Paradoxos e hipocrisia

Vejam a distribuição da pirâmide econômica no Brasil.

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Eu me encontro na passagem da faixa verde-escura para a verde-clara, ou vice-versa. Para alguns eu sou classe média, para outros eu sou rico, ou mesmo pobre. Só o que sei é que graças a Deus eu não tenho tudo que quero, e espero nunca ter. Até porque isso é impossível. Por mais dinheiro e poder que alguém tenha, nunca terá tudo e sua frustração pode ser bem maior que a minha. Digo de coração que não tenho a menor inveja de quem tem mais do que eu, e não trocaria de lugar com nenhum deles.

Tem um monte de gente que acha essa distribuição absurda e escreve dia sim e dia também contra o 1% que está no topo. Para gente como Sakamoto, Brum, Safatle, Chauí, e tantos outros, esse topo da pirâmide é o foco de todo mal que atrasa o Brasil. Só que não é contra eles que vosciferam suas entranhas a cada porcaria que escrevem, é contra os que estão abaixo, a turma dos verdes claro e escuro, e que gostam de chamar de classe média. Na cabeça deles, se considerarmos que pensam com um cérebro, o que tenho minhas dúvidas, a classe média são um monte de zumbis sem inteligência e coração conduzidos pelos 1%.

O grande paradoxo é que quando vamos ver, esses marxistas, declarados ou não, pertecem justamente ao 1%. Não é a toa que recentemente a bruxa da filosofia, Madame Chauí, disse que não é a renda que define a classe econômica, mas o pensamento reacionário. Ela não tinha outra escolha. Só assim ela pode se passar por pobre ganhando seu salário de professor titular da USP, que a coloca no topo da pirâmide. Esses hipócritas gostam de dizer que as pessoas são produtos da classe a que pertencem, exceto eles, é claro, que são tão bons e inteligentes que conseguem ficar fora de todo este esquema, como se estivessem a parte da sociedade. De certa forma repetem o erro de Descartes, que para analisar a existência se colocou fora dela, como um observador fora do tempo e do espaço, ou seja, Deus. Eles se acham pequenos deuses que analisam a sociedade de fora a partir de um ponto de vista absoluto e imparcial. Conseguem estar no alto da pirâmide mas ao mesmo tempo não estar.

E fica eu, um bocó, que ganho bem menos do que eles, e que não sou financiado pelo governo, defendendo as liberdades individuais diante do pensamento pseudo-marxista dessas bestas. Bestas bem pagas, que fique claro. Assim temos um mundo em que o Sakamoto usa seu Mac Pro para atacar o capitalismo excludente e atacar empresas por exploração do trabalhador, fingindo que não sabe como foi fabricado seu apple. Fica o José de Abreu defendendo o comunismo ao mesmo tempo que procura um apartamento para comprar… em Manhattan! E o mané aqui fica defendendo o capitalismo, com todos os seus problemas, e de certa forma o direito do topo da pirâmide, do qual eles fazem parte, de ter e usar sua propriedade privada. Que mundo!

Só para terminar, o fato de defender o direito de cada um sobre sua propriedade não quer dizer que concorde com o uso que cada um faz do seu dinheiro e dos seus recursos. Só que liberdade só tem sentido diante da possibilidade de escolher mal; não existe isso de liberdade apenas para o bem, coisa que muita gente não consegue entender. Só existe valor em fazer a escolha certa quando era possível fazer a errada. Só existe mérito de fazer um bom uso de sua propriedade se tiver também a possibilidade de fazer um mal uso. Não acho que a liberdade seja absoluta, como querem os libertários, mas também não concordo que ela deva ser moldada para um resultado desejado pelas patrulhas da consciência alheia.