Engraçado

Pela blogosfera se sabe que foram feitas várias manifestações de apoios à Uribe em Bogotá, inclusive que o apoio popular chegou a mais de 80%. Sobre isso silêncio na mídia. Quando vejo na Uol, o site noticia protestos contra Uribe. Abro a notícia e vejo que trata-se de um protesto de 30 manifestantes do partido comunista do México! Qual a relevância? Por que o silêncio sobre o apoio ao presidente colombiano e destaque para meia dúzia de gatos pingados em um país que não tem nada a ver com o conflito. Aliás talvez nem em Caracas se encontre 30 manifestantes para criticar os colombianos. No Brasil é certo de encontrar, basta em qualquer sala de aula de humanas na UFRJ ou na USP…

Artigo de Jefferson Péres

O artigo de Jefferson Péres na Folha de hoje é um dos mais lúcidos que já li vindo de um esquerdista. É um dos casos de gente que se pode até discordar, mas nunca perder o respeito, e neste artigo foi muito bom para refletir um pouco sobre coisas que ainda não tinha pensado.

Basicamente tratou do confronto entre socialismo e capitalismo que se instalou a partir do Manifesto Comunista de Marx (1848). Segundo Jefferson,  “a análise marxista, excessivamente reducionista, foi parcialmente correta no diagnóstico, falha na terapia e um grande fiasco no prognóstico“.

Marx fez um diagnóstico sobre o capitalismo de seu tempo. Na época existia um vazio jurídico, não havia legislação trabalhista, seguro social, proteção ambiental. Era realmente o capitalismo selvagem onde a acumulação do capital era baseado no menor custo de produção possível. Era “um modelo condenado ao desaparecimento, porque socialmente cruel e politicamente insustentável“.

O grande erro do marxismo foi acreditar que o capitalismo não evoluiria, que se manteria estático. Este erro, para um dialético, é imperdoável segundo o senador do PDT.

O erro dos seguidores de Marx foi acreditar que o remédio receitado, o socialismo, seria viável sem o colapso do capitalismo, que supostamente ocorreria nos países mais desenvolvidos. Aí estaria o grande fiasco de Marx no prognóstico.

Segundo Péres, o capitalismo do tempo de Marx era a própria negação da economia de mercado. O socialismo acabou sucumbindo diante da evolução do capitalismo e sua nova dinâmica. ” Ora, o sistema de mercado só funciona bem dentro de um marco institucional, interno e internacional, solidamente estabelecido. Vale dizer, precisa de paz, de regras claras e de segurança jurídica, tudo que não havia na época do velho capitalismo e do seu corolário, o neocolonialismo. ”

Considera que no velho capitalismo o mercado foi anulado pela omissão do estado, no socialismo real pela sua hipertrofia.

O pensamento de Péres se distancia nesta frase do liberal e do conservador. Está aí o germe da social-democracia, onde o estado teria um papel de equilíbrio no mercado, atuando para corrigir e evitar as crises. Já aqueles acreditam que papel do estado estaria mais na segurança das regras jurídicas estabelecidas democraticamente pelo parlamento, sua participação como agente econômico seria o mínimo possível.

Não creio que tenha sido o estado o grande ator a modificar o capitalismo. A legislação trabalhista saiu do confronto entre trabalhadores e empresários e foi negociada nos parlamentos nacionais. Foi mais um consenso da própria sociedade do que intervenção do estado. É claro que estou falando dos países onde estas legislações surgiram. No Brasil foi obra realmente do estado, e até hoje estamos pagando por regras que não foram estabelecidas por negociação entre as partes interessadas, no caso, trabalhadores e empresários.

O próprio Jefferson lembra que o capitalismo ainda não se reformou por completo, e sua transição encontra-se em nível diferente nas várias partes do globo. O Brasil ainda teria de “fazer um contínuo aperfeiçoamento do arcabouço institucional, para remover o entulho que impede o pleno funcionamento da economia de mercado. ”

Péres conclui que o Brasil precisa se livrar da “sucata mental” que impede a leitura do mundo de hoje e principalmente do de amanhã.

