Luso-tropicalismo

Assisti ontem uma palestra sobre o período joanino no Brasil. Foi muito interessante e com bons pontos para reflexão.

A imagem de D. João VI está aos poucos, não sem dificuldades, sendo resgatada no Brasil. O “fundo do poço” foi o filme Carlota Joaquina de Carla Camuratti. Só no Brasil um filme como este seria patrocinado pelo Banco do Brasil, justamente criado pelo monarca. A Globo depois foi na mesma linha com uma minisérie em que é retratado como um fraco, sem decisão, covarde, glutão.

Napoleão uma vez afirmou que apenas um homem tinha conseguido enganá-lo, e este homem era D. João VI. Foi uma estratégia perfeita. Sem nenhuma condições de resistir às tropas francesas, em completo segredo, foi elaborado um plano de mudança da corte para o Brasil. Não foi uma fuga como se conta, basta apelar à lógica. Como se poderia transportar 15 mil pessoas, com os arquivos necessários para manutenção da burocracia do estado, no completo improviso? Foi a constatação que a mudança foi planejada e executada com sucesso que deixou o imperador perplexo.

Mas a principal mensagem que ficou da palestra foi a defesa da herança portuguesa na formação da nacionalidade. Os índios e negros a enriqueceram, mas nossa nacionalidade deve-se principalmente ao português. Nossos hábitos e costumes são muito mais próximos do europeu do que da África ou dos indígenas. Somos herdeiros da tradição judaico-cristã européia. Sérgio Buarque de Holanda mostrou isso em Raízes do Brasil. Gilberto Freire cunhou a expressão luso-tropicalismo para nos definir.

Muitos não aceitam esta constatação. Querem forçar algo que não existe. Não deixa de ser curioso um país com mais de 95% de cristãos mostrar aos visitantes ilustres que aqui chegam o candomblé como nossa expressão cultural. Ou um show de mulatas. Ou um espetáculo indígena. A verdade é que devemos muito mais ao branco cristão europeu do que aos negros e índios. Queiram ou não, somos herdeiros de Camões, e nossa língua é uma prova disso.

Discurso de Jarbas Vasconcelos: nada a reparar

Estamos passando por uma fase no País em que o Presidente da República faz tudo, muito mais do que fizeram, em regime de exceção, os generais ditadores. A sessão de anteontem, portanto, não poderia passar sem um registro de nossa parte.De forma que essa sessão de ontem não poderia passar, Sr. Presidente, Srs. Senadores, sem um registro da nossa parte. Eu não tenho papel de liderança aqui, sou um dissidente do meu Partido, o PMDB, mas não poderia deixar de registrar o meu repúdio, a minha indignação a esse comportamento. A medida provisória, por si só, já proíbe, já não permite uma discussão. E, aqui, a liderança do Governo, por porta de travessa, arrumou um expediente, dentro desta Casa, para restringir, ainda mais, o debate, estabelecendo número de oradores para se discutir a medida provisória presidencial, que criava a TV pública nacional. É realmente inconcebível, é intolerável, engolir isso, passar-se pela tarde de anteontem, e pela madrugada de ontem, sem um protesto – e um protesto veemente – pela insanidade cometida, aqui, no plenário deste Senado.Nós tivemos, como chamou a atenção a atuante Senadora, por Tocantins, Kátia Abreu, um final de ano, aqui, no plenário do Senado, que chamou a atenção de todo o País. A Oposição com um mínimo de organização, conseguiu derrotar a renovação, mais uma vez, da CPMF. E a maioria dos Senadores que, aqui votou – essa maioria que votou – votou para reduzir a carga tributária. Naquele momento, não se estava votando contra o Presidente Lula; não se estava votando contra o PT; não se estava votando contra quem quer que fosse. Estava se votando, de forma clara, bastante transparente, a favor da redução da carga tributária. O Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Cresce, como está crescendo, e cresceria muito mais, se o Presidente cuidasse da infra-estrutura do País. Estamos exportando, mas se exportaria muito mais, se tivéssemos estrada-de-ferro, rodovias, aeroportos, portos. aeroportos, portos. Não temos nada disso e o País consegue o milagre ainda de ter uma pauta de exportações bastante saudável. Nossa luta se deu no sentido de redução da carga tributária.

