Nova estatal

Folha:

A Petrobras não resiste mais à idéia de criação de uma nova estatal para gerir a riqueza do petróleo e avança nas negociações para um aumento de seu capital por meio da incorporação de áreas ainda não leiloadas próximas ao campo de Tupi, na bacia de Santos.

Depois de um início tenso de conversas com o governo, a Petrobras se convenceu de que a futura empresa a teria como sua parceira estratégica e decidiu priorizar, no curto prazo, entendimentos para garantir a exploração das seis áreas da camada do pré-sal em que é majoritária na bacia de Santos.

Há algo de profundamente ilógico quando uma empresa se contenta com a chegada de uma concorrente. Isso só demonstra que a tal empresa de capital misto é da boca para fora, na prática a Petrobrás funciona como uma estatal. Sua parte mista existe para garantir flexibilidade operacional e fugir das restrições das empresas públicas. É uma garantia que os prejuízos serão divididos entre os acionistas e os lucros serão administrados pelo governo de plantão.

A Petrobrás é um dos cânceres que precisam ser extirpados da vida brasileira. Pena que esta possibilidade simplesmente não existe tamanho o ufanismo que se criou em torno da empresa.

Mais sobre os Nunes

Os meninos Nunes são aqueles mineiros que estudaram a vida inteira em casa. O ministério público resolveu processar os pais por abandono escolar e na tentativa de decidir a questão o Tribunal de Justiça ordenou que aplicassem uma prova envolvendo questões de português, matemática, história, geografia, inglês, artes (?!), esportes (??!!?) e outras matérias.

Para a surpesa de muitos eles passaram nos testes __ aliás, já haviam passado em um vestibular de direito. Os que viram os testes comentam que apenas uma extrema minoria de estudantes da rede pública conseguiria passar.

Algo está muito errado quando amadores (os pais dos meninos) conseguem fazer um trabalho muito melhor do que especialistas. A educação pública é um fracasso no Brasil e ainda acreditamos que tudo vai bem, que basta injetar mais dinheiro.

Injetar dinheiro em um projeto fracassado só potencializa o prejuízo. Pode até ser que se precise de mais recursos, mas primeiro precisa-se endireitar o projeto. No entanto nossos educadores continuam batendo o pé, o modelo está correto. Pior, acreditam que devemos insistir e aumentar as variadas teses furadas que nossos especialistas copiaram sem entender direito. Novamente, contra todas as evidências do mundo real, insistirmos no erro na esperança que o mundo se adapte a ele.

A polêmica envolvendo Júlio César

Sou um crítico contumaz da mordaça do politicamente correto que os jogadores de futebol são submetidos. Até comemoração de gol pode ser confundido com ofensa ao time adversário, declarações polêmicas nem pensar. Jogador agora tem acessor de imprensa para cuidar de sua imagem. Tudo muito efadonho e muito chato. Entrevista de jogador de futebol tornou-se uma das coisas mais efadonhas de nossa existência; foi o tempo em que um jogador falava que iriam vencer o jogo seguinte. Hoje seria confundido com empáfia.

A polêmica já ficou conhecida. Lula fez críticas à seleção brasileira comparando-a negativamente à Argentina. O goleiro brasileiro respondeu no mesmo tom e recomendou que o presidente se mudasse para aquele país. A CBF entrou em cena e o Júlio César teve que se retratar.

Juca Kfouri achou a decisão correta e afirmou que não se pode se referir daquele jeito ao presidente da república. Até concordaria, se o presidente se desse ao respeito. Quando Lula esquece de sua pesição e se coloca como torcedor comum, fazendo comentários não pertinentes à posição que ocupa está arriscado a escutar como torcedor.

Foi o presidente que não deu o respeito devido ao cargo que ocupa. Em termos populares como gosta de usar: quem fala o que quer escuta o que não quer.

É uma pena que Júlio César tenha se retratado pois abriu mão de um direito que possui, o da livre expressão. Qualquer pessoas em uma democracia é livre para criticar seu presidente. Pode-se lamentar o teor das críticas e até acusar a falta de respeito, o que não pode é cersear este direito.

Um presidente que não se dá o respeito não merece respeito.

