Sigilo de fonte

O jornalista Ricardo Noblat noticiou que teria sido ÁLvaro Dias a fonte da Veja no caso do dossiê. É um jogo perigoso de Noblat.

O termo vazamento está sendo banalizado neste episódio e é preciso ter atenção. Uma coisa é um membro do governo que tendo acesso a um ato ilegal que estava sendo praticado na casa civil faça uma denúncia para a imprensa fornecendo partes do dossiê como prova. Trata-se de um vazamento e um caso claro de fonte, este indivíduo deve ser protegido com o sigilo pois denunciou uma ilegalidade ou mesmo abuso de poder.

Não parece ter sido esta a situação. O que fica evidente é que membros do governo estariam utilizando material produzido pela casa civil para pressionar a oposição. Se foi um membro do próprio governo que deixou o material “vazar” para a imprensa, o objetivo era claro: que os gastos de FHC se tornassem público como um aviso para a oposição. Declarações de alguns ministros na época do vazamento apontam neste sentido. Esse indivíduo ou grupo podem sim ser investigados pois fazem parte de um esquema.

Outra hipótese é um membro da oposição, pode até ter sido o senador paranaense, diante do dossiê tenha resolvido entregá-lo à imprensa para mostrar a chantagem e o abuso que estava sendo cometido. É um caso de fonte e deve ser protegido por sigilo.

Parece-me que o jornalista está fazendo uma confusão com conceitos. Disse que é obrigação de um jornalista diante de uma notícia dar-lhe publicidade. Não é bem assim. Imagine que se descubra que a polícia tem um informante dentro do PCC, teria então de noticiar o fato e o nome? Pelo raciocínio do colunista, sim.

O sigilo da fonte não é à toa, nem proteção para criminosos. É um dos pilares para a liberdade de imprensa e para a própria democracia. Se fontes começam a ser expostas em praça pública não haveria denúncias de dentro de esquemas criminosos. É um jogo perigoso.

Talvez Noblat tenha avançado demais em sua função de informar.

Jogando cartas pesadas

O governo resolveu jogar pesado no caso do dossiê e agora tenta jogar no colo da oposição sua lambança. Se foi o senador Álvaro Dias que entregou para a revista Veja parte do dossiê ou não, isto é irrelevante. O fato é que foi feito na Casa Civil da presidência da república e distribuído para os parlamentares da oposição a título de chantagem. É possível que Álvaro Dias tenha sido um dos que recebeu e se foi ele quem entregou (não vazou) o documento para a imprensa fez muito bem pois permitiu que a lambança chegasse ao público.

Ao invés de tentar algum entendimento parece que a tática é o confronto direto, que seja. É bom para certos parlamentares da oposição aprenderem que não há o menor sentido em ser condecendente com  esta gente.

É hora de ir à fundo nesta questão, chegar na origem do dossiê e, acima de tudo, quem sabia de sua existência.

Dançando sobre 67 mortos

A dengue fez 67 vítimas fatais e até o exército foi convocado para enfrentar a epidemia.

Não vi o presidente visitando estes postos, nem os doentes.

Mas foi ao Rio. Esteve lá ontem. Junto com Dilma e o governador do estado.

Mais um palanque do PAC ou “paclanque”.

Uma dança macabra sobre 67 mortos.

Breves comentários sobre o noticiário de hoje

Editorial Folha:

PESQUISA DATAFOLHA mostra uma recuperação da imagem do Congresso Nacional. Hoje, “apenas” 39% dos eleitores considera ruim ou péssimo o desempenho de senadores e deputados federais. Na avaliação anterior, de novembro, ainda marcada pela absolvição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), esse percentual chegava a 45%. Não foi o fundo do poço. Em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão, a marca bateu os 48%.

Já esteve pior, mas a avaliação do Congresso Nacional é realmente muito ruim, e com justiça. O que não é bom para a democracia e para o país pois o Congresso deve ser, usando a expressão do presidente do senado, a caixa de ressonância da opinião pública. É através do legislativo que se fiscaliza o estado e estabele seus limites através das leis; quando estas tarefas fundamentais são relegadas o cidadão fica sem defesas diante do leviatã.

Já escutei de um professor que o Brasil deveria ter apenas dois poderes, o executivo e o legislativo. Na prática estamos quase nisso, tamanha a interferência do governo no Congresso. Não é salutar que um senador deixe o cargo atrás de qualquer boquinha no executivo, não no presidencialismo.