Acabou o ano, Sr. Presidente, com a promessa solene de Sua Excelência o Presidente da República e a Liderança do Governo aqui de que não haveria substituto para a CPMF. O Governo tinha absorvido a derrota, reconheciam alguns setores do Governo que a carga tributária estava excessiva e que o Governo ia procurar entrar 2008 sem aumentar impostos. Mentira! Tudo mentira! Começou o mês de janeiro e o Presidente da República anunciou aumento de novos impostos. O Ministro Guido Mantega teve a desfaçatez de ir à televisão para dizer que aquela promessa era até o dia 31 de dezembro, que, a partir do dia 31 de dezembro, o Governo estava livre para arrumar um substituto, algo que substituísse a ausência da CPMF.Mas vejam V. Exªs, Sr. Presidente, Srs. Senadores, algumas manchetes:
O Estado de S.Paulo, de 27 de fevereiro deste ano: “Receita cresce 20% após fim da CPMF. O fim da CPMF não afetou o desempenho da arrecadação de impostos e contribuições federais”.

Valor Econômico, jornal específico sobre assuntos econômicos: “O impressionante salto das receitas federais em janeiro”, um editorial de três de março do corrente.

Outra matéria: “Gastos e carga tributária elevada são mantidos”.

Sr. Presidente, a impressão que se tem é a de que o Presidente da República quer fazer o País de tolo, de bobo e a população, de idiota. As instituições não são respeitadas. Recentemente, tivemos uma agressão ao Judiciário na pessoa – nada mais, nada menos – do Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o Ministro Marco Aurélio Mello, que pode até ter provocado um equívoco de estar se antecipando, dando opiniões sobre processos que não lhes chegaram ainda às mãos, mas nada merecia o ataque que foi deferido, no Nordeste, pelo Presidente da República, de forma desmoralizante e contra um dos poderes. Eu não estou falando de órgãos, estou falando do Poder Judiciário.
Sr. Presidente, os assuntos aqui – assuntos menores – andaram tomando conta disso e o Presidente foi poupado de uma análise maior do Plenário do Senado Federal. É verdade que vários Senadores abordaram o assunto – que aconteceu num final de semana – e denunciaram, mas esse assunto passou ao largo. Porém, no dia 1º de março, ele mereceu um editorial – não é uma opinião política, é um editorial – da Folha de S. Paulo, com o título “Território invadido”. “Ataques do Presidente Lula a um Ministro do Supremo são espetáculo constrangedor de descontrole e truculência. Quem entrou em cena numa cerimônia realizada, anteontem, em Aracaju, foi um Presidente da República desequilibrado e truculento, vociferando do palanque despropositadas provocações a um Poder autônomo da República.”

É a Folha de S.Paulo, não é nenhum colunista. É o Conselho Editorial que orienta a fazer o editorial. Quero que faça parte integrante da minha fala esta opinião da Folha, com o título: “Território invadido”.

O Globo também não ficou atrás, e aí não mais por meio de editorial, mas da palavra do seu colunista Merval Pereira, que diz: “Lula revela todo o seu autoritarismo e presta um desserviço à democracia quando, fazendo política de palanque, investe publicamente contra o Judiciário”.

São coisas que têm que ficar registradas no plenário, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, porque, por exemplo, tive uma experiência, lá atrás, de combate à ditadura. E quanto mais forte e exorbitante a ditadura, quanto mais ela gritava, quanto mais ela matava, seqüestrava, mais nos dava ânimos de lutar contra o seu fim, de ver o seu fim.Para mim pouco importa se Lula tem 70% ou 80%, se, no meu Estado, Estado natal dele também, ele tem 80%, porque quando ele disputou a Presidência da República, eu votando contra ele, tivemos votações quase que assemelhadas.Então, isto não me causa nenhuma inquietação, nenhuma mossa: o Presidente da República estar num patamar muito elevado de popularidade.