É  um texto de um homem lúcido, que apesar de algumas discordâncias pessoais, reconheço como um político de respeito e me dá uma esperança que nem só de canalhas é constituído nosso congresso e até mesmo nossa esquerda.

O senador mostrou como se constrói um debate democrático e se deve fazer política.

Sarkozy, simplesmente vergonhoso

A posição do presidente francês na crise iniciada por Chávez e Corrêa é uma vergonha sem limites. Custo a crer que seja motivada por puro antiamericanismo, mas é o que fica cada vez mais claro. É o mal que acomete a França desde a II Guerra. Quem viu o filme “Fuga das Galinhas” tem uma idéia do recalque. A França não só rendeu-se em período recorde como montou um governo de colaboração com o nazismo. Pouca gente sabe, mas no início Pétain tinha apoio popular explícito; até hoje os franceses não suportam a idéia de que foram libertados por americanos e ingleses. Só foram para a partilha da Alemanha como potência dominante por interferência de Churchill que queria isolar a União Soviética. Lamentar a morte de um criminoso como Réyes é uma vergonha sem tamanho para o presidente francês, falta de vergonha na cara mesmo.

Repito aqui a frase de Reinaldo Azevedo em seu blog: “Nicolas Sarkozy deveria mandar cavoucar as praias da Normandia para desenterrar os corpos dos americanos que libertaram seu país“.

Que papelão!

Eliene Castanhêde e o Foro de São Paulo

Esta articulista da Folha representa bem a infiltração da esquerda na mídia nacional. Defendeu a ocupação da reitoria da USP como uma espécie de “maio de 68” paulista e chamou a polícia de fascista por acabar com a festa. Agora resolveu falar do Foro de São Paulo.

Vinte anos depois da queda do Muro de Berlim e seis após Lula renegar o Foro de São Paulo para aderir ao neoliberalismo que condenava nos tucanos, a América Latina ainda vive a Guerra Fria.

Segundo ela, Lula renegou o Foro há 6 anos. Faltou combinar com ele, pois ano passado discursou celebrando seu sucesso. Sempre que um jornalista fala a palavra neoliberalismo é preciso ter atenção, na maioria das vezes não tem a menor idéia do que seja, é apenas sua palavra de ordem. Chamar o Brasil, com o estado do tamanho que é, de neoliberal é uma grande piada. O que Lula fez foi estratégia. Sabia que dependia do bom desempenho econômico para se manter no poder e os princípios adotados no governo FHC era a única garantia neste sentido. É a nova aposta da esquerda: deixamos o capitalismo em paz mas controlamos o estado em tudo mais. É o que estamos vendo. Além do mais, o tal “neoliberalismo” garante mais dinheiro no cofre para os companheiros não é mesmo?

Células-tronco: decisão adiada

Como estava previsto, o ministro Carlos Menezes Direito pediu vistas ao processo e a decisão do STF fica adiada em pelo menos 10 dias. Sobre esse assunto, a Folha publicou em editorial hoje:

A iniciativa do ministro recende a atitude protelatória, pois é difícil imaginar que os magistrados participantes deste que é um dos mais polêmicos julgamentos da história do STF ainda não conheçam os argumentos esgrimidos e não tenham suas convicções formadas -o que poderia justificar o pedido de vista.

Se fosse assim, todo pedido de vistas seria protelatório e não é verdade. O que Direito pretende não é estudar o processo, mas dissecar a argumentação do relator. Esta só veio a público ontem! Infelizmente não há como fugir do trocadilho aqui, é direito de Direito exercer esta prerrogativa. É o verdadeiro sentido da dealética conforme vista por Aristóteles. Diante de uma opinião, constrói-se uma contrária. Do embate das duas chega-se mais perto da verdade, desde que se esteja sinceramente atrás dela. Nada leva a crer que os ministros não estejam realmente dedicados a chegar a uma decisão justa.