Aborto de Anencéfalos, entrevita com Marco Aurélio Mello

Chesterton conta em sua obra Ortodoxia que não foi a Bíblia ou livros de filosofia cristão que o fizeram abraçar o cristianismo, foi justamente o contrário. Foi através da leitura de livros que defendiam o ateísmo que tornou-se cristão. Os argumentos que defendiam a não existência de Deus foram os que o convenceram que Deus não só existia de fato como era a única explicação razoável para a existência.
Pensei nisso quando li a entrevista do Ministro Marco Aurélio Mello na Veja da semana passada. Tratou do julgamento da extensão do direito de aborto para os anencéfalos. Até agora evitei tocar neste assunto espinhoso porque sinceramente levanta-me todas as dúvidas possíveis. Pensar em uma criança sem cérebro me dá até um calafrio e nem consigo imaginar a dor que os pais devem sentir diante de uma situação destas.
Marco Aurélio defende seu ponto de vista a favor deste tipo de aborto. Conseguiu me convencer. Ao final do texto eu já era contra o aborto de anencéfalos. Se estes são os argumentos para defender a extensão da lei só posso colocar-me contra.
Reproduzo aqui a entrevista e a minha perplexidade com os argumentos do Ministro.

Por que o senhor defende o aborto de anencéfalos?
Para mim é pacífico: não há a menor possibilidade de sobrevivência quando não se tem cérebro. A situação do anencéfalo é muito clara: não há nenhuma possibilidade de vida futura. No entanto, é fundamental dizer aqui que não se trata de obrigar a mulher a praticar a interrupção da gravidez. Ela tem total liberdade de escolha. É um direito dela.

De fato uma anencéfalo tem uma expectativa de vida reduzidíssima, mas qual o horizonte que o ministro está falando? Temos no Brasil o exemplo de uma menina que viveu até 1 anos e 8 meses, falecendo por motivo alheio à própria anencefalia. Evidente que nunca poderá fazer nada de produtivo e sua sobrevivência se limita a alguns reflexos, mas não teria esta criança o direito a sobreviver? Não seria o mesmo caso da eutanásia? Se um paciente tiver morte cerebral a eutanásia é permita ou não? Que eu saiba inda é.

O senhor defende a tese de que esse tipo de aborto de fetos anencéfalos seja caracterizado como “interrupção terapêutica da gestação”. Qual é o amparo legal para essa proposta?
O Código Penal viabiliza a interrupção terapêutica da gravidez quando há risco de vida para a mulher. No meu entender, o risco de vida não é apenas uma questão relacionada à integridade física, mas à saúde num sentido muito mais amplo. Estou me referindo aqui à saúde psicológica da gestante. A gravidez de um feto anencéfalo traz danos irreversíveis à mulher tanto do ponto de vista físico quanto do psicológico. E digo mais: quando o Código Penal foi elaborado, em 1940, não havia tecnologia médica para detectar malformações fetais. Se esse tipo de diagnóstico fosse possível naquele tempo, muito provavelmente a interrupção da gestação de fetos anencéfalos já estaria prevista no Código Penal.

Aqui o Ministro pratica uma generalização muito perigosa que na prática pode ser estendida a qualquer situação de aborto. Como se definir a extensão de um possível trauma psicológico? Não estou fazendo pouco da dor que os pais devem sentir ao saber que possuem um filho nesta situação, mas quando o Ministro afirma que os danos serão irreversíveis está extrapolando e muito.

Também não adianta muito tentar adivinhar o passado e dizer que se o diagnóstico fosse possível em 1940 não haveria esta situação no código penal. Agora é possível, o código penal pode ser modificado por lei ordinária. Por que não debater o assunto no Legislativo de forma ampla? Por pior que seja ainda é a expressão da vontade popular e cabe ao Congresso legislar.

Ah, desconfio sempre quando a questão semântica entra na argumentação. Interrupção terapêutica da gravidez? Pode chamar do que desejar, mas continua sendo aborto. Por que evita o nome correto, Ministro?

