O debate público, no Brasil, é impossível. E o problema começa na linguagem.

De uns tempos para cá tenho me evitado a tentação de debater publicamente certos assuntos. O principal motivo para essa posição é a impossibilidade de discutir a maioria dos temas que se colocam. Por que isso acontece? Para entender o problema temos que recorrer ao entendimento dos símbolos.

O símbolo é a forma de compreender a realidade. Nós pensamos por símbolos, e o mais básico deles é símbolo linguístico. Um pouco de teoria mostra que o símbolo tem duas partes, o significante e o significado. O significante é o termo que usamos para designar o símbolo. Por exemplo, a palavra “mesa”. O significado é a que o significante está remetendo. Ou seja, o objeto ou conceito real do símbolo. No caso da palavra mesa, o objeto especial que entendemos quando se usa esse termo. A figura abaixo ilustra o conceito de signo.

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O que tudo isso tem a ver com o debate público? Tudo. Para que se possa discutir uma assunto, é preciso que ambas as partes tenham a mesma compreensão do signo, ou seja, entendam o mesmo significado para cada significante. Lewis Carroll colocou o problema da discussão moderna no diálogo entre Alice e Humpty Dumpty:

Quando eu uso uma palavra, _ Humpty Dumpty disse em um tom um tanto superior _ significa justamente o que quero que signifique, nem mais, nem menos.

Alice ainda retruca dizendo que a questão é  se podemos usar a mesma palavra para significar  coisas diferentes. Humpty responde dizendo que a questão é qual deve ser o mestre, e isso é tudo. Ou seja, sem concordância do significado dos termos, a discussão nada mais é que uma disputa de força que não tem nada a ver com o assunto em questão. Isso tudo não é novo, Aristóteles já dizia que a discussão só era possível entre spoudaios, os homens maduros.

O que temos hoje no Brasil é uma disputa de poder entre pessoas que não têm a menor concordância sobre os conceitos que estão usando. Para agravar, temos um outro problema de significantes sem significados, ou seja, os símbolos ocos que Voegelin tanta falava. Qualquer discussão séria em um ambiente desses é impossível. E não tenho a menor intenção de ficar disputando poder com quem quer que seja.

Por isso que estou me controlando e evitando entrar nesse espiral de loucura. Só quando encontro pessoas sinceramente dispostas a entender o que está acontecendo é possível discutir alguma coisa. A discussão pública no Brasil é um grande teatro onde sobram palhaços e mágicos.

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