No Globo de hoje: verdadeiros heróis nacionais

Não, não é sobre os heróis das Olimpíadas, não. Chega (para a mídia, cada atleta ganhador de medalha de ouro foi herói ou heroína). Refiro-me a personagens históricos que morreram ou arriscaram a vida por uma causa nobre. “O Brasil só se lembra de um único herói, Tiradentes”, declarou recentemente o presidente Lula, ao assinar o projeto de lei que reconhece a responsabilidade do Estado na destruição da sede da União Nacional dos Estudantes, a UNE. Talvez porque a época seja mais dos vilões que dão certo, ele conclamou os jovens a “cultuar nossos heróis”, isto é, “aquelas pessoas que tombaram lutando pelo que acreditavam”.

Nesse sentido, o seu governo podia dar o exemplo, fazendo alguma coisa para salvar das traças e cupins a sede da Associação Nacional dos Veteranos da FEB (Força Expedicionária Brasileira), a entidade que congrega os brasileiros que combateram heroicamente na Itália durante a II Guerra Mundial para impedir que as forças nazi-fascistas triunfassem: os nossos pracinhas, cujo hino a gente cantava na escola: “Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra, sem que volte para lá.” Em 1945, eles eram 24 mil. Hoje, são 7 mil velhinhos com mais de 80 anos em todo o país; no Rio, eles são de 500 a 700.

Há alguns meses, durante uma solenidade, o major Thiago da Fonseca, 87 anos, que atravessou “muito campo minado” nas frentes de batalha, arranjou um jeito de expor rapidamente para o presidente a dramática situação da entidade da qual é um dos vice-presidentes. Com uma doação de R$300 mil em duas parcelas, ele salvaria a associação, que não tem mais como se manter funcionando. Perdeu muitos associados, que já não podem contribuir com a mensalidade de R$20, e teve que dispensar e indenizar oito funcionários. Para continuar preservando o acervo da FEB – fotos, livros e documentos – ela precisa de ajuda em forma de doações. Lula sensibilizou-se com a história, chamou um assessor e ordenou que providências urgentes fossem tomadas. O ex-pracinha conta: “Pouco depois, o auxiliar ligou para saber do que precisávamos. Fiquei todo animado: agora vai!” Que nada, doce engano.

De “pires na mão”, como diz, o major então saiu por aí atrás de recursos. Percorreu várias empresas públicas, das mais conhecidas e poderosas, mas, além de promessas, nada de concreto obteve. Por incrível que pareça, quem mais se indignou foi um empresário russo. Ao tomar conhecimento do caso pela imprensa, procurou a direção da entidade, e é possível que dele saia uma solução.

Não sei o que constrange mais – deixar a Anvfeb entregue às traças ou permitir que um revendedor estrangeiro de bebidas alcoólicas seja a salvação da memória de nossos pracinhas. Será que é isso o que o presidente quis dizer ao conclamar os jovens a “cultuar nossos heróis”?

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