China: um exemplo de ampliação indevida

Globo:

PEQUIM. A guerra de propaganda nacionalista do governo da China contra a mídia estrangeira – acusada de manipular informações sobre o país, ser injustamente favorável ao Tibete no episódio dos conflitos em Lhasa e “ferir o sentimento do povo chinês” – subiu de tom ontem após o comentarista político Jack Cafferty, da rede de TV americana CNN, convidado do programa semanal “The Situation Room”, afirmar na quarta-feira passada que os produtos exportados pela China são “um lixo” e os governantes, “basicamente o mesmo bando de estúpidos e assassinos que sempre foram nos últimos 50 anos”.
(…)
– Estamos chocados e repudiamos veementemente as afirmações degradantes feitas contra o povo chinês. O que ele disse reflete sua arrogância, ignorância e hostilidade aos chineses, que ficaram indignados – disse ela. – Exigimos que a CNN e Cafferty se retratem por seus infelizes comentários e peçam desculpas ao povo da China.

Peguei este exemplo na imprensa para mostrar uma das técnicas utilizadas para desqualificar um dabate. É o primeiro estratagema descrito por Schopenhauer em seu texto Como Vencer um Debate Sem Precisar ter Razão. Chama-se ampliação indevida e foi definida desta forma pelo filósofo:

Levar a afirmação do adversário para além de seus limites naturais, interpretá-la do modo mais geral possível, tomá-la no sentido mais amplo possível e exagerá-la.

Cafferty referiu-se ao governo chinês, que naturalmente faz parte do povo chinês. O que faz o seu adversário, no caso o um porta voz do Ministério das Relações Exteriores da China? Amplia a afirmação para todo o povo chinês, o que não foi o que Cafferty afirmou.

É natural dos totalitaristas esconderem-se por trás do próprio povo em um nacionalismo xenófobo da pior categoria. Não é a toa que Samuel Johnson proferiu a famosa frase: “o patriotismo é o último refúgio do canalha“.

Quando o governo chinês resolveu trazer as Olimpíadas para seu território deveria saber que estava convidando a democracia para uma visita, e que esta gosta de opinar sobre tudo e sobre todos. O problema do Tibet estará no centro do debate, não há como evitar.

Infelizmente a grande questão não está sendo ainda levantada: o programa nuclear norte-coreano. O que tem a ver com a China?

Tudo. E este é o problema maior.

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