Reflexões

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O problema de ler muito é que de vez em quando a gente se confunde e não lembra mais o que se leu e onde. Pois bem, em algum lugar eu li que a democracia é baseada no direito à liberdade e na sabedoria de não utilizá-lo. É mais ou menos assim: se todos usarem na plenitude o direito de se expressar livremente a sociedade se torna impossível. Não significa que o direito deve ser limitado pelo estado, mas que as pessoas devem abrir mão desse direito em favor da convivência e até mesmo como ato de amor ao próximo. 

2

Ainda sobre liberdade de expressão, o verdadeiro teste da tolerância é aceitar o direito de alguém expressar algo que você discorda frontalmente e que até mesmo lhe seja ofensivo. Saber até onde você pode aceitar essa proposição é saber até onde você aceita a liberdade de expressão. Eis a minha relação, por exemplo, com o porta dos fundos.

3

O cristianismo tem na sua essência o livre arbítrio e o modelo de santidade. A boa nova foi a superação do caráter mandatário do Deus do velho testamento pelo caráter de convite. Jesus não nos obriga, ele nos convida. Não é por acaso que símbolos como casamento, festa e ceia apareçam tanto nos evangelhos. O problema é que sempre podemos recusar um convite e é justamente a responsabilidade que essa decisão implica que causa tanto desconforto ao homem hodierno. Muitas pessoas preferem um conjunto de normas mais impositivas e um modelo mais mundano, mais fácil de se identificar. Elas não querem efetivamente uma fé, querem uma desculpa para lidar com suas consciências.

4

O politicamente correto é além de tudo perigoso. Imagine que um determinado grupo minoritário, ou seja, todo mundo, tenha uma associação comprovada com determinado tipo de crime. Em nome do politicamente correto não se pode concentrar os meios do estado para investigar e vigiar membros desse grupo, mesmo que a probabilidade de que esteja ali o problema seja elevada. Em nome de uma idéia reconfortante, deixa-se de lado a realidade. E pessoas morrem por causa disso.

5

Dentre as coisas mais sérias ditas por Jesus está a afirmação de que ele é a verdade. Poucos pensam na recíproca. 

Será que se pode dizer que foi um ataque contra liberdade de expressão?

Quase todo jornalismo repete até exaustão que foi um ataque de fundamentalistas radicais contra a liberdade de expressão. Bem, quando o jornalismo começa a repetir em uníssono os mesmos jargões o meu desconfiômetro começa a disparar. Será que foi mesmo um ataque à liberdade de expressão?

Fico com a impressão que os dois terroristas muçulmanos, que me parece ser a expressão mais correta porque são terroristas e muçulmanos, alvejaram pessoas reais e não liberdade de expressão. Estavam cumprindo uma fatwa que já existia há algum tempo e queriam mesmo era vingar Alá, matando os chargistas do jornal. Se duvidar nem sabem o que é a tal liberdade de expressão.

Sabem o que é atacar a liberdade de expressão? É o governo Obama mandar prender um cineasta por ter feito um filme que segundo terroristas seria a motivação para o ataque à Bengazi, tese já rejeitada. É os governos ocidentais tomarem ações para intimidarem jornalistas e artistas de criarem qualquer coisa que possa ser considerada uma provocação à sensibilidade desses malucos. Sei não, acho que apenas os estados são capazes de atacar a liberdade de expressão.

No caso dos chargistas da Charlie Hebdo, foi justificativa para saciar um desejo de sangue humano. Tudo que esses loucos querem é uma desculpa: se não for uma charge será um filme, uma música, um penteado. Ou vocês acham que eles estariam vendendo quibe em uma padaria se a Charlie Hebdo não tivesse publicado aquelas charges? Não se deixem enganar, só há uma forma do ocidente não ofendê-los:converter-se ao islã. Tentaram há alguns séculos, estão tentando novamente.