Em 2004, o plenário do STF derrubou uma liminar concedida pelo senhor que autorizava a interrupção da gestação de anencéfalos. Por que o senhor decidiu trazer o assunto à tona novamente?
Tomei como base o resultado da recente votação na corte do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas. Se esse debate tivesse ocorrido em 2004, muito provavelmente o resultado não teria sido o mesmo. Embora a decisão a favor do uso de células-tronco tenha sido apertadíssima (6 votos contra 5), representou uma abertura do Supremo. Por isso, acredito que agora a Casa aprovará a interrupção da gestação de anencéfalos. Desta vez, a votação será menos apertada do que foi no caso das células-tronco. Diria que teremos um 7 a 4 ou um 8 a 3. E, depois que o Supremo bater o martelo, não adiantará recorrer ao Santo Padre.

A citação do papa da forma que Marco Aurélio fez não é gratuita e o desmerece. É um dos que acreditam que alguém só pode se opor ao aborto por convicções religiosas. Não é bem assim e mesmo que fosse a religião não é um simples conjunto de dogmas que alguém decide seguir, é a aceitação de uma verdade para a existência. Está ligado aos valores morais que uma pessoa acredita.

O senhor acredita que a maior flexibilização do STF abre a possibilidade para a discussão do aborto em geral?
Sem dúvida. O debate atual é um passo importante para que nós, os ministros do Supremo, selecionemos elementos que, no futuro, possam respaldar o julgamento do aborto de forma mais ampla. O sistema atual está capenga. Por que a prática de aborto de fetos potencialmente saudáveis no caso de estupro é permitida? Esse tema é cercado por incongruências. Temos 1 milhão de abortos clandestinos por ano no Brasil. Isso implica um risco enorme de vida para a mulher. Na maioria das vezes, o aborto é feito em condições inexistentes de assepsia, sem um apoio médico de primeira grandeza. Há uma hipocrisia aí. O aborto é punido por normas penais, mas é feito de forma escamoteada. Nosso sistema é laico. Não somos regidos pelo sistema canônico, mas por leis. A sociedade precisa deixar em segundo plano as paixões condenáveis.

Chegamos ao ponto mais perigoso. O Ministro está usando o aborto dos anencéfalos como um passo para alcançar o aborto para qualquer caso, e mais mostra que foi desta forma que tratou a questão das células-tronco. O sistema atual não está capenga mas trás uma questão que pouca gente gosta de tocar: por que o aborto em caso de estupro é permitido? Qual a culpa da criança pelo ato cruel que a mãe foi submetida? É lítico corrigir um mal com outro mal?
Outra vez a estatística mágica de 1 milhão de abortos clandestinos. Nunca houve esta pesquisa, trata-se de um número jogado no debate sem qualquer relação com a realidade. Que um Ministro do STF utilize uma estatística sem fonte nenhuma é algo que preocupa-se. Só faltava ele citar o Temporão como fonte. Sim, somos regidos por leis e até onde sei a maioria da população brasileira é contra o aborto. Por mais que Marco Aurélio discorde não cabe a ele corrigir a sociedade. Pode até tentar convencê-la, o que é bem diferente.

Isso vale para os ministros do STF? Quem votar contra a interrupção da gestação de fetos anencéfalos estará sendo regido por “paixões condenáveis”?
Não temos, no Supremo, semideuses. Temos homens – homens que podem cometer falhas na interpretação da Constituição.

Na prática disse que quem votar contra sua idéia está falhando na interpretação da Constituição. Se eu fosse Ministro do STF perguntaria ao colega o que ele quer dizer com isso? Na minha terra significa que o Sr Marco Aurélio considera-se o dono da verdade, o que é sempre muito perigoso.

O senhor pensava em ampliar a discussão sobre o aborto ao convocar o debate atual?
O tema anencefalia é um gancho para discutir situações mais abrangentes e fronteiriças. Em minha opinião, os casos de interrupção de gestação de anencéfalo e os de aborto de forma mais abrangente, quando a gravidez não é desejada, possuem um ponto importante em comum: o direito de a mulher decidir sobre a própria vida. O princípio que está em jogo nessas situações é o do direito à liberdade.

E como fica a liberdade do feto em viver?  Cuidado com o conceito de liberdade, Ministro.