Editorial Folha:

A TENTATIVA do governo fluminense de importar pediatras de outros Estados para atender às crianças contaminadas pelo vírus da dengue dá bem a medida da desorganização da medicina pública no país. Faltam pediatras não porque o Rio de Janeiro não os produza, mas porque não consegue motivá-los a trabalhar na rede oficial. Concursos são realizados, mas as vagas não são preenchidas. Essa tem sido uma constante no país.
A principal causa para o fenômeno são os baixos salários oferecidos por Estados e municípios, que, de forma paradoxal, não implicam necessariamente economia de recursos públicos.

O Brasil não é uma federação e aí está uma das raízes do problema de saúde pública. A concentração de impostos,e de poder, no governo federal provoca uma situação de dependência de estados e municípios o que afasta as decisões da população. Não é possível que o governador do segundo maior estado brasileiro tenha que ficar mendigando para conseguir fazer implementar sua políticas. O Brasil precisa de um pacto federativo para valer. Enquanto ele não vém o governo assiste de camarote os estados falidos tentando vencer desafios superiores às suas próprias capacidades.

Folha:

Quebrando acordo feito no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a obrigatoriedade de sindicatos, centrais sindicais, federações e confederações prestarem contas ao TCU (Tribunal de Contas da União). O veto a um artigo do projeto que reconheceu formalmente as centrais sindicais foi publicado em uma edição extra do “Diário Oficial” da União de anteontem e provocou reações da oposição.

Dizer o que? O presidente costuma dizer que não é que a corrupção tenha aumentado, mas que seu governo é mais transparente que os outros. Parece que mudou de idéia.

O Globo:

– Falta muito para fazer. Sou democrata. O Lula deseja fazer o seu sucessor. Mas digo que, se você perguntar aos brasileiros, o que os brasileiros desejam é que Lula fique por mais tempo no poder. Por quê? Porque está bem o Lula, vai bem o Lula, raramente encontramos um cidadão como ele para dirigir o país – disse Alencar à Rádio Bandeirantes. Perguntado se estava defendendo um terceiro mandato, Alencar respondeu:
– Nos EUA, são quatro anos mais quatro. Mas, nos anos 30, Roosevelt teve o terceiro mandato porque os EUA precisavam que ele continuasse.

As maiores democracias impedem a perpetuação no poder, deve haver algum motivo. Sempre que a popularidade do presidente estiver em alta aparecerá alguém jogando no ar a tese do terceiro mandato. Na pior das hipóteses serve como chantagem política.
A referência à Roosevelt é do jogo. O que Alencar não diz é que não havia limite para re-eleição na época. Logo depois foi instituído o limite por se entender que a experiência não havia sido válida. A troca de poder é necessária para a democracia. O que faz a democracia não é vontade da maioria, mas a defesa da minoria através das leis. A minoria tem o direito de eleger um novo presidente em 2010, mesmo que a maioria não concorde.

Augusto Nunes

“Sou cristão”, mentiu há cinco anos, no meio de uma entrevista, o chefão João Pedro Stédile, ajoelhado desde criancinha no altar de Joseph Stalin. Nem foi preciso pedir-lhe que recitasse a primeira parte da ave-maria. “Acredito em reencarnação”, tropeçou já na frase seguinte. Fez uma pausa e completou a brusca conversão ao espiritismo: “Não só acredito como quero viver outra vida rapidinho”.

Socialistas no Brasil tem a estranha mania de quererem ser cristãos, principalmente católicos. Advogam a tese absurda, que já escutei de um professor, que Jesus Cristo foi o primeiro socialista da história. Cristo foi claro: o meu reino não é deste mundo. O do comunismo é. Pretendem construir o paraíso na terra, até hoje só construíram o inferno. Mas tem gente que ainda acredita.

Estado de SP:

O bispo de Barra (BA), d. Luiz Cappio, reuniu-se ontem com entidades sindicais e condenou “as mentiras do governo Lula”. Ao lado da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), ele denunciou o que acredita ser uma “situação de quase ditadura”. “O Executivo tem nas mãos o Legislativo e o Judiciário.” E voltou a criticar a transposição do Rio São Francisco. “É mentira. Esse projeto é para o capital”. Para Heloísa, o projeto é “uma farsa técnica e uma fraude política”.