Mas ele não pode continuar desmoralizando o Judiciário; não dar a mínima atenção ao Tribunal de Contas da União; passar a mão na cabeça de corruptos, como fez e como faz constantemente; dizer que uma Ministra, que se atrapalhou com o dinheiro público, que fez compras em free shop, nada deve e que ela deve sair de cabeça erguida. E a própria Procuradoria-Geral da República incriminar essa Ministra e mandá-la devolver o dinheiro.Essas coisas, Sr. Presidente, têm que ter um fim e têm que ser registradas aqui. O Presidente da República não leva mais em conta o Judiciário. O TCU para ele não vale nada, é um lugar de políticos aposentados, segundo voz corrente dentro do Palácio do Planalto. Uma tentativa clara e transparente de desmoralização do Congresso Nacional. A Câmara não precisa se desmoralizar porque vive completamente manietada pelo Palácio do Planalto; o Senado, que tem uma maioria escassa com relação ao Governo, o Presidente Lula tenta calar e tenta desmoralizar.

Portanto, se não formos para o enfrentamento, os partidos de Oposição – o PSDB, o DEM e outros partidos – se deixarmos a coisa eleitoral de lado… Porque a coisa eleitoral está sendo colocada pelo Presidente da República, que usa um avião pago por todos nós e está disposto a sair toda semana, duas vezes, para fazer comícios no interior. Está registrado hoje em todos os jornais que ontem foram distribuídas cinco mil marmitas aqui, foram convidadas não sei quantas pessoas ali, o Presidente leva dinheiro, enfim. E se esta Casa fica calada… Porque a mídia, que tem tido um papel altivo, a Presidência da República não leva em nenhuma consideração, em nenhuma consideração: Estado de S. Paulo – por meio de seus editoriais –, O Globo, a Folha S Paulo, o Jornal do Brasil – para ficar nos maiores jornais em nível nacional. Ou seja, a mídia não tem sido levada em conta em coisa nenhuma pelo Palácio do Planalto; o Judiciário desmoralizado, o TSE mais ainda, porque quem foi atingido foi o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Eu quero saber, Sr. Presidente, onde é que vamos parar com isso. Um Presidente com uma formação autoritária, uma formação que exorbita a toda hora e a todo instante, que quer porque quer fazer com que a opinião pública entenda que quem trabalha é ele e este Congresso não trabalha. É verdade que se discute muito aqui e se vota pouco, mas se vota pouco porque as medidas provisórias trancam a pauta desta Casa. E não é, Sr. Presidente, por intermédio de medidas provisórias que se cria – para voltar um pouco atrás e falar novamente – uma TV Pública Nacional. Isso é um desrespeito não somente ao Senado, à Câmara, ao Congresso Nacional, mas também um desrespeito a todo o Brasil. Sobre isso já falou aqui, hoje, com muita competência, o nosso Senador Pedro Simon.
Com relação ao episódio que envolveu a Colômbia há cerca de dez dias, o Brasil teve um papel vergonhoso. Eu disse isso ontem ao Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, na mesma hora em que o Congresso estava reunido para apreciar o Orçamento. Disse a ele que a aparição dele e do Governo da República na televisão foi um desastre. A coisa ficou pela metade. O Brasil insistia que a Colômbia tinha que aprofundar, fazer um novo pedido de desculpas. Tudo bem, se o Itamaraty não estava satisfeito com o pedido de desculpas que foi formalizado pela Colômbia, então deveria pedir a Colômbia para aprofundar aquele pedido de desculpas.Mas não dar uma palavra sobre uma organização que já teve uma luta ideológica, mas que hoje são um agrupamento de criminosos, de assassinos, de seqüestradores?

É inconcebível, Sr. Presidente! É inconcebível porque o Brasil nunca adotou a posição de um Presidente da República influenciar a política do Itamaraty, não permitindo que o Brasil, em uma nota clara, dura, transparente, condenasse a invasão do espaço aéreo do território equatoriano e, com a mesma dureza, com a mesma ênfase, a ação criminosa das Farc. Está aqui, Sr. Presidente, inclusive um artigo de Clóvis Rossi, que não é apenas um colunista, S. Srª pertence ao conselho editorial da Folha de S.Paulo. Diz o artigo: “O Brasil pode e deve ser neutro entre dois vizinhos, mas não pode nem deve ser neutro entre o Governo colombiano legítimo e as Farc, um grupo delinqüente.”