A Folha ainda argumenta que o atraso coloca em risco vidas humanas. Este argumento só pode ser classificado como espúrio. Mesmo nos países mais avançados, ao que eu saiba, ainda não tem nada de concreto na pesquisa da célula-tronco embrionária. Diante de tão relevante questão, não vejo como 30 dias a mais (caso o pedido seja renovado) atrasará tanto assim o avanço científico.

Pelo que vi a pesquisa será autorizada pelo STF. Particularmente não sei qual a decisão certa neste caso. O problema é que li “Admirável Mundo Novo”, e quem o leu não esquece. Huxley descreveu uma sociedade perfeita, onde todos eram felizes e tinham bem definido sua posição na sociedade. Não haviam doenças, a ciência atingira a quase perfeição. E a sensação de ler o livro é de profunda agonia; perfeito ou não, aquele mundo não era humano.

Uma pausa na crise

Parece que uma trégua foi acertada na reunião da OEA. Fizeram bem, um confronto armado na região não tem o menor cabimento. Tal situação só chegou a este ponto pela atitude de Chávez e seu lacaio, Corrêa. Os sócios do foro de São Paulo recuaram quando perceberam que a situação era insustentável e diante do que foi revelado até agora nos computadores do pançudo que está jogando cartas com Che no inferno.

Pela primeira vez eu vi gente falando na imprensa sobre o Foro de São Paulo além de Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo e a turma do PT. É algo por demais curioso. Todos os envolvidos afirmam que o Foro existe, admitem que o objetivo é tornar a América do Sul um mar vermelho, mas a grande mídia faz silêncio. Agora aparece gente como Merval Pereira e Boris Casoy falando do Foro, já é um avanço.

A posição brasileira também ficou escancarada. Diante do conflito entre um governo legalmente constituído, que possui relações de amizades com o Brasil, e uma guerrilha de narco-traficantes, ficou com os últimos. Aos poucos as narrativas sobre as condições dos reféns vão demolindo a imagem de bons revolucionários que as FARC desperta para alguns. O Brasil rompeu com uma longa tradição de neutralidade entre nações. Ficou do lado de um delinqüente que protege terroristas diante de um presidente que os persegue. Pobre herança de Rio Branco, um dia o Itamaraty terá que desinfetar todo o papel vergonhoso que vem fazendo nos últimos anos.

O PT divulgou uma nota que não só condena veementemente a Colômbia como ainda tem a audácia de chamar Reyes de “negociador”. Não é, trata-se de “sequestrador”. Negociador é quem é designado para negociar com o facínora a libertação de reféns.  O partido mostra toda sua amoralidade novamente. É bom. Cada vez mais se afunda no papel que criou para si próprio de arauto da ética na política. O dia em que o mito Lula for desconstruído, e será, nada restará desta agremiação.

Outra boa notícia é o desespero de Chávez. Sua popularidade afunda a cada dia junto com a irresponsabilidade econômica que implantou em seu país. A tendência é aumentar cada vez mais a violência de seu governo, até o dia que haverá um basta. Creio que não termina seu governo. E é bom já ir pensando em um exílio, se ficar acabará enforcado em praça pública.

A Rebelião das Massas

José Ortega Y Gasset

A Europa ficou sem moral. Não é que o homem-massa menospreze uma antiquada em favor de outra emergente, mas é que o centro do regime vital consiste precisamente na aspiração de viver sem se submeter a qualquer moral. (…) O imoralismo chegou a uma vulgaridade extrema e qualquer um se vangloria em exercita-lo (…) Se deixarmos de lado __ como já fizemos neste ensaio __ todos os grupos que representam a sobrevivência do passado __ os cristãos, os “idealistas”, os velhos liberais etc. __ não se achará entre os representantes da época atual uma única pessoa cuja atitude diante da vida não se reduza a crer que tem todos os direitos e nenhuma obrigação”.