Para os que se opõem ao aborto, no entanto, a mulher não tem direito a essa liberdade. A Igreja Católica, por exemplo, argumenta que a vida deve sempre ser acolhida como um dom.
É preciso esclarecer que a vida pressupõe o parto. O Código Civil prevê o direito do nascituro, ou seja, daquele que nasceu respirando por esforço próprio. Enquanto o feto está ligado ao cordão umbilical, a responsabilidade é da mulher que o carrega. Quando a vida é totalmente improvável ou indesejada, deve ser discutida.

Discordo completamente do Ministro. A vida não pressupõe o parto. Os direitos civis sim, o que é bem diferente. A responsabilidade é da mulher mas não significa que possa fazer o que quiser com seu filho. Este é o entendimento na sociedade brasileira e deve ser respeitada.
Não vejo lógica neste raciocínio. Imagine um bebê uma hora antes de nascer. Já está completamente formado. Para Marco Aurélio ainda não é uma vida. Uma hora depois, quando sair da barriga de sua mão passa a ser vida. O Ministro pode não ter percebido, mas este é um verdadeiro ato de fé pois pressupõe que a criação da vida é uma ato instantâneo. Nem os cristãos que tanto acusa chegaram a este ponto…

Dessa forma, o debate se estende para outras áreas, talvez até mais pantanosas do que o aborto, como a eutanásia.
A eutanásia pressupõe uma irreversibilidade da vida. Mediante laudos médicos que comprovem o quadro, as decisões poderão ficar a cargo de outra pessoa. Afirmo isso com base no princípio da dignidade da pessoa humana. E não pode haver dignidade com uma vida vegetativa.

O Ministro trata como fato algo que é apenas uma crença sua. Novamente mostra que está tudo interligado com os objetivos de liberar o aborto e a eutanásia. Tudo sem passar pela decisão da sociedade. Marco Aurélio quer mesmo é legislar.

Mas o STF está preparado para discutir esses assuntos?
Meu tempo na corte dura mais oito anos, quando completarei 70 anos. E tenho certeza de que ainda estarei aqui quando essas discussões acontecerem. A tendência é de uma abertura cada vez maior do Supremo em relação a esses temas. Mesmo porque outros ministros, alguns com visões mais conservadoras, se aposentarão antes de mim

Um homem da envergadura de Marco Aurélio nunca poderia usar um argumento destes. Está apostando na aposentadoria dos ministros que chama de conservadores para poder valer sua opinião. Será que tem tão pouca confiança assim nas próprias idéias?

Como católico, o senhor não entra em conflito por suas convicções a respeito desses temas?
Nenhum. Não potencializo a religião a ponto de colocar em segundo plano a razão. Tenho consciência de que exerço a missão sublime de julgar conflitos que envolvem meus semelhantes. Por isso, sei que devo atuar com absoluta espontaneidade. Só acredito no estado julgador se aquele que o corporifica atua com sua própria consciência, sem se deixar intimidar. Sou acima de tudo um interlocutor da sociedade. Nós, integrantes do Supremo, os guardiões maiores da Constituição, não podemos nos render à apatia, que é o mal do nosso século. A Justiça tem o dever de agir sempre que for provocada.

Um interlocutor da sociedade? Qual sociedade? A maioria da população brasileira defende valores identificados com o conservadorismo, incluindo o aborto. Vai ver ele aposta na aposentadoria desta maioria também.

Por que um tema de tanto impacto como o aborto de anencéfalos será definido no STF e não no Congresso?
Porque o Supremo Tribunal Federal é a última trincheira do cidadão.

Que cidadão? O que defende o aborto? E o que é contra? O feto não vou nem falar, o Ministro já deixou claro que não é nem vida, quanto mais um cidadão. É bom lembrar o Ministro que os interlocutores estão no Congresso e não no STF. Pelo menos eu não lembro de ter votado nele.

Concluo:

Marco Aurélio lembrou de muitas coisas que acredito e deixou claro que as liberação da pesquisa com células tronco foi apenas um passo para conseguir a liberação do aborto no Brasil sem o consentimento da sociedade. Assim não se faz. Se querem defender que a mãe possa decidir se terá ou não o filho que carrega que discutam as claras no fórum adequando, o Congresso. Mesmo assim, após a decisão ainda seria o caso de um plebiscito pela importância do tema.