E as contradições não são só essas, Sr. Presidente. O Ministro Celso Amorim disse que as Farc não tem status porque o Governo brasileiro não reconhece. Não é verdade, porque, enquanto S. Exª disse isso, esse falastrão que vive lá no Palácio do Planalto, o tal do toc-toc-toc, perguntado pelo Le Fígaro, em Paris, no dia 4 de março desse mês – há apenas 12 dias –, também disse o seguinte sobre a relação do Brasil, do Governo brasileiro, com as Farc: “Lembro-lhe que o Brasil tem uma posição neutra com relação às Farc. Não as qualificamos como grupo terrorista, nem como força beligerante.” É esse homem que dita a política internacional, a política exterior do Brasil, não mais o Itamaraty.

Então, são essas coisas, Sr. Presidente, que temos que enfrentar, que a Oposição tem que enfrentar – e enfrentar como tem enfrentado –, agora, com mínimo de organização, temos que ser organizados.
Não posso dar pitaco dentro do meu Partido – porque não me deixam –, mas quero dar pitaco dentro da Oposição, onde eu me sinto inteiramente à vontade.É preciso que nos organizemos e que mostremos – quando o Presidente vai para o interior do País, faltando com a verdade, nos acusando de fazer um desvio eleitoral – os jornais do dia.

Esse, Senador José Agripino, é O GLOBO de ontem, do dia 12: “Em clima eleitoral, ataques à Oposição”. Aí diz: “Num evento com ar de campanha, com discursos inflamantes, transporte gratuito e distribuição de comida, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, na inauguração de um projeto de irrigação, que seus adversários só pensam na sucessão presidencial de 2010”.Pode um negócio desses, Sr. Presidente? Existe uma coisa dessa natureza, a pessoa fazer e nos atribuir o seu feito? Não pode! Não podemos continuar tolerando, aceitando isso todos os dias. Alguém tem que passar por esta ou por aquela tribuna, para denunciar isso.O País não pode ficar imaginando que a Oposição foi contra a TV Pública Nacional, porque era contra TV Pública. Não sou contra a TV Pública Nacional, sou contra a forma desmoralizante como foi criada, por meio de uma medida provisória.

É isso, Senador José Agripino, que tem que ser enfrentado, porque se não é enfrentado amanhã vem o arrependimento de que deveria ter dito isso, deveria ter ido à tribuna. Um presidente da república que não leva em conta o Judiciário, que desmoraliza o Judiciário, que pega o Congresso Nacional e o manda trabalhar, como se ele fosse um presidente trabalhador, que não tem o menor respeito à mídia, que tem uma equipe com estrelosos e aloprados. Quando existe alguma coisa com um estreloso desse ou com o aloprado, ele passa a mão na cabeça porque a força dele é de tal natureza na cabeça do Presidente da República que basta a palavra dele para se confrontar com o Judiciário, Tribunal de Contas da União não vale nada e, como disseram dentro do Palácio do Planalto, é um acampamento de políticos aposentados e por aí vai levando. Até quando isso vai chegar ninguém sabe.
Então, é preciso que não se deixe o Presidente fazer – estou falando de 100 dias para cá. Derrotamos a CPMF, o Presidente decretou aumento de impostos em janeiro, disse que não ia fazer mas fez, a arrecadação subiu, diz para os concursados do Brasil que a responsabilidade de não fazer concurso e nem chamar os concursados é da oposição. Lorota, lorota para não dizer mentira. Os concursados podem ser chamados porque a arrecadação está sobrando, o dinheiro sobrou.Basta ler os jornais sobre o excesso de arrecadação já em janeiro e da previsão de uma arrecadação maior ainda em fevereiro e em março.

Então, tudo isso, Senador Mão Santa, tem que ser feito, como V. Exª por dever de justiça tem feito aqui, mas tem feito sozinho. Tem feito é sem dentro de uma orientação. Tem feito sem dentro de uma organização, daqueles que relutam, não é?, e querem enfrentar essa situação que está se criando no País.

Eu não tenho posição de liderança dentro dessa Casa, pertenço a um Partido dissidente, mas não vou ficar calado. Vou me inscrever agora em todos os horários que dispuser e que tiver ao meu alcance para denunciar. Pouco importa para mim se ele já desmoralizou o Judiciário, não liga para o TCU, se ele quer investir contra o Senado, se ele não leva em conta a imprensa, se ele cria uma tevê pública através de medida provisória, não me importa. Nós vamos para o enfrentamento para depois não estar aqui choramingando pelos cantos ou dentro de casa dando satisfações aos familiares e aos eleitores de que ele devia ter feito isso e não fez.

