Folha:
BRASÍLIA – Lula precisa desarmar uma bomba-relógio que está sendo colocada no seu colo. Se não elevar o superávit primário e reduzir os gastos públicos, vai deixar o Banco Central sozinho no combate à inflação e a explosão já estará programada, sem volta.
Afinal, o BC, não tenham dúvidas, vai cumprir sua missão institucional, de preservar o valor da moeda brasileira, segurando a inflação o mais perto possível do centro da meta, de 4,5% ao ano.
A macro-economia guarda algumas semelhanças com a administração doméstica. Aliás, em conversa com um administrador de empresas que faz mestrado na área, disse-me ele que guarda muita semelhança.
De vez em quando a situação financeira de uma pessoa apresenta uma melhora razoável, fruto de algum trabalho que está desenvolvendo, um bônus recebido, algumas diárias de viagem. Vem uma certa sensação que é possível voar mais alto, contratar aquele plano de tv a cabo que estava de olho, um segundo carro, a prestação de um apartamento.
Nestas horas é preciso ter muito cuidado e reconhecer situações temporárias. Esta melhora é definitiva? Ela tem lastro? Ela está ligada a uma nova capacitação técnica adquirida? Se não, é melhor ter cuidado ao assumir gastos permanentes e se preparar para quando voltar ao patamar financeiro que se encontrava.
O mesmo pode-se dizer do país. Houve uma melhora econômica nos últimos anos? Houve. O quanto desta melhora se deu a esforços concretos do país? Como por exemplo, melhora da infra-estrutura? Melhora na educação? Melhora no ambiente de negócios? É bom lembrar que o PAC ainda é uma imensa operação de marketing, nem 1% dos recursos de 2008 foram aplicados. Não precisa ser mágico para entender que muito do crescimento dos últimos anos se deu pela conjuntura internacional.
O que fez o governo? Aproveitou este momento para melhorar as bases econômicas brasileiras? Não. Usou o dinheiro para promover o aumento do estado, aumentou o gasto público. Agora, com a crise se avizinhando começa a acender a luz vermelha. Como pagar esta conta? É claro que o olho gordo voltou-se para o contribuinte, mas por enquanto ainda está difícil para arrancar mais dinheiro dele.
O governo está numa encruzilhada. Ou enfrenta o problema reduzindo seus gastos ou vai atrás de mais dinheiro buscando na sociedade mais impostos.
Afinal, o contribuinte brasileiro não é muito de reclamar mesmo…