A trocadora

A trocadora

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Outro dia entrei no ônibus que sai do metrô de Botafogo, para a Urca. Como sempre, uma fila enorme para entrar e o ônibus foi lotando enquanto a silenciosa procissão passava pela roleta. Eu já estava sentado quando a cobradora (ainda existem, acreditem) exclamou alto para todos ouvirmos:

_ Até que enfim, alguém me deu boa tarde!

Realmente, tínhamos todos passado por ela sem trocar uma única palavra. Estamos sempre tão concentrado em nossas coisas que nem lembramos que existem outras pessoas no mundo, mesmo estando no meio de uma multidão, o que não deixa de ser curioso. Fiz uma anotação mental para não deixar acontecer novamente.

Alguns dias depois peguei o mesmo ônibus, e lá estava ela novamente. Que sorte a minha! Limpei a garganta e quando chegou a minha ver de passar disse com alegria:

_ Bom dia!

E foi só. Até hoje ela não respondeu.

Rapidinhas da Semana

Rapidinhas da Semana

Eu não acredito em nenhuma melhoria na educação brasileira que não passe pela extinção do MEC.

Se eu tivesse que escolher uma parte da sociedade brasileira para sanear, escolheria a Igreja. O resto todo viria por arrasto.

Estou revendo o Manhattan Connection da eleição do Trump. Hilário, os caras erraram tudo que estavam falando!

Pode-se discutir qual o melhor entre Rogue One e The Force Awaken. Mas os dois evidenciam a tragédia que foi os episódios I-III.

Pessoal que ainda milita no progressismo. Estão perdendo a última oportunidade de deixar essa furada. Só vai piorar.

Recomendo certos ex-presidentes nunca mais saírem do país. (mentira, quero vê-los de pijama laranja!)

O clipe da Clarice Falcão é mais um argumento para a tese de que o brasil não tem mais como dar certo.

O Caso do ITA: O ensinamento de um velho professor e uma palavra de João Paulo II.

O Caso do ITA: O ensinamento de um velho professor e uma palavra de João Paulo II.

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Um professor do Instituto Militar de Engenharia (IME) contava o seguinte causo:

Quando entrei no IME, há duas décadas atrás, me achava o dono do mundo. Meu orgulho estava nas alturas e andava pelos corredores com o nariz empinado, certo de que era um verdadeiro mestre. Ensinava equações diferenciais como se estivesse brincando em um parque; passava problemas tenebrosos para os alunos resolverem em casa. Era temido, e por isso, respeitado. Só uma coisa me incomodava, o maldito crachá. Tínhamos que usar um crachá o tempo todo e eu simplesmente não gostava daquela porcaria. O Instituto é pequeno, não demorava muito para todos nós nos conhecermos. Achava aquilo um exagero dos militares, talvez um recalque por ter de utilizar uma plaqueta, não sei. O fato é que depois de um tempo, reclamei com o decano, um velho professor de materiais, muito respeitado por todos. Ele me escutou pacientemente, sorriu e disse uma frase que nunca esqueci: “é uma prova de maturidade obedecer as regras da instituição que você escolheu pertencer voluntariamente“. Em seguida, ele virou as costas e foi para sua aula. Eu fiquei alguns minutos imóvel, sem saber o que dizer. Aquelas palavras martelavam a minha cabeça; fui dormir com elas. O fato é que nunca mais reclamei do maldito crachá e também nunca esqueci da lição que aquele bom homem me deu.

Lembrei desse causo quando li sobre a polêmica na formatura no ITA. Não tenho mais nada a dizer sobre o caso.


PS: Tenho mais uma coisa a dizer, me ocorreu agora. Lembrei de uma lição de João Paulo II. Dizia ele que uma decisão moral se reflete de duas formas, uma ação prática com suas consequências e, no longo prazo, pela formação de nosso carácter. Ou seja, ela não se esgota naquele instante. É uma ilusão tomarmos atitudes e acharmos que elas não têm influência em quem nós nos tornamos. Somos também o produto de nossas atitudes.

Como entender a arte?

Como entender a arte?

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Existem várias formas de interpretar uma obra de arte. Infelizmente a universidade escolheu a pior forma delas, o desconstrutivismo, uma criação da Escola de Frankfurt que tem por objetivo oculto impedir o apreciador de se conectar com o significado da obra, fazendo-o se perder em fragmentos, gerando um formalismo estéril. Para piorar, esse fetiche acadêmico extrapolou para a crítica brasileira, que hoje se resume a bajulação dos que possuem a agenda considerada correta.