O Presidente da República tem uma formação autoritária, altamente autoritária, tem extravasado essa sua formação autoritária e o Senado não tem por que calar nem tem por que colocar o rabo entre as pernas. Tem que levantar a cabeça, gritar, protestar, pouco importa de que isso vá, o eco disso seja pequeno. É pequeno nesse momento, mas depois cresce.Eu me lembro, eu era Deputado Estadual no Recife, só tive um mandato de Deputado Estadual, e uma vez vi uma pesquisa com Garrastazu Médice, o pior dos Generais, o mais contundente dos Generais, com 84% de avaliação política no meu Estado. Deu no que deu, uma figura repudiada, que hoje… vivia até pouco tempo dentro de um apartamento e de lá saiu para a sua… para o seu túmulo.

De forma, Sr. Presidente, que a gente tem que enfrentar essas coisas porque não é possível que CPMF, ataque ao Poder Judiciário, posição dúbia com relação ao episódio de condenação da Colômbia. Recebe, aqui, um falastrão – o Presidente do Equador – que chama de canalha o Presidente de um Estado e não recebe, aqui, nenhuma repreensão do Itamarati. Vai dizer isto para o seu povo lá no Equador mas não no Brasil, um País que tem a tradição que o Brasil. Por que ele se sentiu à vontade para dizer isto aqui? Porque deu uma declaração pela metade: o apoiou, condenou a Colômbia e exigiu nova desculpa da Colômbia nas não enfrentou os seqüestradores, os bandidos, militantes e freqüentadores da Farc. Por isto é preciso que se diga sempre isto, mesmo que não ecoe de forma maior ou num volume maior como quisermos mas tem que ser enfrentado.

Por isto, Sr. Presidente, agradeço a tolerância de V. Exª e quero, apenas para ajudar o corpo taquigráfico, pedir que faça parte do meu pronunciamento – foi um pronunciamento de improviso – as coisas que aqui me referi.Deixo aqui os documentos. Se a Taquigrafia tiver alguma dúvida, poderá me procurar depois. Eu deixo esses documentos aqui e peço a transcrição desses editoriais, tanto da Folha de S. Paulo como a Coluna de Merval Pereira do O Globo e, também, o Editorial do Estadão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

A democracia perde mais um pouco

Dentro do plano do lulismo-petismo de manutenção do poder pelo rebaixamento das instituições do estado, ontem foi a vez da democracia sofrer mais um pouco.

Que esperava uma discussão sobre a TV pública ficou a ver navios. Sob gargalhadas de gente como Ideli Salvatti, Sibá Machado e Mercadante, Romero Jucá fez de tudo até conseguir transformar uma seção do senado em uma reunião sindical. Fez requerimento para impedir a oposição de falar, retirou uma MP (que só podem ser editados em casos de relevância e urgência) por não ter relevância e urgência, e conseguiu, sem oposição, aprovar a matéria.

Fique registrado também o papelão de gente como Ziraldo, que fez de tudo para impedir o debate, inclusive usando sua arte para demonizar a oposição. Com ele, outros artistas endossaram a extrovenga petista que vai nos tungar mais de meio bilhão de reais por ano.

Toda vez que o parlamento não debate uma lei a democracia é atropelada. Mas o congresso é o patinho fio da política brasileira não é? Conheço muita gente boa que afirma que o Brasil seria melhor se fosse extinto. O executivo governa e o judiciário julga. Na prática estamos neste caminho, são cada vez mais raras os projetos de lei oriundos do próprio poder legislativo.

Tudo muito entediante. E nojento.

O triunfo da vulgaridade

Um dos problemas do mundo contemporâneo é a perda da noção da própria limitação. É comum encontrarmos com pessoas que bradam a todo tempo sua felicidade e a vida completa que levam. Logo soltam a pérola “não tenho nada que me queixar”. “Então, é uma você é uma pessoa perfeita?” “Claro que não, mas não existem pessoas perfeitas…”.

E ficamos assim, não existem pessoas perfeitas, logo o ponto em que eu cheguei está bom demais.

