Algumas observações sobre o ataque bucéfalo a Raquel Shererazade

Uma coisas que escritores como Orwell, Mann e Eliot perceberam é que a ideologia não tem como ganhar o espaço sem a destruição da linguagem. Para que sua visão de mundo possa triunfar é absolutamente necessário que as palavras percam sentido, que adjetivos se tornem substantivos, que coletivos abstratos se tornem indivíduos concretos. Um bom exemplo esta semana foi os ataques à âncora do SBT, Raquel Shererazade.

Em uma de suas intervenções do jornal do SBT ela disse, sobre o episódio de um grupo que prendeu um marginal em uma árvore, que achava compreensível tal atitude devido a completa falta de segurança pública no Rio de Janeiro. Pronto, abriram as portas do pinel. A matilha saiu ensandecida acusando-a de defender justiceiros a fazer justiça com as próprias mãos. Confesso que se ela tivesse mesmo dito o que a esquerda bucéfala leu, teria que concordar mas o ponto é que ela não disse. Há um diferença absurda entre dizer que compreende porque os ” justiceiros” fizeram o que fizeram e dizer que as pessoas devem fazer justiça com as próprias mãos. Ela não defendeu o direito dos justiceiros, ela criticou duramente a ausência de segurança pública no Rio de Janeiro, o que é outra completamente diferente.

O fato é que já nos acostumamos que existem horários e locais que não se pode circular, que mesmo nos outros temos que estar atentos o tempo todo, que mesmo aqui na Praia Vermelha estão roubando bicicletas e celulares a mão armada. Uma população desarmada, sem proteção nenhuma, se tornou pato a ser abatido por marginais. Raquel Shererazade não pediu por ação de justiceiros, mas por ação do estado, o que é coisa bem diferente. E transversalmente tocou na questão do desarmamento, mas não vou entrar nesse assunto agora.

O interessante que a esquerda acusa-a, como quase sempre, do que faz. Os mesmos que querem a cabeça da apresentadora defendem as ações terroristas do MST, das FARC, “compreendem” as ações dos traficantes, se apaixonam pelos protestos dos black blocs. Tem uma apresentadora do Globo News que falta babar de admiração a cada bomba desse último grupo. Não vi ninguém pedindo a cabeça dela. Acham super natural ter uma ex-terrorista como presidente (alguns idiotas usam presidenta) da república, mas acham um absurdo uma apresentadora de tv dizer que compreende certa reação de algumas pessoas. Ao mesmo tempo, gente como Sakamoto praticamente diz que um assaltante tem o direito de roubar um relógio porque a vítima estaria ostentando riqueza, como no caso do Luciano Hulk.

Há tempos que os comentários de Raquel incomodam. Viram na fala dela uma oportunidade, mas para conseguir o que tentam era preciso mudar o sentido do que ela disse, ignorar o conteúdo objetivo da fala. Fácil. Acuse-a do que ela não disse, dê a suas palavras o significado que quiser. Em outras palavras, corrompa a linguagem.

Para esses, lembro apenas uma frase cérebre que minha saudosa vó dizia o tempo todo: deixa de ser idiota!

Mas é pedir muito, não?