Aposto que se fizerem uma pesquisa de percepção, perguntando às pessoas se consideram o mundo superpovoado, a esmagadora maioria consideraria que sim. Afinal, somos quase 7 bilhões de pessoas no globo! A imagem que nos vem a mente é da Índia , o metrô de São Paulo na hora do rush, a cidade de New York. Certamente temos gente demais no planeta e pior, continua crescendo. Mas será esta percepção verdadeira?
Outro dia saí de Brasília para levar o carro de minha mãe para Campo Grande. Dormi em Jataí, no interior de Goiás, e cheguei hoje à tarde ao meus destino final. Foram 1050 km de percurso. Deu para contar nos dedos das duas mãos as cidades que atravessei; a grande maioria mais para vilas do que propriamente para cidades. Cheguei a fazer um percurso hoje de mais de quase 200 km entre uma cidade e outra. Imensas fazendas com áreas a perder de vista e um enorme vazio.
O problema do número bilhão é que automaticamente nos sugere um número gigantesco, que foge à nossa percepção. Basta ver que não conseguimos registrar esse número em 99% das calculadoras do mundo. Mas será um número necessariamente grande?
Vejo que o corpo humano tem 10 trilhões de células. Comparado com este número, um bilhão parece pouca coisa. Parece que temos um total de 5 milhões de km3 de água doce no planeta. Todos parecem concordar que essa quantidade é pouca, mas se mudarmos de unidade, para hm3, chegaremos a 5 bilhões; se levarmos para litros então, não sei nem como expressar.
Ou seja, o número em si, não representa nada. O que sabemos é que não há dúvida que o metrô de São Paulo, na estação da Sé, as 18:00 de um dia de semana é insuportável. No entanto, no mesmo horário, há pessoas caminhando tranquilamente no Parque do Ibirapuera. E as praias do Rio de Janeiro estão praticamente vazias, boas para uma partida de futebol de areia.
Fiquei pensando o que aconteceria se toda a população do mundo fosse deslocada para o Brasil. Teríamos uma densidade de 747 pessoas por km2. Seria a maior do mundo? Vou no google. Seria a décima, logo depois de Jersey, aquela ilha que condenou o Maluf. E o primeiro, qual seria? China? Índia? Que nada, Mônaco! Um país que está muito longe de ser considerado um inferno para se viver! Lá a densidade é de inacreditáveis 16.000 habitantes por km2! A própria Nova Iorque tem uma densidade de 10.000 habitantes por km2, e seus moradores adoram a cidade.
Retomando, se toda a população do mundo fosse colocada no Brasil, a densidade seria vinte vezes menor que o principado de Mônaco. E o resto do mundo estaria desabitado! Parece um mundo superpovoado? Ou parece um mundo com algumas regiões superpovoadas, bem poucas por sinal? Sobre a China, sempre uma referência para superpopulação, a densidade é menor que a dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na relação de países do mundo, fica no lugar 54. A Suiça, aquele país inóspito, fica em 44.
Se aplicássemos a densidade da Suiça no tamanho do planeta, teríamos uma população no planeta de 27,6 bilhões de pessoas.
A segunda questão seria se estamos nesse caminho. Contrariando todas as previsões, as taxas de crescimentos estão caindo fortemente, inclusive na África e Sudeste Asiático. Nestes locais elas ainda são relativamente altas, cerca de 4 filhos por mulheres, mas era de mais de 8 há pouco tempo atrás e continua caindo. O mundo como um todo está na faixa de 2,2, justamente a de estagnação populacional, mas cairá ainda mais em uma década. Significa que chegaremos nos 8 bilhões em 2050 (26 anos de 7 para 8). Já maior do que os 12 anos de 1963 a 1975. Ninguém arrisca dizer se chegaremos algum dia nos 9. Mais provável que terminemos o século em torno de 7. Já há modelos prevendo 6 bilhões.
Em resumo, minha imagem de um mundo de imensos vazios demográficos não estava completamente errada; nem minha intuição de um planeta surpreendentemente subpovoado. Parece que o principal fator é a urbanização, que está longe de diminuir para as próximas décadas. Ainda há continentes inteiros vivendo no campo. Talvez o grande desafio da humanidade não seja enfrentar um suposto crescimento, mas de ter um mundo mais distribuído. Não há como viver todo mundo em algumas poucas cidades.