É impossível fazer uma resenha rápida sobre esta obra monumental do filósofo espanhol José Ortega Y Gasset. Escrita nas décadas de 20 e 30, é de uma atualidade impressionante. Previu para os tempos futuros a União Européia, o consumismo, a ditadura de legalidade, o caos da descolonização da África, a explosão da violência.

No centro de todo este processo o novo tipo de homem que surgia na virada do século XIX para XX, o Homem-massa. Gasset o apresenta com todas as suas características. É um homem satisfeito consigo mesmo, que não reconhece nenhuma instância superior a ele, que acha-se no direito de impor sua opinião, de exercer a violência. Possui idéias mas é incapaz de formá-las, é um recipiente de opiniões alheias. Não reconhece uma moral a que deva se submeter; tem todos os direitos mas nenhum dever.

A rebelião desta massa conduz a um mundo sem moral, onde a Europa deixava de exercer o papel de mando provocando uma rebelião de pequenas nações incapazes de conduzir seus próprios destinos. O mundo ficou sem mando, e diante deste vácuo a explosão da violência era uma questão de tempo.

O homem-massa não pode ser confundido com uma classe social ou econômica específica. Está em todas as camadas da sociedade, desde o desempregado até os mais ricos. É antes de tudo uma atitude diante do mundo.

Escrevi uma página especial com o que consegui absorver de principal desta impressionante obra. Recomendo a leitura do livro, mostra o porque de muitos dos nossos problemas atuais. Lendo o livro pensei em Kosovo, na África, no socialismo, nazismo, ONU e tantas atualidades.

Esta atualidade é justamente o que tem de mais assustador na pintura de Gasset. Não é um livro de política, é muito mais profundo. É da formação de uma sociedade, é da própria vida humana.

Link:
A Rebelião das Massas – Resenha Completa

Ingrid Betancourt: o maior trunfo da guerrilha

Cada vez mais me convenço que a possibilidade de libertação da ex-senadora fanco-colombiana é nula. Ela é o maior trunfo nas mãos da guerrilha. A atitude do presidente da França de ficar de joelhos diante da guerrilha é um tiro mortal para qualquer possibilidade de liberdade. Não vejo por que os bandidos deixariam passar esta oportunidade ímpar, ter uma das maiores democracias do planeta dando-lhe crédito.

E é isso que tem mostrado o material apreendido na ação do fim de semana. Reyes deixa bem claro ao amigo equatoriano que não pode abrir mão da sua maior refém. Existem 700 outros aprisionados, na melhor das hipóteses ela seria a última desses. Na pior ela nunca seria libertada. O guerrilheiro morto deixou bem claro que a odeiam, só está viva pela grande utilidade que é para as FARC. Ao que parece 6 anos de cativeiro em condições sub-humanas não dobraram a brava senadora. Não sei se é resignação ou força interna que só as grandes almas possuem.

Sobre reféns, a guerrilha já avisou que a partir de agora eles serão usados como escudos humanos. Passarão a usar farda para serem confundidos com os bandoleiros, serão acorrentados às camas dos principais líderes. E tem gente que os considera como os últimos românticos da América Latina, como lutadores de um mundo mais justo, o tal do “novo mundo possível”. Diante de coisas como essa eu me pergunto, é possível ficar em uma posição neutra entre o governo colombiano e as FARC? A população da Colômbia mostra que não. Mais de 80% apoiou o ataque das tropas federais.

Em um mundo melhor os países da América do Sul estariam em uníssono dando apoio à batalha de Uribe. A eliminação da guerrilha seria uma conquista e tanto para o continente. No mundo “possível” o presidente colombiano está quase que completamente isolado, apenas o Peru lhe é solidário. Que delinqüentes como Chávez, Corrêa e Morales apoiem as FARC é compreensível, mas que gente como Lula, Bachelet e Kirchner façam o mesmo só mostra que os autores de novo Manual do Perfeito Idiota Latino-americano estavam completamente errados: não existe esquerda vegetariana no continente, são todos carnívoros.

Ingrid Betancourt é apenas uma vítima destes “humanistas”.