O Brasil derrotado

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Foto: g1.globo.com

Na minha humilde opinião, o principal problema do Brasil hoje é a violência. Não vejo como um país se desenvolver, se educar e, principalmente, criar valor sem resolver o problema mais básico do estado, dar segurança a seus cidadãos. Cada vez me convenço mais que é preciso resolver o problema da violência primeiro, antes de qualquer outra coisa. Sei que há os que pensam que a violência é produto dos problemas sociais, mas discordo cada vez mais dessa visão. Ela é confortadora, mas irreal. 
 
Acho que os problemas sociais são, em grande parte, derivados da insegurança que vivemos. Não acho normal, ou aceitável, que tenhamos que viver enjaulados com medo do que está acontecendo nas ruas. Que tenhamos que levar dinheiro ou celular velho para dar a bandidos caso sejamos assaltados. Que políticos e empresários andem com seguranças armados enquanto nós ficamos completamente a mercê de bandidos de todo tipo. Existe um alto custo associado à violência que ninguém fala. Pagamos direta ou indiretamente seguros altíssimos para proteger propriedades e cargas, assim como os custos de um judiciário ineficiente, das emergências médicas e, sobretudo, com vidas. 
 
Qual a solução? Não sei, mas seja o que for que esteja se fazendo, o resultado está sendo um retumbante fracasso. E quem acha que estou falando apenas do Rio de Janeiro, engana-se. O Rio é apenas a face mais visível do fracasso de décadas de políticas equivocadas que evitam enfrentar o problema de frente. Políticos não gostam de falar disso, porque é uma tarefa inglória, mas que tem que ser feita. A violência está matando o Brasil. 

Ordem e História

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A obra magna de Eric Voegelin, publicada em 5 volumes, deve ser entendida em duas partes. A primeira, publicada na década de 50, engloba os volumes I a III e trata das civilizações do antigo oriente, de Israel e das pólis gregas. Após um hiato de duas décadas, publica na década de 70 os dois volumes finais, rompendo com o plano original da obra, o que levou muitos críticos e leitores a perderem a compreensão do todo.

Ordem e História começou como um desenvolvimento de um livro que estava escrevendo, mas que não conseguia terminar por estar sempre incorporando mais elementos. Esse livro só foi publicado após sua morte, com o título de História das Idéias Políticas. Percebendo que partir do princípio que havia uma continuidade linear histórica entre as idéias políticas era uma posição ideológica, e portanto cientificamente insustentável, Voegelin mudou o projeto. Não se tratava de contar a história das idéias, mas sim os símbolos que geravam as idéias. Esses símbolos políticos eram uma auto-compreensão da realidade e correspondiam a experiências de simbolização da Ordem. Perceber a ordem da história era entender a história da ordem. Foi a partir dessa constatação que Voegelin elaborou seu projeto para Ordem e História.

Apresentou os cinco tipos de ordem que tinha identificado empiricamente e seus respectivos simbolismos:

1- os impérios do antigo oriente e os mitos cosmológicos;
2- a história de um povo sob Deus e os profetas de Israel;
3- as pólis gregas e a filosofia;
4- os impérios civilizacionais da Idade Média e o cristianismo;
5- os Estado-nação e o gnosticismo.

Ordem e História trata dessa investigação, de como se originaram os símbolos em cada época e como esses símbolos representavam a forma de ordem política correspondente. Cada diferenciação correspondia a um salto no ser, uma iluminação que colocava aquela civilização em um novo patamar de compreensão. Foi assim que tratou os três primeiros tipos de ordem nos volumes I a III da série.

Após uma década estruturando o Instituto de Ciências Políticas de Munique, e a publicação de sua filosofia da consciência, Voegelin modificaria seu projeto original. Ele percebeu que existiam muito mais tipos de ordem, inclusive pré-históricas e que a diferenciação não se dava em uma história linear, mas que avançava para trás, frente e lados, como se fosse uma teia. O projeto de Ordem e História exigiria muito mais volumes para ser completado e o tornou inviável. Os dois volumes finais explicam as conclusões que tinha chegado e apontar as direções que poderiam ser seguidas para novas investigações.

No todo, Ordem e História permanece como uma realização impressionante, que exige uma reflexão profunda do leitor e muitas releituras. Não é uma obra que se capta em uma ou duas passagens para se compreender totalmente. É obra para se estudar ao longo da vida.