Há outra forma de interpretar, que busca resolver o mistério através do autor da obra. Cartas, entrevistas, o que importa é o que o autor quiz dizer e não uma interpretação pessoal de quem analisa. O grande problema é que muitas vezes o autor quer fazer uma coisa e faz outra. Um grande exemplo é o filme Tropa de Elite. José Padilha pretendeu fazer uma crítica à polícia, tendo o Capitão Nascimento como o grande vilão, e acabou realizando uma ode ao BOPE e transformou seu vilão em herói. Depois tratou de concertar a bobagem fazendo o politicamente correto Tropa II, que jogou o heroísmo para o Marcelo Freixo, quer dizer, o tal Fraga. Coisa de covarde que paga pedágio.

Existe um ensaio magistral de Eric Voegelin sobre a novela A Outra Volta do Parafuso, de Henry James, em que explica que a intenção do autor é secundária na interpretação de uma obra. Se o autor não está de acordo com o que a obra nos fala, azar o dele. O ensaio é uma senhora aula de interpretação, mostrando todas as camadas da novela e desnudando seus símbolos. Até que ponto James estava consciente do que estava fazendo é tema de interpretação, o importante é o que efetivamente realizou.

Um outro exemplo é do Bispo Robert Barron, um religioso católico que dialoga com a cultura popular em busca da presença de Deus em diversas manifestações artísticas como filmes e livros. Analisando a obra de Bob Dylan, por exemplo, ele diz que podemos apreciá-la como manifesto político, crítica social, mas defende que a mais consistente é a espiritual. Para Barron, a Bíblia é a melhor referência para entender Dylan, como exemplificam os dois casos a seguir.

Em Blowning in the Wind, o que temos? Um narrador fazendo as perguntas fundamentais da vida: quem sou? Para onde vou? O que nos torna o que somos? *And the answer my friend, is blowing in the wind*. Que vento é esse? Os ventos da mudança, da revolta política? Não, explica Barron. Na Bíblia o vento simboliza o Espírito Santo, a nossa condição espiritual, o sopro criador de Deus. A resposta não está na matéria ou na política. Está no espírito. Está em Deus.

Outro exemplo é Like a Rolling Stone. À primeira vista parece a estória de alguém que tinha muito e perdeu tudo, lamentando-se de sua má sorte. Mas se lembrarmos que a tradição cristã ensina que o poder, a riqueza, a fama, tendem a nos afastar de Deus, perder tudo pode ser uma benção. Podemos escutar Deus falando com o protagonista: como você se sente em perder tudo e ser realmente livre? Como uma pedra que rola.

Estará certo o Bispo? Não importa. O que importa, e nisso concordariam Voegelin e Barron, é o que a obra fala para você. Os críticos apresentam visões que podem te ajudar, mas no fim você sempre vai tirar algo de muito pessoal da arte, e por isso ela pode ser tão rica.

Infelizmente a destruição cultural foi tão grande no Brasil que existem pouquíssimos críticos com essa capacidade. As boas novidades estão surgindo longe da caquética mídia tradicional: na internet, nas redes sociais. É de lá que virá o saneamento do lixo cultural que a universidade criou e o fim da venda imbecilizante que ela nos colocou.

Rogue One: 5 elementos espirituais

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Qualquer que seja a obra de arte, ela vai falar com você de alguma forma e o filme Rogue One não é diferente. Você pode analisar como uma aventura, pelo caráter político, pela filosofia, pela economia e etc. Eu prefiro analisar pelo aspecto espiritual, pois foi este que mais me chamou atenção.

Você pode se divertir apenas assistindo o filme, que é muito bem feito, mas acredito que refletir um pouco sobre ele, buscando outras camadas de entendimento, tornam a experiência mais enriquecedora. No novo Star Wars, cinco elementos espirituais me chamaram atenção. São eles:

1. Sacrifício. Rogue One é mais que um grupo de renegados com uma missão. É um grupo que entendem que a única chance que possuem é o espírito de sacrifício; que não podem buscar a satisfação pessoal. Não há glória esperando, nem recompensa. Em determinado momento fica claro que não sobreviverão. Ao invés de se agarrar a uma tênue chance de se salvarem, tratam de esquecer das próprias vidas e buscam cumprir a missão que se propuseram. É preciso perder a vida para conquistá-la. Procurem no Livro, está lá.

