Lauro Jardim
O custo para a Globo adaptar sua programação aos fusos horários regionais, conforme exigência do Ministério da Justiça, foi de 5 milhões de dólares. Dentro deste total, o valor que pesou mais foi o aluguel de uma nova rede exclusiva para transmissão via satélite. As novas regras estão em vigor desde ontem e alteram a programação em sete estados das regiões Norte e Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Roraima). Na prática, funciona assim: a novela Duas Caras, que a Globo começa a transmitir às 21h em rede nacional, ia ao ar às 20h ou às 19h, no caso do Acre. Agora, o país inteiro verá a novela às 21h – e assim por diante.
É o tipo de coisa que mostra o estado se metendo em tudo.
Ontem estava passando de canal na televisão quando me deparei com um programa americano na FX, o “Man Show”. Trata de dois apresentadores mostrando sua visão “masculina” do mundo dentro daquele estereótipo do macho americano (cerveja + mulher).
Um deles falou sobre o excesso de leis nos Estados Unidos. Defendeu que não havia mais espaço para mais leis. Uma lei proibindo fumar em bares? Então tem que liberar outra, tipo “masturbar no ônibus”. Sim, o tom é jocoso, mas as vezes as coisas têm que ser vistas por uma lente de aumento.
Um deles brincou com o ditado. Dê um peixe a um homem e ele se alimentará por um dia. De a ele uma vara de pescar e ele não poderá comer, pois precisa de uma licença para poder pescar. E depois pagar taxas. Também não poderá comer o peixe que pescou, precisa de uma autorização especial. Precisa ascender uma fogueira? Precisa de licença. E assim por diante.
No fundo é a concepção que o homem é um completo inútil sem o estado. Voltando ao Brasil, parece que os pais são completamente incapazes de controlar a programação que os filhos assistem. Besteira. Sou pai, já morei na Amazônia com fuso horário diferente. Sempre há uma forma para evitar a dependência da televisão, a mais tradicional é passar o tempo com eles. Simples, não?
Ah, mas dá trabalho. Sabem como é. No fim do dia está todo mundo cansado, ter que dar atenção ao filho? Basta ligar a televisão! Sei que tem pais com dificuldades para ficar com os filhos, chegam em casa tarde e etc, mas acreditem, o estado não é solução e não resolve o problema.
O Ministério da Justiça está sempre muito preocupado com o que está passando na Globo, mas ignora solenemente o baixo nível apresentado por suas concorrentes ao longo do dia inteiro. Por que?
Aliás, faço outra pergunta, quantos pais estão preocupados com o que realmente os filhos estão assistindo na televisão? Mais uma vez o estado se mete e sempre que isso acontece alguém paga. As emissoras, principalmente a Globo, passa a ter um custo maior. Quem paga este custo? Com certeza o consumidor que perde em qualidade. Existe a mania de achar que o lucro da empresa é um fundo infinito que tudo pode ser tirado de lá. Não pode. Aumentou os custos de uma televisão aberta ele tem que ser repassado. Como não pode ser para quem assiste teria de ser para o anunciante, mas o que este paga é função do mercado. Então se diminui os custos. Algumas demissões aqui, alguns cortes ali e está tudo resolvido.
E o demitido ainda sai reclamando do capitalismo ou do neo-liberalismo. No fundo da questão está o estado, sempre querendo coletivizar tudo e reduzir o indivíduo à nada.
Em 1984, O’Brien diz à Smith durante uma seção de tortura:
“Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano, para sempre”.
Esta bota é o estado.