperiência de poder, enfim, defender publicamente idéias diferentes da vulgata marxista. Enquanto isso, se fosse amigo dos envolvidos, que inclusive admiro, aconselharia a ler “Hereges”, do Chesterton. É quase um manual didático de como desmistificar mentiras que aparentam ser verdades. Evita muita discussão inútil e formação gratuita de inimizades.