Durante a semana inteira li em tudo que é jornal a notícia que o bispo de Recife teria excomungado a mãe e os médicos responsáveis pelo aborto de uma menina de 9 anos. Os jornais televisivos noticiaram o mesmo fato. A Folha de São Paulo publicou um editorial sobre o assunto. Diz no primeiro parágrafo.
CAUSA ESPANTO a iniciativa do arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar a equipe médica e a mãe da menina de nove anos submetida a aborto para interromper gravidez. Em depoimento à polícia, o padrasto disse que abusava sexualmente da garota, que mora em Alagoinha (PE).
No dia 7 de março publiquei aqui:
O ponto foi o anúncio da excomunhão dos médicos e pais por um bispo de Recife e, principalmente, a reação que se seguiu. Um dos casos que a excomunhão é automática é o aborto, não depende de processo ou ato de um religioso.
Argumentei que o bispo não tinha excomungado ninguém, apenas tornado público o que já era automático. Poderia eu, um reles blogueiro na multidão da net, estar certo e o editorial de um dos maiores jornais do país estar errado? Um editorial?
O bispo está nas páginas amarelas da Veja. Disse ele:
O que o senhor diria aos católicos que condenaram sua atitude?
Antes de tudo, quero deixar bem claro que não fui eu que excomunguei os médicos que praticaram o aborto e a mãe da menina. Isso é falso. Eu não posso excomungar ninguém. Eu simplesmente mencionei o que está escrito na lei da Igreja, o cânone 1 398, do Código de Direito Canônico, que está aí nas livrarias para qualquer um ler. Por essa lei, qualquer pessoa que comete aborto está excomungada, por uma penalidade que se chama latae sententiae, um termo técnico que significa automática. Então, não foi dom José Cardoso Sobrinho quem os excomungou. Eu simplesmente disse a todos: “Tomem consciência disto”. Qualquer pessoa no mundo inteiro que pratique o aborto está incorrendo nessa penalidade – mesmo que ninguém fale nada.
Este é apenas um exemplo em mil do compromisso de boa parte da mídia com a verdade. Podem discordar ou concordar com o bispo, é de cada um, mas não podem acusá-lo do que não fez, muito menos em um editorial de jornal! Será que não é possível discordar do bispo sem falsear a verdade?
Qualquer um pode discordar da Igreja Católica. Engraçado que o cristianismo e o judaísmo são as duas únicas religiões que são constantemente criticadas pelos ocidentais. Qualquer outra religião, ou culto, é tratada com respeito e admiração. Não vejo em nenhum jornal ou revista uma crítica ao budismo, hinduísmo ou o islã. Esta última então é tratada cheia de dedos. Outro dia um cineasta holandês foi impedido de entrar na Inglaterra para exibir um filmete de 17 minutos que criticava o islamismo. Mas tudo isso é outra estória.
O fato mais grave aqui é que o maior jornal brasileiro mostrou no mínimo o total desconhecimento do assunto que estava tratando. Não sou católico, mas uma rápida consulta na internet me mostrou duas coisas. A primera, que a excomunhão era automática (o bispo não a praticara); a segunda, que é uma penalização que só vale para os católicos. Eu mesmo estou inserido em um dos seus artigos, por abandonar a religião. Algum problema? Nenhum. Pois eu não comungo com a totalidade dos códigos da Igreja Católica! Sou indiferente, portanto, ao que um bispo pode achar de mim.
Em 1984, um ex-propagandista soviético chamado Yuri Bezmenov denunciou todo um esquema de subversão efetuado há décadas pelo regime comunista. Um dos pontos que tocou foi o papel da mídia. Os soviéticos aproveitavam-se da mediocridade dos jornalistas para espalhar sua política de subersão. Em sua maioria, estes jornalistas eram inocentes úteis, nem sabiam o que estavam fazendo. Era homens investidos de grande poder, com capacidade de influenciar na vida das pessoas e ao mesmo tempo funcionários acomodados da grande mídia. Seu traço principal era justamente a mediocridade.
Quando se lê o que se escreve por aí por jornalistas, vejo que Bezmenov tinha razão. A mediocridade é assustadora. Assim a Folha resolve criticar um bispo pelo que não fez e demonstra que meia hora de internet lhe daria pelo menos um conhecimento mínino do assunto. Considerando, é claro, que o jornal tenha agido apenas por desconhecimento.
Finalmente, sou totalmente a favor da liberdade de imprensa, ninguém deve ser impedido de escrever o que bem entender. Apenas sonho que a sociedade tenha um pouco mais de entendimento para usar seu direito de ignorar o que é dito pelos picaretas. E que estejas caiam no ostracismo pela sua absoluta falta de respeito pela verdade.