Ortega Y Gasset já alertava em A Rebelião das Massas:

A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe em toda parte.

É fácil de constatar, basta ver a quantidade cada vez menor de pessoas que lêem qualquer coisa que não sejam de seu interesse profissional ou emocional. Livros de auto-ajuda estão sempre liderando as vendas. Mas livro universais, que nos ligam a nossa tradição, que nos abrem as portas da cultura… ah, estes são colocados de lado. São considerados difíceis de ler e pouco práticos. Melhor ainda se já existir o filme…

Um brasileiro colocado no “limbo” pelo mercado editorial brasileiro por ir contra a corrente ideológica que tomou conta a cultura brasileira (ler O Imbecil Coletivo, Olavo de Carvalho) foi Gustavo Corção. Eu nunca tinha ouvido falar nele. Também pudera, pensador conservador e católico praticante, sem chance de ter algum destaque em um país que não admite que o pensamento esquerdista tenha um confronto de idéias. Pois Corção escreveu um artigo em 1970 tratando do assunto.

Retratava um momento de sua juventude quando tentava explicar matemática para um garoto um pouco mais jovem do que ele. O menino fazia um esforço visível para aprender e pedia para explicar devagar porque ela burro. Um gênio! Pois hoje em dia este mesmo menino exibiria sua dificuldade como uma virtude. Vejam este trecho:

“Era efetivamente genial aquele moço de antigamente. Não segui sua trajetória e não sei se ele hoje amadureceu e desabrochou aquele botão de sabedoria em flor, ou se virou idiota e portanto intelectual. O que pude garantir ao meu amigo não-católico é que antigamente a atitude média dos idiotas era tímida, modesta e respeitosa. E isto que se observava nas ruas, nas aulas particulares, nos salões de bilhar e nos clubes de xadrez, observava-se também na Igreja. De repente, em certo ângulo da história, mercê de algum gás novo na atmosfera, ou de algum fator ainda não deslindado, os idiotas amanheceram novos e confiantes. Já ouvi e li muitas vezes o termo “mutação” surrupiado das prateleiras da genética e aplicado à história, à Igreja, ao dogma e aos costumes. Dois ou três bispos franceses não sabem falar dez minutos sem usar o termo “um mundo em mutação”.

A modernização da comunicação ajudou neste processo. Cada vez mais as notícias são cada vez mais concisas e rápidas. É o fast-food da informação. Não é surpresa que a educação esteja em grau tão baixo no Brasil; a verdade é que muito pouca gente a considera importante.

Um amigo foi a uma formatura de direito (de direito!) no Rio de Janeiro na semana que passou. Havia uma faixa que dizia “Graças a cola estamos aqui!”. Não era a única, haviam outras parecidas. Não são atitudes isoladas, basta prestar atenção. A cada esquina existe um manifesto contra o saber, uma afirmação do direito à vulgaridade.

Sim, a vulgaridade é muito mais ampla do que uma simples questão de etiqueta ou de gosto. A vulgaridade está na própria expressão cultural, na rejeição do crescimento intelectual.

Uma das razões do desmoronamento da estrutura social que vemos todos os dias é o triunfo da vulgaridade, o não reconhecimento da própria limitação. O homem moderno não vê o sábio com admiração, mas com a vontade de diminuí-lo, de mostrar que no fundo é tão ignorante quanto ele e assim mostrar que a busca da sabedoria é uma inutilidade completa.

Quando Sócrates afirmava que “só sei que nada sei” não era um convite à ignorância, mas exatamente o contrário. Era o reconhecimento que deveria constantemente buscar a sabedoria e se reformar internamente. Jesus trouxe a mesma mensagem ao afirmar que a verdade estava em nós mesmos.

Esta busca exige trabalho e dedicação. Exige mais ainda, exige combater a vulgaridade que ameaça aflorar de nossos corações a cada momento. É o homem especial de Gasset, aquele que muito exige de si mesmo e que sabe reconhece instâncias superiores à nossa própria existência.

Começou

Estamos em março, abril vem aí. Época em que o leão apresenta suas garras. É doloroso saber que mesmo com a extorsiva tributação sobre o consumo ainda constatarei o quanto da minha renda foi tungada diretamente na fonte. A cada dia o espaço para manobra é menor e maior é a sonegação. Como não quero hipotecar minha honra para o estado faço tudo de acordo com a lei. Pelo menos me restará o consolo de não dar a este monstro a oportunidade de me reprimir no campo da moral.

