Deixei de ser católico há quase duas décadas. Não deixeis de ser Cristão para que o leitor entenda que crer em Cristo é traço marcante de minha personalidade pois passa pelo meu entendimento da própria existência. O cristianismo não é uma mitologia que me consola nos momentos difíceis, pelo contrário, é talvez a parte mais real da minha existência, a parte que dá sentido a toda minha existência.
Reinaldo Azevedo cantou a bola sobre o protocolo do acordo entre a Igreja Católica e o governo brasileiro. Alguns juristas manifetaram-se, particularmente a Associação dos Magistrados do Brasil, sobre o possível retrocesso que o documento provocaria na separação da Igreja e o Estado. Reinaldo recomendou, não acredite em mim, leia a íntegra do acordo.
Foi o que fiz. Li o acordo atentamente, da primeira á última linha. Não vi absolutamente nada que ameace a separação já consagrada nas nossas leis. O artigo que enfureceu uma parte dos nossos juízes fala sobre o ensino religioso. Não há como ser mais claro que no Artigo 11. Fala em direito de liberdade religiosa e a importância do ensino religioso para a formação integral da pessoa. Podem discordar que este tipo de ensino seja importante no entanto devem respeitar eu e todos os demais brasileiros, uma parcela bastante significativa, que acredita que a religiosidade é sim uma parte importante da formação da personalidade.
Quer dizer que os ateus são abrigados a assistir aulas de ensino religioso? Muito pelo contrário. O acordo afirma claramente a matrícula facultativa; mais ainda, diz explicitamente ensino católico ou outra confissões religiosas, um campo suficientemente amplo para englobar qualquer tipo de fé. O acordo abre uma porta, tanto para católicos quanto para qualquer outra fé, que complemente o ensino regular com uma disciplina específica de ensino religioso. Onde está o retrocesso? Quel existam pessoas que consideram a religião importante para o desenvolvimento humano? Isso é opinião. Ninguém está querendo colocar alguém contra a vontade para assistir aula de religião. O que a Igreja quer, e é direito seu, que os pais que desejem tenham este caminho para seus filhos.
Por que fala-se tanto em tolerância com as religiões em geral, até mesmo em seitas que utilizam técnicas de programação neuro-linguística, mas esta tolerância é vedada aos católicos em particular e aos cristãos em geral? Muitos que levantam as armas para combater o ensino religioso acham normal rituais indígenas com mutilações e mesmo infanticídio. Estranho mundo onde pode-se matar uma criança em nome de um cultura mas não se pode assistir uma aula sobre a vida de Cristo.
Digo o mesmo que Reinaldo Azevedo. Não acredite em mim, leiam o documento. O ordenamento jurídico brasileiro é ressaltado o tempo todo e a liberdade religiosa, para todos os cultos, é re-afirmada.