Como tenho dito, acabou

Estou me mantendo afastado da discussão nas redes sociais sobre o impeachment por dois motivos. O primeiro é que qualquer discussão sobre o assunto é inútil. Quem ainda está no barco que está naufragando é porque quer tocar como a orquestra do Titanic, até o último acorde. Não existe praticamente mais nada que se possa descobrir sobre esse governo que faça seus apoiadores mudar de idéia; praticamente tudo que tipo de crime já está evidente. Querem negar? Que neguem, mas não contem com a razão para fazê-lo. Mas não pretendo me demorar nesse primeiro motivo, prefiro o segundo.

O segundo motivo para não entrar mais em discussão é até certo ponto prosaico, e também tem a ver com a inutilidade de se argumentar qualquer coisa agora. As manifestações de 2013 foram completamente difusas, apontando em tudo que é direção. Um fenômeno típico das manifestações de massas e que nos levou perigosamente para perto de um endurecimento do regime (leiam o excelente Por Trás da Máscara, do Flávio Morgerstein). Março do ano passado teve mais foco, mas apesar do carácter de revolta contra o governo, ainda havia muita palavra de ordem contra a corrupção em geral, o que também dissipava os resultados. Mas março deste ano foi diferente. Milhões de brasileiros foram às ruas para dizer com toda clareza que queriam o impeachment. Nesse dia eu disse que acabou. Não sabia bem porque, mas relendo A Rebelião das Massas, do Ortega Y Gasset, um dos livros essenciais do século XX, entendi a razão. Após a primeira parte, onde disseca o homem-massa, assunto do livro, Ortega entra na segunda parte com um capítulo que merece ser relido várias e várias vezes, Quem Manda no Mundo?

A resposta de Ortega é categórica:

Jamais alguém mandou na Terra baseando seu mando essencialmente em outra coisa que não na opinião pública (…) mas o fato que a opinião pública é a força radical que nas sociedades humanas produz o fenômeno de mandar é coisa tão antiga e perene como o próprio homem. (p 148)

Ele prossegue, afirmando que trata-se de uma lei: “a lei da opinião pública é a gravitação universal da história política“.

Não se pode confundir. Ortega não diz que a opinião pública manda, mas que o mando se baseia nela. A partir do momento que a opinião pública se manifestou claramente pelo impeachment, se tornou questão de tempo sua aprovação. O partido sabe disso, e por isso tenta ganhar tempo para mudar essa opinião, mas não tem como. Qualquer ato praticado, normalmente em desespero, só reforça essa opinião, que é pela saída. Até nas ditaduras, com todo o poder do estado é assim. Um pouco de história é suficiente para mostrar o quanto os governos comunistas investiram em propaganda interna para convencer a própria população que estava tudo melhor que antes (A Rebelião dos Bichos). Um governo não submete uma população contra sua própria vontade.

Portanto, não entro em qualquer discussão sobre o impeachment. Como disse desde março, apenas assisto o show com pipoca e guaraná. E guardo minha garrafa de whisky para o desfecho.

O jogo já foi jogado. Resta apenas teatro.