O pior em saber que a carga de impostos chega a inacreditáveis 40 e poucos por cento do PIB é ver a destinação. O que não se perde na corrupção é perdido na extraordinária ineficiência da máquina burocrática estatal. Uma máquina baseada em estabilidade no emprego, pouco tempo de contribuição e aposentadoria generosa. É preciso sustentar os brasileiros que são mais iguais do que outros, na expressão de Orwel.

Triste sina do brasileiro. Impostos de Suécia, serviços de país africano.

Não por acaso a constituição de 88 completou 20 anos há pouco tempo; ela está na origem da cada vez maior carga tributária que avança como um câncer sobre tudo que produz (e não) no Brasil. Atribuiu ao estado o papel de salvador da pátria, com atribuições sobre tudo que se faz ou deixa de fazer no reino tupiniquim.

Pior é não ver saída, não ter esperanças. Triste.

Sobre a deportação de brasileiros

O blog Building Bridges trata da questão da deportação dos brasileiros na Espanha na semana que passou, embora deportação não seja exatamente o melhor termo. Leia aqui, em inglês.

Reproduzo o comentário que fiz no próprio post:

O caso não é realmente para uma análise simplista e a atitude do governo brasileiro de aplicar “reciprocidade” não ajuda em nada. Era um caso que o correto seria utilizar o corpo diplomático brasileiro e não partir para o “olho por olho”.

As relações entre as nações têm um pouco das relações individuais também. Existem exageros, até mesmo erros. Uma boa negociação não faz mal a ninguém, é o que faltou neste caso.

É fato que está havendo uma diáspora brasileira, o que deveria tomar mais atenção de nossas autoridades. Por que tantos brasileiros estão fugindo do país? Como evitar este fluxo? Claro, sem prendê-los aqui dentro!

O caso incitou o velho ufanismo brasileiro, um pouco incitado pela mídia e por alguns boçais do governo. É sempre uma oportunidade para o populismo mais rasteiro uma “humilhação” de brasileiros em um país do primeiro mundo. Veja que tem que ser do primeiro mundo, só aceitamos ser humilhados por nações do terceiro…

É fato também que muitos que se mudam para os países ibéricos vão sem a menor condições de se manter; a prostituição é uma das atividades mais visadas. Já tive oportunidade de sentar ao lado de uma paraense em um vôo Brasília-Belém. Ela estava vindo de “férias” pois morava em Lisboa. Quando perguntei o que fazia lá, ela deu uma risada e disse que não podia dizer ali, em público.

Aquecimento Global, algumas considerações

Não sou louco de afirmar se a humanidade está provocando um aquecimento global que nos levará ao apocalipse ou não; isso é coisa para cientistas, e ao que parece eles ainda estão longe de qualquer consenso.

O que acho muito estranho é que a mídia amplifique os arautos da destruição e silencie sobre as discordâncias. Cada vez mais o Aquecimento Global fica parecendo uma nova religião que está surgindo, com dogmas e proibição da discussão.

Na última semana mais de 500 cientistas especialistas em clima reuniram-se em Nova Iorque para discutir sobre o assunto. Estes cientistas afirmam que não há consistência na afirmação de que o homem é o responsável por um aumento constante de temperatura que levará à catástrofe. Em artigo de Margaret Tse, no Mídia sem Máscara, ela resume o que se constatou:

– As conseqüências do aquecimento moderno são positivas para a humanidade e para a vida selvagem;

– Que as previsões de aquecimento no futuro não são confiáveis;

– Que os custos para se tentar deter “o aquecimento global” excedem os benefícios hipotéticos em fator maior que 10;

– Que os cientistas dissidentes foram chamados de “céticos” e grandemente ignorados pela mídia, censurados por governos e demonizados por ambientalistas. A verdade é que o falso “consenso” de cientistas foi alardeado por cientistas chapa-branca e aliados políticos com motivos manipuladores;

– Que as pesquisas e revisões atuais da literatura científica revelam que os céticos são a maioria dentro da comunidade da ciência do clima; que suas vozes foram suprimidas devido à enorme publicidade que se deu ao Painel Intergovernamental de Mudança Climática das Nações Unidas, entidade cuja agenda tem como plataforma de apoio a teoria de que a catástrofe do aquecimento global se deve à ação humana.