Ensino em casa

Não estava sabendo deste caso do casal em Minas Gerais que resolveu ensinar os filhos na própria casa, uma prática que parece já existir em outros países. A lei brasileira proíbe que os pais não matriculem os filhos na escola. Levando em conta não só o péssimo ensino da imensa maioria das escolas brasileiras mas o péssimo ambiente de valores imposto pelo Ministério da Educação ainda há muito o que se debater. No melhor estilo progressista nossos educadores acham que devem ensinar os valores que acham corretos, não os que os pais desejam.

Segue um artigo sobre o assunto. Li muito superficialmente, assim que tiver um tempo vou estudá-lo com mais cuidado. É um tema que muito me preocupa. Outro dia me disseram para não subestimar o poder do ensino público em educar as pessoas. Não subestimo, muito pelo contrário, tenho é muito medo. A escola é o maior instrumento de doutrinação ideológica do estado, seja ela qual for.

Leia mais aqui.

E o etanol?

Com a empolgação do presidente com o tal do pré-sal cabe uma pergunta para lá de pertinente: e o etanol, como é que fica? A intenção não é liderar um movimento para substituir o petróleo por álcool? Não foi esse o discurso de Lula durante meses sem fim? Não vou nem cobrar a coerência porque definitivamente esse não é o forte do petismo, mas deixo aqui a constatação: os caras querem mesmo é o bom e velho petróleo e uma vaga na OPEP.

Pergunta de seleção: quantos países exportadores de petróleo chegaram ao primeiro mundo? Como é a tão alardeada distribuição de renda nestes países? Antes de estourar sidra (padrão do governo atual) seria bom um plenejamento mais cauteloso, pelo menos.

TV pública

Parei de questionar a TV pública faz muito tempo, no geral acho que foi a melhor idéia do governo Lula. Estava preocupado com dois fatos, a doutrinação ideológica e o pagamento da conta pelo contribuinte[*]. Vejam o que escreveu Nelson Motta na FSP:

O Ibope informa: antes de a TV Brasil incorporar a programação da TV Cultura e das TVEs, a média de audiência nacional dos canais estatais, puxada por raros sucessos como o “Roda Viva”, o “Castelo Rá-Tim-Bum” e o “Sem Censura”, era de 0,75%, cerca de 178 mil espectadores. Com a TV pública, caiu para 0,72%, 166 mil pessoas espalhadas num Brasil de 190 milhões.

Isso me tranqüiliza em relação ao primeiro aspecto, praticamente não há audiência para a tv Lula. E essas 166 mil pessoas? Se estão vendo telejornal chapa branca é porque já estão coptados, são parte daquele eleitorado que sempre vota no PT independente das circunstâncias.

Motta resolveu meu segundo questionamento também:

Como o orçamento da TV Brasil é de R$ 300 milhões, além dos apoios das estatais, a aritmética não mente: cada espectador vai custar ao contribuinte cerca de R$ 2.000. Vale a pena? Ou é muito pouca gente para tanto dinheiro?

Deixe-me ver, R$ 300 milhões é muito dinheiro. Mas por outro lado nos livramos de Tereza Cruvinel e outros petistas que andavam espalhados pela imprensa. Cruvinel deixou de escrever no Globo onde era lida por milhões para cuidar de uma porcaria que ninguém assiste. Quer saber? Saiu barato demais! Topo dobrar este valor e colocar lá mais jornalistas; a TV Lula é o maior sumidouro de jornalista incompetente e/ou engajado que se poderia imaginar!

A TV pública foi a melhor realização deste governo desastroso. Ainda bem.

De volta ao tempo das cavernas

Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.
Augusto Monterroso

Esta não é uma frase, na verdade é um conto de Monterroso, possivelmente o menor já escrito, mas com profundos significados. Tem tudo a ver com os tempos atuais em que o socialismo ressurge das cinzas para assombrar a humanidade. Não mais aquele socialismo raivoso que produziu os gulags, os paredões cubanos, mas um socialismo disfarçado dentro da concepção gramsciana e com conotações nacionalistas.

