Sempre que leio um texto de André Petry, penso logo no livro “A Traição dos Intelectuais” de Julien Benda. Ele é o representando do progressismo no Brasil, uma espécie de embaixador do partido democrata, a esquerda “limpinha” americana. Quando a Veja o colocou como correspondente em NY para acompanhar a eleição ano passado, eu não tive nenhuma dúvida que teríamos um porta voz de Obama na maior revista do país. Agora o governo Obama é coberto pelo jornalista. Coberto no sentido de cobrir mesmo.
Por que recorro a Benda? Porque foi um dos primeiros a denunciar essa classe de vigaristas que renunciavam o dever maior do intelectual, descobrir a verdade. Os intelectuais traidores não possuem interesse nenhum em entender o mundo e descobrir como as coisas são; seu interesse é estar certo. Bruno Tolentino, falecido poeta brasileiro, cunhou bem o termo para a visão que este tipo de intelectual: o mundo como idéia.
Na Veja desta semana, Petry fala da cúpula da cerveja. Até Petry foi obrigado a reconhecer que o professor Gates estava errado, mas não chegou tanto em relação a Obama. Este apenas interpretou mal os fatos pelo histórico racista americano (engraçado que Petry dizia ano passado que eleger Obama era mostrar que o racismo não existia na América!). Para equilibrar o jogo __ aqui cabe uma regressão, para um esquerdista só existe duas hipóteses: eles estão certos ou eles estão errados, neste caso tem que ter um erro do outro lado para alcançar um equilíbrio) __ Petry colocou que dois erros não fazem um acerto. O segundo erro, em sua concepção torta, teria sido do policial que usou de truculência.
Truculência que não houve. Para sorte do policial, ele estava acompanhado de outros dois; para sorte maior ainda, um era negro e outro hispânico. Tem que crescer muito cabelo em ovo para a imprensa americana ousar questionar um negro ou hispânico. Tivesse o policial sozinho ou acompanhado de dois brancos, estaria frito. Parece que um policial esperto tem que sempre ter um outro policial, negro ou hispânico, ao seu lado para ter alguma credibilidade. Com a cortesia de décadas de hegemonia dos progressistas na cultura.
Petry ainda avança mais um pouco na impostura. Disse que a única correta na história, excetuando Obama, é claro, que está além do bem e do mal, foi a vizinha que chamou a polícia pois esta teria tido o cuidado de evitar dizer no telefone que os suspeitos que tentavam arrombar a porta da casa de Gates eram dois negros. Sempre que estou em dúvida é bom escutar Petry. Ele me dá uma boa pista do caminho errado.
Se a vizinha percebeu que os dois arrombadores eram negros, deveria ter mencionado. Assim como teria se fossem asiáticos, brancos, índios, gordos, baixos, carecas ou o que for. É sempre importante informar a polícia o máximo de detalhes possíveis para preparar uma ação. O medo de uma pessoa de informar para a polícia uma característica de um suspeito baseado no racialismo é um mal provocado pelo politicamente correto. Os dois não eram suspeitos por serem negros e sim por estarem arrombando uma porta. Será que arrombar uma porta não é sinal suficiente para que um vizinho chame a polícia?
André Petry é uma amostra do que há de errado com o jornalismo no Brasil e no mundo. Uma boa parte dos jornalistas, talvez a maioria, não está interessada em mostrar a realidade do que acontece e interpretar de acordo com critérios lógicos. Querem provar que estão com a razão, que são iluminados tentando apontar o caminho da virtude para o pobre homem comum. Para isso destorcem os fatos ou simplesmente recusam-se a levá-los em consideração para não ter que lidar com eles.
Benda escreveu seu livro na década de 20. Ainda não tinha visto o nazismo, pouco conhecia do terror comunista, não tinha visto 1968, a cobertura americana da ofensiva Tet e muito menos o politicamente correto em ação. Benda é a amostra de um homem que preferia estar errado a ter razão. Infelizmente, para ele e para nós, estava certo. Ele sim foi um verdadeiro intelectual.