Passei o fim de semana com mais um clássico de Shakespeare: Sonho de uma Noite de Verão. Não entendi ainda tudo que está na peça, até porque é impossível em apenas duas leituras. Trata-se de uma dessas obras para você estudar a vida inteira. Minha mente está viajando em interpretações possíveis, que anotei no meu caderno de leituras para refletir sobre elas, com calma, nos dias que virão.
Chamou-me atenção a existência de três grupos distintos: os atenienses, os seres

Oberon, Titânia, Puck e fadas. William Blake, 1786
fantásticos e os mecânicos (trabalhadores manuais). O que representam? Há uma certa incompreensão com a presença dos atenienses na peça e há versões que eles são substituídos, o que é uma bobagem. Há alguma razão para Shakespeare tê-los colocados, assim como o extrato da peça de Ovídio. Há um choque de culturas na peça, os gregos, os místicos e os científicos. A tri-partição da alma de Platão? As três eras de Comte? Se assim for, é curioso que a terceira era, da ciência, seja a retratada de forma mais ignorante, enquanto que a sabedoria está nas fadas. Mas tudo isso são direções para investigar, apenas idéias que me ocorreram.
Afinal, o que representa o menino roubado do rei indiano?
Outro aspecto é a força das imagens. Poucas peças geraram tantas obras de arte como pinturas, músicas, filmes, poemas e etc. É quase uma matriz para a imaginação de artistas de todas as eras.
Se é possível ver uma unidade na peça através da narrativa, muito mais complicado é encontrar o tema central; se é que existe. O amor e seus obstáculos parece ser um forte candidato, mas a simbologia e as imagens são tão impressionantes que sugerem muito mais significados e interpretações. Há um universo inteiro nessa peça e é plenamente concebível passar anos estudando cada passagem. É próprio dos sonhos o aspectos caótico, misturado a iluminações profundas. Como Puck sugere no final, como realmente diferenciar sonho de realidade?
Talvez o componente do mistério seja o grande elo entre os grupos e histórias e apenas um artista, do tamanho de Shakespeare, poderia criar obra com tamanha força e poder de imagens. Uma obra prima.

Edwin Landseer, Titania e Bottom (1848)