Já que Lula resolveu começar a distribuir os lucros de uma exploração de petróleo que ainda levará uns bons anos para ocorrer, a Federação Única dos Petroleiros considerou-se no direito de pedir reajuste baseado justamente no pretenso novo tesouro brasileiro e já lançaram até um slogan: “o pré sal é nosso!”. Definitivamente o dinossauro ainda está por aí!

Não é só isso, os valentes lançaram um lista de objetivos para a entidade. Uma lista que nos remete 50 anos para trás e aposta no que não deu certo em lugar nenhum.

1. Restabelecimento do monopólio estatal do petróleo;

2. Fim das concessões a empresas estrangeiras para exploração de petróleo e gás;

3. Destinação social dos recursos gerados pela prospecção do pré-sal;

4. Fortalecimento da Petrobrás como “empresa eminentemente pública.”

Em que mundo esses caras vivem? Ah, os petroleiros são apoiados pelo MST (?!), Via Campesina(?!?), UNE e UBES. Parece que além de terras os líderes baderneiros não dispensam um bom petróleo. UNE e UBES são aquelas entidades que representam uma expressiva e barulhenta MINORIA que resolveu jogar no lixo o cérebro que receberam ao nascer. Uma espécie de anencéfalos conscientes.

Desafia a lógica tentar entender como ainda existem tantas pessoas acreditando na utopia socialista e apostando contra a realidade. Estou cansando de ver este dinossauro. Acho que vou voltar para a cama na esperança de que ao acordar ele já esteja extinto.

A imagem da perfeição (Por Demétrio Magnoli)

A China foi perfeita durante duas semanas. Bem antes da inauguração da curta era da perfeição, o governo chinês alertou a imprensa internacional contra a “politização” dos Jogos Olímpicos. Na linguagem em código compartilhada por todas as ditaduras, o alerta era uma conclamação à imprensa para que praticasse a autocensura. Com raras exceções, por amor aos patrocinadores ou sinceramente comovidos pela eficiência técnica do Estado totalitário, jornais e jornalistas do mundo inteiro se curvaram. Por um tempo fugaz a crítica cessou, abrindo passagem à perfeição.

Ela chegou na cerimônia de abertura, quando a graciosa Lin Miaoke, de 9 anos, com marias-chiquinhas e um vestido vermelho, supostamente cantou Ode à Pátria. O evento era uma fraude, como logo depois se soube por uma inconfidência de Chang Qigang, o diretor musical da cerimônia. A voz oculta atrás da imagem da perfeição pertencia a Yang Peiyi, de 7 anos e com um dentinho torto.

“A razão por trás disso é que precisamos colocar os interesses do país em primeiro lugar”, justificou Qigang. Os “interesses do país” foram definidos na hora derradeira por um integrante do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), que assistiu ao ensaio final e concluiu que a garotinha imperfeita não devia representar a pátria perante a audiência do planeta. A imprensa relevou o ato do poderoso dirigente anônimo, qualificando-o, no máximo, como um episódio de ocultação de informação. Mas o nome disso é eugenismo e o gesto expressou uma dupla lealdade: às origens do moderno movimento olímpico e à tradição identitária do Estado chinês.

O educador Zhang Boling (1876-1951) fundou, em 1904, o Colégio Tianjin Nankai, um centro preparatório da elite chinesa por onde passaram, entre outros, os primeiros-ministros Chou En-lai e Wen Jiabao. Sob a influência das public schools da Inglaterra vitoriana, ele instituiu a educação física na sua “Família de Escolas Nankai”, lançou as bases do Comitê Olímpico Chinês e delineou um programa nacional: “Uma grande nação deve primeiro fortalecer a raça, uma grande raça deve primeiro fortalecer o corpo.”

Não havia originalidade, mas importação, no programa de Boling. O inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin, cunhara em 1883 o termo eugenia e defendia a regulamentação dos matrimônios em razão das virtudes e dos defeitos hereditários dos casais. Nos EUA, inspirado pelas idéias de Galton, Theodore Roosevelt instituiu uma Comissão de Hereditariedade com a missão de estimular o aperfeiçoamento físico e intelectual da raça. Leis de esterilização foram passadas em alguns Estados americanos a partir de 1907, enquanto a Suécia e a Suíça conduziam programas oficiais eugenistas. Sob a presidência de Leonard Darwin, filho do célebre naturalista, reuniu-se em Londres, em 1912, a Primeira Conferência Internacional de Eugenia. Quatro anos depois, Madison Grant publicaria The Passing of the Great Race, obra seminal para o nazismo, que inseria o eugenismo numa moldura racial.

