Estadão:
“Em quatro anos, o endividamento do brasileiro cresceu quase 70% na relação com o número de salários recebidos. Entre cheque especial, cartão de crédito, financiamento de veículos, crédito pessoal e empréstimos imobiliários com recursos livres, o consumidor devia dez meses de salário em setembro. Em 2004, a dívida correspondia a 5,9 meses de salário.
Os cálculos são do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga. Para chegar a esses números, ele considerou a evolução da massa de salários com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis regiões metropolitanas e o montante de crédito concedido ao consumidor.
Comento:
De maneira geral, o cidadão tem duas coisas que pode fazer com seu dinheiro, além de rasgá-lo. Ele pode gastá-lo ou guardar para usar mais tarde.
Quando decide gastar, ele movimenta a economia. Produtos vendidos significam sinal para fabricar mais e toda a roda de produção se movimenta. Empregos são criados, tanto na fábrica quanto nos serviços. É o crescimento econômico cuja face mais visível é o aumento do PIB.
A outra opção é deixar de gastar o dinheiro. Desta forma ele contribui para a poupança interna, mesmo que decida investir na bolsa de
valores. Este dinheiro fica disponível para o mercado financeiro e se torna fonte para investimentos. A economia se retrai, mas se este dinheiro for bem utilizado e investido em infra-estrutura, o país fica em condições de crescer mais.
Este foi o grande problema do governo FHC. Com a explosão do consumo gerado pela estabilização da moeda, deixou-se de fazer poupança interna e o resultado foi a paralisia nos investimento. Chegou uma hora que a infra-estrutura necessária não aguentou e o Brasil entrou em recessão.
Com a bonança mundial, decorrente da bolha financeira mundial, o Brasil conseguiu crescer economicamente, não tanto quanto alardeia o governo, ao mesmo tempo que iniciava projetos de infra-estrutura com investimentos externos. Infelizmente a maioria dos projetos não saiu do papel e o governo gastou mais em propaganda do que em ações efetivas.
O fato é que os investimentos sumiram da praça. A tão condenada bolha que se formou, que possibilitou que China e Índia dessem o salto que deram e tirou milhões da miséria, estourou e agora o mercado financeiro se retraiu. O dinheiro sumiu da praça.
O Brasil está no limite de sua infra-estrutura. O problema energético, que gerou o apagão, está longe de ter sido solucionado. Nossa rede de transportes é precária e se deterioriza a cada dia. Somos não entramos em colapso por que a economia cresceu abaixo da média mundial; se fosse o contrário já teríamos encontrado um novo apagão.
O Brasil precisa fazer poupança interna para financiar os investimentos em infra-estrutura. Fica um tanto quanto difícil quando o brasileiro está endividado. Pior ainda quando o presidente da república vai a público incentivar não só a gastança como o endividamento. Isso com um governo que cobra uma das maiores cargas tributárias do mundo para pagar sua própria incompetência.
Estamos em uma sinuca de bico. Governo e sociedade precisam apertar os cintos para nos colocar efetivamente no caminho do desenvolvimento econômico; nem um, nem outro parecem dispostos a fazê-los.
Chegará um dia em que serão obrigados. E será muito mais traumático.