Toda sociedade é conduzida por dois tipos de homens: os teóricos e os práticos. São dois talentos diferentes e raros foram aqueles que conseguiram tê-los ambos em grau razoáveis. Normalmente temos bons teóricos com pouca capacidade de ação ou realizadores com pouca imaginação. Dessa forma, esses últimos se deixam inspirar pelos primeiros e conseguem contribuir para o avanço de sua sociedade, dando a liderança necessária para que as coisas aconteçam. Assim temos dobradinhas como José Bonifácio e D Pedro I, Milton Friedman e Ronald Reagan, Benjamin Constant e Deodoro, Marx e Lenin. Como se pode observar nos exemplos, se a idéias estiverem na direção errada, o homem prático levará a sociedade ao fracasso; se forem corretas, haverá avanço.
A questão brasileira atual é que os homens práticos sentem terrível inveja dos homens teóricos, que por sua vez desprezam os realizadores. Há um divórcio quase total e a consequência é que os líderes políticos agem por instinto e mesmo quando são bem intencionados, e aí a tragédia, são incapazes de identificar o que está errado e, principalmente, o por quê. Seria remediável se eles aprendessem com os teóricos corretos, mas o orgulho é muito grande para se rebaixar a tanto. Por isso qualquer perspectiva de melhora vai demorar muito.
Nos últimos anos o domínio cultural da ignorância começou a ser ameaçado e tem muita gente boa começando a colocar as idéias corretas para circular, começando a influenciar uma novíssima geração de líderes e formadores de opinião que ainda levarão muito tempo para ter os meios de ação para poderem fazer a diferença. É assim mesmo. O importante agora é romper as trevas e fornecer a luz. Sem esse primeiro passo, a mudança de rumos se torna impossível. Sem os teóricos, os homens práticos pouco podem fazer porque não sabem em que direção agir.
A geração de práticos que disputam o poder no Brasil são de dois grupos: os que seguem as teorias erradas e os que não seguem nenhuma. O primeiros, que estão no poder, afundam ainda mais o país. Os seguntos, quando possuem meios da ação, se perdem por falta de coerência e idéias claras. No fundo, o grande problema é o culto da ignorância, que tem que ser rompido no país para acabar com a cegueira coletiva. Nós brasileiros temos que entender que a inteligência é uma virtude que deve valorizada como um dos principais valores da sociedade e não ridicularizada como coisa de excêntricos. Temos que ter a humildade de aceitar que não somos donos da verdade e que existem pessoas mais capacitadas do que nós para estudar problemas e apresentar soluções. Ao invés de invejá-los, e desprezá-los, temos que ser profundamente gratos a eles. Por isso sou grato a gente como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Leibniz, São Tomás, Chesterton, Joaquim Nabuco, e, entre os vivos, a Olavo de Carvalho, Joseph Ratzinger, Padre Paulo, Paul Johnson, Peter Kreeft, etc. Mais do que me dar respostas, eles me apontam caminhos para explorar por mim mesmo, e usar minhas limitadas capacidades para tentar fazer algo útil para alguns, como esse blog.
Que os homens práticos brasileiros consigam entender essa dinâmica e passem a estudar, vencendo a própria ignorância. Talvez seja tarde para a minha geração, mas a que está se formando tem uma real chance, especialmente pelo ambiente cultural que está sendo rompido. Esses jovens, não os que estão quebrando nas ruas, mas os que estão lendo e aborvendo as idéias corretas, são a nossa maior esperança.