2. Ordem. O personagem do Diretor Krennic diz a Galen Erso na primeira cena que é preciso restaurar a ordem na galaxia. Erso retruca, o que Krennic chama de ordem é outro nome para violência. Ele sabe que a ordem do Império não é a ordem da existência, pois não se baseia na verdade. Apesar a estética da limpeza e da padronização nas bases militares, o produto do Império é o caos, é o que Jedha se tornou. A rebelião quer restituir a ordem verdadeira, a que se origina na liberdade.

3. Fé. No universo Star Wars, a força é o símbolo da fé e da religião. Ao contrário dos outros filmes, a força está um tanto ausente. Um templo em ruínas e dois velhos guardiões, um cego e um céptico, duas testemunhas de um tempo que se foi. A devoção do cego é vista como uma esquisitice, mas aos poucos se torna inspiradora. A força começa a se espalhar e culmina com a conversão do céptico, um dos grandes momentos do filme.

4. Esperança. Chesterton costumava dizer que o impossível está na essência da esperança. Você precisa acreditar quanto tudo indica que não adianta, que a causa está perdida. Rogue One dá o melhor de si para, contra todas as possibilidades, entregar mais que um disco com informações secretas, entregar esperança para uma rebelião prestes a se desintegrar e aceitar a derrota. No fim, é a esperança que derrotará o Império.

5. Amor. Afinal, o que querem os integrantes do Rogue One? Vingança? Sim, no início era isso, mas em certo instante tudo mudou. Eles não querem a glória, sentem que não irão sobreviver. No entanto, continuam. Querem a justiça, querem restaurar a paz, querem o bem das pessoas que nem conhecem. O amor verdadeiro é isso, querer o bem sem esperar nada em troca. O cristianismo chamou esse tipo de amor de “caritas”.


Entender as várias camadas de uma obra de arte nos enriquecem. Com um pouco de prática, e cultura, vai ficando cada vez mais fácil. Veja mais análises da cultura em meu canal do youtube:

Rapidinhas da semana que passou

  1. Eu não trocaria o PMDB corrupto até a medula por uma REDE cheia de boas intenções querendo transformar o Brasil. Não sou louco.
  2. O PMDB é corrupto? Se é. Quer reformar a sociedade mudando nossos valores? Não. Enquanto não tiver coisa melhor, fico com ele.
  3. A Lava Jato começou a topar com o Foro de São Paulo, aquela teoria da conspiração do “maluco da Virgínia”. Uma palavra: BNDES.
  4. Olhando para o oriente médio começo a entender porque a turma do nobel correu para entregar o prêmio da paz pro obama.
  5. Entrevista da gilma com reporter da al jazira é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Até agora, nada de autocrítica.
  6. Hino da independência >>> hino nacional. Apenas aceitem.
  7. Sobre a Simone Tabet, ainda não me recuperei do trauma sobre a katia abreu para confiar novamente em político.
  8. Diretas já? Eu trocaria, tranquilamente, por diretas nunca. O que não significa que seja a favor de ditadura.
  9. Harmonia e independência entre três poderes autônomos. O que Montesquieu tinha na cabeça???
  10. Rogue One é uma aula de um filme de aventura. E da importância de ter esperança.

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Diálogo verdadeiro (ou quase)

_ Se você pudesse escolher um único ato da política brasileira para anular, qual seria?

_ Qualquer um?

_ Qualquer um. Proclamação da República, deposição do Jango, renúncia do Janio Quadros, impechment do Collor, eleição do Lula, pode escolher.

_ A declaração da independência.

_ Mas aí não haveria Brasil!

_ Exatamente.

_ Seríamos colônia de Portugal!

_ Sim.

_ Você sabia que nós rompemos com Portugal porque as cortes portuguesas queriam retirar os deputados brasileiros?

_ Perfeitamente.

_ Nós seríamos colônia e não teríamos nem membros no parlamento!

_ Pois é.

_ Onde eu assino?

Empresários e empreendedores, não necessariamente a mesma coisa

Empresários e empreendedores, não necessariamente a mesma coisa

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Empresário é qualquer um que tenha um CNPJ. Empreendedor é quem cria valor para atender uma necessidade de mercado. Não se trata da mesma coisa. Quanto mais poderosa uma economia, mais estes papéis se confundem. Se você quer avaliar um país economicamente, um caminho é avaliar se os empresários são empreendedores ou não.

Infelizmente o Brasil é um país que o principal caminho para crescimento de uma empresa é a relação espúria com os governos e o estado. Uma das coisas que a lava jato deixou evidente é que as grandes empresas eram máquinas de receber dinheiro que nos foi sequestrado e devolver parte para os mesmos políticos que liberavam este dinheiro. Nada a ver com o que se entende de empreendedorismo. Eles até criavam valor, mas não para a sociedade. O mercado, para eles, são os políticos e partidos.