Esse é bispo não pode ser um representante da Igreja. Condena o governo Lula por não ser comunista o suficiente, não é a toa que está ao lado de Heloísa Helena para gritar que a transposição é “um projeto para o capital”. Não tenho posição sobre a transposição pois quase nada sei sobre ela. Mas quando um religioso usa Marx para defender sua posição é melhor sair correndo e pegar um crucifixo.

Correio Braziliense:

Depois de pagarmos mais pelo gás boliviano, aproxima-se a hora em que, muito provavelmente, teremos de desembolsar mais também pela energia produzida em Itaipu. Fernando Lugo, candidato favorito à Presidência do Paraguai, se reúne hoje com Lula para discutir o assunto. Um acordo supostamente justo sobre o valor da cota de energia que cabe ao país vizinho e nos é vendida está no topo da pauta da reunião e da campanha do ex-bispo convertido em político de sucesso. Em meio a apertos de mãos e sorrisos, Lugo vem dizer educadamente, tal como já o fez o boliviano Evo Morales, que o Paraguai está sendo explorado pelos imperialistas brasileiros.

Sabem quem vai pagar a conta? Adivinhem?

Lucia Hipollito se afunda ainda mais na sua tese

Lucia parece ter realmente se agarrado a sua tese de fogo amigo. Em seu blog hoje trata novamente do assunto, desta vez com algumas pitadas a mais. Afirma que dossiês eleitorais são normais em campanhas eleitorais, tanto aqui quanto em qualquer outra democracia do planeta. A tese dela é que Lula é o responsável pela bagunça ao antecipar a campanha, o que teria dado sinal verde para a movimentação de seu partido.

O que Lucia parece não enxergar, ou não querer enxergar, é que uma coisa é um partido político se debruçar sobre dados públicos para levantar os “podres” de seus adversários. Isto realmente faz parte do jogo, por mais sujo que seja considerado por alguns.

O que aconteceu foi bem diferente. Não se tratavam de dados públicos, mas dados protegidos por sigilo de estado. Pior, dados que foram acessados pelo governo, não pelo partido. São coisas diferentes, em uma democracia existe uma diferença entre partido e governo. Este fornece os quadros para o governo que procura executar a proposta política que foi aprovada nas urnas. O que não pode é o governo tornar-se extensão do partido e passar a fazer política partidária; deve haver uma separação.

Não se trata portanto de um ato normal de partido político em campanha eleitoral. O que aconteceu foi o uso do estado pelo governo para atingir um partido de oposição e um ex-presidente da república.

Fico imaginando o que estes mesmos jornalistas estariam dizendo se a situação fosse o contrário, ou seja, sem em 2011 um presidente de oposição fosse pego montando um dossiê contra Lula.

No pano de fundo ainda está a falsa superioridade moral da esquerda. Se um esquerdista é pego praticando um crime é uma conspiração e procura-se levantar todas as hipóteses possíveis ou impossíveis para tentar justificar o que aconteceu. Se um conservador é pego em qualquer atitude suspeita é crime, independente do que tenha acontecido.

Mas aos poucos a corrupção das esquerdas vai minando este discurso. Pode-se enganar algumas pessoas durante muito tempo, ou muitas durante algum tempo, mas não se engana muitas pessoas por muito tempo.

Tirando o sofá da sala? Ou colocando-o?

Blog do Noblat:

Durante reunião, ontem, da Coordenação Política do governo, Lula cobrou da imprensa a divulgação do nome de quem vazou para ela o dossiê montado na Casa Civil da presidência da República sobre despesas sigilosas do segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Lula sabe muito bem quem vazou e por que vazou, isto antes do vazamento. O que está fazendo agora é seguir o script de que tudo não passou de uma conspiração para atingir… Dilma!

Noblat entrou na onda e dá um pito em Lula: em vez de procurar quem vazou o documento, deveria investigar quem o autorizou. Ainda exclama: “que gracinha”!

Gracinha é comentarista comprar esta versão sem pé nem cabeça. É claro que tem muita gente que não gosta de Dilma no PT, aliás petistas se odeiam, estão sempre disputando poder. Mas daí a acreditar que tinham medo de seus extraordinários 3% de intenções de voto, já é demais.

Por que acreditar que um membro isolado do governo montou um dossiê tentando comprometer o ex-presidente da república para atingir um companheiro de partido é mais verossímel do que o dossiê tenha sido montado tentando comprometer o ex-presidente da república para atingir… o partido do ex-presidente da república?

A verdadeira manchete é: governo usa os poderes do estado para atingir adversários políticos.

Se fosse uma país sério… ah esquece! Não somos um país sério!