Embora tenha sido proposto por um presidente republicano, o pacote de Bush contrariava uma das linhas mestras de seu próprio partido, a não intervenção no mercado financeiro. Desde o início ficou claro que seria no Partido Republicano a maior resistência ao plano. Em situação normal, os votos do Partido Democrata estariam garantidos pois a regulação do mercado sempre foi uma bandeira da legenda. Mas não é uma situação normal, é um ano de eleições.
Interessa parte dos democratas o aguçamento da crise para solapar qualquer chance de McCain. O pacote de Bush pode não ser uma solução definitiva para a crise mas é uma medida de emergência para evitar o caos maior. Para aprová-lo era necessário dividir os riscos e por isso foi feito uma proclamação pela superação da disputa partidária.
Quando McCain interrompeu sua campanha e foi para Washington seu partido tinha apenas 4 votos a favor da proposta. Conseguiu mais 60 mostrando sua capacidade de liderança. Obama inicialmente manteve-se afastado, foi chamado e compareceu para fazer um discurso e se mandou para não se sujar com a lama. É o prenúncio do que poderá ser um governo Obama, muito discurso e nenhuma ação.
Mesmo assim foi costurado o acordo contando com estes 64 votos. O Partido Democrata entraria com o restante pois não haveria problema de incompatibilidade com seu eleitor, favorável à intervenção do governo no mercado. Foi quando entrou Nancy Pelosi.
Não se sabe ainda se propositalmente ou não, ela fez um duro discurso contra os republicanos culpando Bush pela crise econômica; mais ainda, deixou claro para seu próprio partido que não era o caso de lealdade partidária. Foi a senha para a derrota.
Os democratas apostaram não só na manutenção da crise, mas na culpabilidade de seus adversário confiando no noticiário sempre favorável a seu candidato. O risco é o eleitor entender o que se passou de verdade nos bastidores do Congresso e ver o quanto a campanha de Obama apostou no desastre. Pelo menos esta é a aposta do ex-prefeito Giuliani:
I believe there has been a change right now at this particular point we’re at. I don’t think it’s about Sarah Palin. I think that she’s still giving us help by making the Republican base very enthusiastic, and actually reaching over to a group of voters who might not be thinking about us. I think it’s the economy that’s creating it. The general wisdom is if there’s trouble in the economy, it’s going to favor the Democrat. I think that’s what you’re seeing. But I believe if the public perceives a crisis in the economy, I think it’s going to start favoring John McCain, because I think it’ll be the same reason why they favor him as the more capable being commander in chief. And right now, we need a leader. We need someone who can make tough decisions, somebody who can wade in and get things done. John McCain last week acted like a president, trying to get votes. All this weekend, he’s acted like a president, trying to get votes. Barack Obama is just trying to stay out of the battle, you know, let me keep my skirts clean, and I want to politically position myself. That isn’t the kind of leader we need at a time the country’s at crisis.
Os representantes republicanos que votaram contra o pacote podem ter enterrado as chances de seu partido manter a Casa Branca mas estavam de olho também na própria sobrevivência pois a grande maioria encontra-se em acirrada disputa para manter as próprias cadeiras e sentiram de seus eleitores a rejeição ao acordo. Foi uma bola fora? Não sabemos.
Desconfio que muita coisa ainda vai acontecer até novembro.