Quando este blog fica em silêncio, normalmente é porque seu autor resolveu deixar de lado um pouco a luta e refletir sobre tudo que está aí. Ganhar um pouco de distância, ganhar perspectiva, tentar enxergar com um pouco menos de paixão e combatividade.
Uma pessoa que me é muito cara me disse outro dia que estou ficando muito radical em minhas opiniões. Ela estava tão certa, mas tão certa, que respondi sem pensar que estava enganada. Não parei nem um segundo para pensar no que ela me disse, para considerar que talvez estivesse com a razão.
Desde então tenho refletido sobre o assunto. Ela chegou a lembrar a célebre frase de Aristóteles: a virtude está no meio. Lembrei da última vez que tentei argumentar a sério com alguns amigos. Passei da conta, soube disso no momento que falava. Usei termos fortes, gesticulei, tornei-me exatamente o tipo de pessoa que tenho procurado me opôr; tornei-me um homem massa; um homem preso ao próprio discurso.
Encontrar nossas próprias convicções é um exercício inebriante e perigoso. Somos tomados pela euforia, queremos dividir nosso ponto de vistas, muitas vezes passando por cima do direito dos outros em escutá-la. Fico relembrando a cena que discuti com meus colegas. Não estava muito diferente da Heloísa Helena falando do Plano Real ou de um líder grevista. Acho que se tivesse um megafone na mão teria usando-o dentro do meu próprio apartamento!
Perdi o senso de perspectiva. Hora de parar, arrumar o pensamento. Não se trata de abandonar a luta e deixar se levar pela inércia que nos levou ao ponto que estamos hoje. Não se trata de fugir do confronto, de deixar de defender suas idéias. Trata-se de ver o confronto onde existe realmente confronto, evitando misturar jantar entre amigos com debate políciico-filosófico no estilo bolchevique. Cada um em seu campo.
Hora de lembrar que a moderação deve ser usado quando couber, que devemos defender nossos ponto de vistas, mas com tranqüilidade e deixar sempre aberto o caminho para o recuo quando nos convencermos que embarcamos em uma canoa furada. Li em um contro do Dostoievsky, ainda neste fim de semana, que um determinado personagem só se deu conta da estupidez de seu argumento quando o pronunciou. Tem toda razão. Quantas vezes para defender uma convicção não lançamos mão do pior argumento possível, um argumento falho, deparando-nos com a estupidez que nós próprios pronunciamos. Teremos a h0nestidade intelectual de reconhecer o erro e reformular? Pior ainda, não teremos nos deparado com uma contradição suficiente para colocar em dúvida uma de nossas idéias? Neste caso, somos honestos para pelo menos reconhecer nossa perplexidade?
A todo momento somos influenciados pelas pessoas que estão a nossa volta, para o bem e para o mal. Por vezes tentamos imitar um traço de uma pessoa que admiramos sem entender, todavia, que este traço não faz parte de nossa personalidade. Seguindo por este caminho, acabamos por nos descaracterizar. Nos tornamos cópias mal-feitas de outra forma de pensar, refletir e agir. Devemos aprender com quem admiramos, mas não a ponto de perder nossa individualidade.
Este longo trecho reflexivo foi para me situar novamente no embate cotidiano de um mundo de imposturas. Para acender na minha frente o sinal de alerta para não cair nas armadilhas que são colocadas no caminho de quem se propõe a pensar, a deixar um pouco a mediocridade cômoda da sociedade da informação.
Uma das piores coisas que podem acontecer a um homem livre é tornar-se cópia do próprio mal que optou em combater.