Nosso sistema eleitoral está longe de ser razoável; o voto obrigatório, a eleição proporcional, o horário eleitoral obrigatório na TV, a quantidade gigantesca de candidatos, as regras ditatoriais da justiça eleitoral, tudo isso contribui para que o processo democrático no Brasil não funcione como deveria.
Como sair desta armadilha? Como romper este círculo? Ontem um amigo disse que era completamente cético, que nunca nos livraríamos da nossa elite política, de nossas oligarquias. Talvez tenha razão, realmente é um problema cuja solução não se mostra evidente.
Intuitivamente a educação surge como uma resposta. Um povo mais educado, em teoria, teria mais condições de julgar melhor a realidade. Quando vejo a posição dos intelectuais brasileiros começo a duvidar. Que um jovem universitário se empolgue com as idéias socialista é até compreensível, vive em um mundo de sonhos, não tem ainda a vivência da realidade para compreender que estamos em um mundo real onde essas idéias simplesmente não funcionam. O grande problema é ver a quantidade de intelectuais já com certa idade defendendo o retorno ao tempo do boi e do arado.
Mais educação? Com certeza, mas educação e não doutrinação ideológica. Ensine o homem a lógica, a matemática, as regras gramaticais, a física, a química, a história, a geografia e ele compreenderá melhor o mundo. Eleja como prioridade formar o cidadão e você terá o homem massa tão bem descrito por Gasset, a vaquinha de presépio das idéias que atrasam, quando não destroem, a sociedade.
Se achar o caminho para reformar nosso sistema viciado e fracassado é difícil, saber o que não funciona é muito mais fácil. Alertei há uma semana, e o quadro não mudou, que existia uma campanha sistemática de demonização do voto. A principal evidência é o trabalho dos chargistas. Por que os chargistas? A charge na capa de um jornal é a primeira coisa, talvez a única, que um analfabeto funcional se ocupa. Seu poder no consciente e subconsciente é ainda subestimado por muitos.
O que poderá vir de bom em convencer o eleitor que seu voto é inútil, que todos os políticos são desonestos? Combinado com o voto obrigatório só teremos a continuação da degeneração política brasileira e a perpetuação do divórcio entre a sociedade e a classe política. A demonização do voto não é uma saída, os chargistas deveriam estar alertando aos eleitores a importância do voto que está depositando na urna, é possível fazer bastante humor crítico com esta premissa.
Como disse antes, a constância e quantidade de charges sobre o assunto me preocupa. Não teria uma mão invisível por trás destes artistas? Não teria o movimento sido orquestrado?
O que pretende eu não sei, mas sei o suficiente para saber que não será bom para a democracia; não será bom para a sociedade.