Pierre Frédy, o barão de Coubertin, morreu em 1937 e foi enterrado em Lausanne. Seis meses depois, num ritual macabro de exumação, seu coração foi extraído, transportado e enterrado em Olímpia, o lugar das antigas Olimpíadas, numa cerimônia à qual assistiu seu amigo nazista Carl Diem. Um ano antes, nos Jogos de Berlim, com o apoio de Joseph Goebbels, Diem inventara, e Leni Riefenstahl filmara, o ritual da passagem da tocha olímpica. A inovação dos chineses para os Jogos de Pequim consistiu em fazer da segunda tumba de Coubertin a destinação inicial do percurso da tocha.

“Os jovens de todo o mundo” prepararão o caminho para “aperfeiçoar a raça humana”. Coubertin inaugurou o movimento olímpico sob o influxo dos seus entusiasmos complementares pelo eugenismo e pela educação física. Como tantos conservadores da época, ele rejeitava a utopia socialista, mas compartilhava com seus arautos o desprezo pelo individualismo, com uma crença profunda no Estado e uma fé inquebrantável no poder das técnicas modernas. A escala da tocha chinesa na tumba espiritual do pai das Olimpíadas modernas exprimiu mais que um simbolismo gratuito: o site do Comitê Olímpico Chinês descreve o seu Programa Nacional de Condicionamento Físico como uma ferramenta para “promover atividades esportivas de massa, aperfeiçoando o físico do povo e impulsionando a modernização socialista do país”.

Zhang Boling, tanto quanto Coubertin, poderia assinar o núcleo da sentença anterior. Mas o educador modernista era apenas um elemento num processo maior de infusão de idéias ocidentais. No outono do Império do Centro, um tempo de crise e decadência, quando se rotulava a China como o “homem doente da Ásia”, intelectuais reformadores introduziam na história chinesa um conceito nacionalista de fundo racial e um conceito racial de inspiração eugênica. O mais brilhante entre eles, Liang Qichao (1873-1929), postulou que os chineses Han formavam uma etnia especial, e não apenas a coletividade mitológica dos descendentes do Imperador Amarelo ou o fluido conjunto dos herdeiros culturais da dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.). Esse novo paradigma serviu como alicerce para um projeto de reconstrução nacional baseado na supremacia Han que empolgou tanto os nacionalistas quanto os comunistas.

Há um novo ciclo de modernização em curso na China e uma política externa de “ascensão pacífica” que se nutrem da idéia de restauração das glórias passadas do Império do Centro. A elite burocrática de “comunistas de mercado” do PCC bebe nos chafarizes intelectuais construídos por reformadores como Liang Qichao e Zhang Boling e promove um renascimento nacionalista. O triunfo no quadro de medalhas e a exibição de Lin Miaoke, o “anjo sorridente”, na cerimônia de abertura olímpica constituem declarações políticas dirigidas ao público interno e ao mundo. Imagens da perfeição.

(*) Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br

Rumores das pesquisas

Pelo que estou percebendo na blogosfera parece que Kassab continua com sua tendência de alta e encostou de vez em Alckmin. Há apenas uma certeza nestas eleições, haverá segundo turno. Trata-se daquela divisão famosa da política paulista e brasileira por extensão: 33% sempre vota no PT independente do que aconteça. 33% sempre vota contra. A eleição é decidida pelo 33% restante, logo haverá um confronto de segundo turno entre Marta e um dos adversários.

Aos poucos vai se estabelecendo o quadro que deveria ter sido este certame não fosse a obcessão de Alckmin em concorrer rachando uma aliança vitoriosa PSDB-DEM. O tucano teve sua oportunidade nas últimas eleições e com sua campanha de bom mocismo acabou fracassando quando tudo lhe era favorável; se assistiu o discurso de Palin ontém pode ter tido uma boa idéia do que deveria ter feito nas últimas eleições.