Em resumo este pessoal, que seguramente sabe muito mais do que nós leigos, afirmam que o clima do planetas está historicamente em constante mutação por fatores alheios ao ser humano.

Existe muitas pessoas se beneficiando da teoria do Aquecimento Global. Cientistas “engajados” estão conseguindo verbas inimagináveis para pesquisa no assunto. Quanto pior o prognóstico, melhor o financiamento. Além desses, uma série de políticos abraçaram esta bandeira como uma forma de ganhar projeção, como exemplifica bem Al Gore. A junção dos dois fatores tem provocado uma frente poderosa.

Mas qual seria o problema em pesquisar melhor o assunto? Na dúvida não é a melhor saída? A questão é que dinheiro não dá em árvore e ao que parece esta sendo empregado uma soma considerável que sem o argumento político não se justificaria. Este dinheiro seria empregado melhor em outras linhas de pesquisa. Além disso há um impacto de uma série de medidas, de eficácia bastante questionáveis, na economia mundial. Tudo isso sem que a participação dos representantes da população. Os parlamentos estão sendo colocados de lado nesta estória, está tudo sendo decidido em fóruns muito restritos como os gabinetes governamentais e conselhos multi-nacionais.

Não está sendo esclarecido à população o custo dos programas e os objetivos que se propõe a atingir. Estão vendendo o Aquecimento global como uma verdade e não é. Não há consenso científico à respeito; pior, cada vez mais o ceticismo é exercido por gente mais gabaritada.

São só apenas algumas reflexões que tenho tido após alguma pesquisa. Abaixo dois textos que li recentemente sobre o tema:

Água fria no “aquecimento global”, por Thomas Sowell
Conferência Internacional sobre Mudança Climática em 2008, por Margaret Tse

Uribe, o grande vitorioso

A 20ª Cúpula do Rio mostrou ontem a diferença entre um estadista e bufões. Rompendo finalmente o silêncio da semana Uribe falou o que precisava falar e deixou sem ação Chávez e Corrêa.

Lembrou que o conceito de soberania envolve território e população. Abrigar guerrilheiros que atacam sistematicamente um vizinho também é uma violação; foram mais de 40 ações iniciadas em território equatoriano. Afirmou que não avisou o Equador porque seria o mesmo que inviabilizar a operação tamanha a legação entre este país e as FARCs. Acusou Rafael Corrêa de ter recebido dinheiro das FARCs em sua campanha e Hugo Chávez de colaboração com a guerrilha.

Os bufões se calaram e aceitaram selar a paz que eles próprios ameaçaram. Basta ver as fotos dos apertos de mão entre Chávez, Corrêa e Uribe. Apenas um tem o olhar determinado de quem veio cumprir uma missão, os outros dois parecem cachorros sem dono.

O Brasil se destacou pela ausência. Para quem brada querer exercer a liderança na América Latina o papel ontem foi um verdadeiro vexame. Cadeira no Conselho de Segurança da ONU? Para que? Um país que se omite na hora de encaminhar uma solução diplomática entre dois países na sua esfera de influência. A atitude dos Estados Unidos foi simples e mostra a diferença entre discurso e autoridade. Colocou seu incondicional apoio a uma democracia que enfrentava uma guerrilha. Tivesse o Brasil feito a mesma coisa a crise tinha morrido no nascedouro. A imprensa tenta vender o papel do Brasil como mediador neutro, balela, o que houve foi omissão. O governo brasileiro percebeu que enfrentar a Colômbia era um projeto sem futuro, como não pode apoiá-la pelas ligações com os grupos de esquerda, preferiu se esconder.

Aliás Celso Amorim, mais uma vez, foi patético. Condenou a troca de ofensas entre presidentes. Troca? Que troca? Uma das características das crise foi o silêncio de Uribe. Ouve sim, ofensas por parte de Chávez e, em menor grau, de Corrêa. E usando o que se chama de “linguagem de botequim”.

Não é a toa que o povo colombiano confia cada vez mais em seu presidente.