Não é à toa que o Brasil é um país de economia fortemente estatizada. Atende diversos interesses. Mas como todo golpe, é fundada em uma grande ilusão, a de que o estado está resolvendo os problemas do povo. É nojento ver deputados e ministros dando entrevistas preocupados com o orçamento da saúde, da educação. Pura hipocrisia. O que estão defendendo é mais dinheiro para distribuir para as empresas amigas.

A Lava Jato evidenciou apenas as grandes empreiteiras. Não tenhamos ilusões que seja um problema restrito a um setor. Há esquema em quase tudo que o estado contrata, principalmente se o contrato for grande. Nada disso é imprevisível para quem adota um capitalismo de estado. Principalmente com estruturas de controle que podem até ser poderosas formalmente, mas que na prática nada controlam. Ou alguém consegue responder o que fazia a receita federal quando essas movimentações absurdas em dinheiro vivo eram feitas?

Se o Brasil quiser ter qualquer chance, é preciso se tornar um país de empreendedores. Mas isso só vai acontecer se tirarmos poder e dinheiro dos políticos, o que é impossível com a atual constituição, raiz de grande parte do problema.

Infelizmente não há meios, dentro da constituição, de mudar o próprio espírito da constituição. A única coisa que se pode fazer é remendos. E o Livro nos ensina:

Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho; porque o remendo tira parte do vestido, e fica maior a rotura. (Mateus 9:16)

5 Razões para Entender a Antifragilidade

5 Razões para Entender a Antifragilidade

Antifragil

Alguma coisa mudou no humor do mundo na última década. A euforia do período 1989-2008, mesmo com os ataques do 11 de setembro, foi substituída por um profundo mal estar, como demonstram as inúmeras manifestações políticas ao redor do globo. Parecíamos imunes ao imprevisto, mas descobrimos que nossas defesas eram ilusórias. O mundo parece mais frágil do que antes.

Como qualquer outro, me ocupei de me proteger da adversidade. Como típico ser de classe média, trato dos meus seguros, meu planejamento financeiro, procuro pensar bastante em minhas decisões e luto para manter uma poupança. Segurança é o valor da atualidade. Seja nas políticas econômicas, na cultura gerencial, há uma tendência de evitar a incerteza e criar mecanismos de proteção caso algo dê errado. Planejamento estratégico, gerenciamento de projetos, organização. Acreditei que com boas práticas poderia proteger meus projetos, profissionais e pessoais. No entanto, não estou mais tão seguro. Cada vez mais meus planejamentos se mostram inúteis, pois a mudança é constante. Na verdade, sem saber, estou cada vez mais abraçando a fragilidade.

Não entender que existe uma propriedade, que não é de hoje, mas que só agora conseguiu ser articulada coerentemente no conceito de antifragilidade, é não entender o mundo de hoje, o que está acontecendo e os perigos que estamos correndo. É tomar decisões erradas, deixando oportunidades incríveis passarem.

Mas o que é, afinal, antifragilidade?

O conceito foi expresso por Nassim Nicholas Taleb em seu livro de 2015, Antifrágil. Ele se tornou famoso com o livro anterior, A Lógica do Cisne Negro, que mostrava que os acontecimentos improváveis eram cada vez mais frequentes à medida que nossos sistemas se tornavam mais complexos. Se entendermos frágil por aquilo que se prejudica com o inesperado, o seu contrário não será o robusto, que resiste à desordem, mas o antifrágil, o que melhora com o caos. Nada disso é coisa nova, na verdade já veio com o cosmos e a vida na Terra. A natureza é antifrágil, assim como o homem. O problema é que estamos nos esforçando para mudar isso e tornar o homem frágil. Precisamos aprender como melhorar na adversidade (e considerando o caminho que o mundo anda trilhando, pode ser um excelente conselho!).

Existem cinco razões para você ler o livro de Taleb sobre a antifragilidade:

1. Entender o que é antifragilidade. Taleb pode ter descoberto uma pedra filosofal para entender a nossa natureza.

2. Entender a importância da antifragilidade e como ela afeta nossas vidas.

3. Entender que estamos nos tornando frágeis. Ou seja, mais propensos a sofrer com o inesperado.

4. Entender que os cisnes negros, ou eventos inesperados, são cada vez mais constantes e imprevisíveis.

5. Entender o que devemos fazer para nos tornarmos mais antifrágeis. Acredite, as vezes é melhor não fazer nada.

Se eu fosse você, não perdia tempo.

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