Um espectro ronda a Europa: o comunismo

Marx estava certo quando disse que um espectro rondava a Europa na forma do comunismo. O problema é que ele achava que isso era uma coisa boa e não o flagelo que realmente foi, ceifando vidas e mais vidas em um ritual macabro de submissão a uma visão totalitária da vida.

Uma aldeia romena, em 1953, fez o que pode para resistir. O resultado é esse filme belíssimo, O Casamento Silencioso. Não deixe de assistir. O humor de um povo para celebrar a vida e não se deixar morrer espiritualmente.

Sobre a liberdade

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Para se entender a liberdade, primeiro necessita-se compreender a vontade. A vontade é o querer com a razão. Hoje se confunde com desejo, mas não era essa a compreensão dos antigos gregos. Quando se vai fazer um concurso, uma pessoa decide que precisa estudar. A vontade, baseada na razão, lhe diz que é necessário o estudo para ter sucesso no concurso.

A liberdade se apóia, sobretudo, no exercício da razão. É uma das marcas que define uma pessoa, define sua atuação. Só se é humano sendo verdadeiramente livre.

Pode-se dizer que a liberdade tem quatro planos:

Liberdade constitutiva

É a liberdade interior, a que existe no nível mais profundo. É a que nos faz ser dono de nós mesmos; é interior a própria consciência. Nem um cativeiro pode suprimi-la: é a liberdade de sonhar, de desejar, de ter uma opinião, de imaginar. Para tirá-la é necessário destruir o homem. Filmes como “Sob o domínio do mal” e “Laranja Mecânica” mostram a tentativa de retirar esta liberdade. A principal conseqüência desta ação é  a desumanização do homem.

Resta evidente o mal do totalitalismo, que não deve ser confundida com autoritarismo. Ele não quer apenas aprisionar o homem, quer eliminar sua liberdade de pensamento, sua liberdade interior. Por isso é antinatural e violento.

Liberdade de escolha

É o livre arbítrio. Refere-se a poder realizar uma escolha. É o contrário do que prega o determinismo, segundo o qual nossas escolhas são apenas aparentes pois uma série de fatores anteriores como a cultura e os valores impostos por uma sociedade já nos levam a uma decisão e ficamos apenas com a sensação de estar escolhendo.

O que existe, na verdade, é um conjunto de valores, que nos servem de base para nossas decisões. Estas podem ser certas ou erradas, porque podemos escolher bem, melhorando nossa condição, ou mal, nos enganando sobre o que nos convém.

Liberdade moral

Ao utilizamos nossa liberdade de escolha, se realizamos um ato bom, este ato reforça a possibilidade de repeti-lo, trata-se da virtude. Se por outro lado, escolhermos um ato ruim, reforçamos nossos vícios.

A virtude é o fortalecimento da vontade, e permite ao homem aspirar a bens árduos e distantes. A liberdade moral é um ganho de liberdade que permite ao homem realizar coisas que antes não podia, é a realização da liberdade fundamental ao longo do tempo. É o delineamento da própria vida. Viver é a capacidade de criar projetos e realizá-los. A liberdade moral é viver a própria vida, completar a própria biografia.

As metas mais elevadas para um homem consistem em seus ideais, a liberdade moral se relaciona com a liberdade que o homem tem de realizar esses ideais.

Liberdade Social

É a liberdade da pessoa realizar seus ideais dentro da sociedade. Por exemplo, para se adquirir uma moradia é necessário que na sociedade haja moradias disponíveis, e que esta moradia tenha um preço que se possa pagar. Para ter liberdade social é necessário, em primeiro lugar, que exista um ambiente onde se encoraje o exercício da iniciativa na equação dos próprios ideais.

Dentro deste contexto, surge a miséria. É a situação em que o homem fica preso a um mecanicismo em que não consegue fugir e, principalmente, crescer. Vai além da pobreza e, por isso, não pode ser vencida pela esmola.

A miséria é a forma mais grave de ausência de liberdade, porque reflete na ausência de bens necessários para a realização da vida humana na sociedade. A conquista das liberdades acontece paralela à libertação da miséria, liberdade significa, antes de tudo, educação. Proporcionar meios para que a pessoa possa guiar sua própria vida.

É preciso dar ao homem liberdade para que realize o melhor de si mesmo.