Ambientalistas e a Amazônia

No Globo de hoje:

“Ambientalistas são contrários à reconstrução da BR-319, prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e defendem a construção de uma ferrovia entre duas cidades amazonenses: Careiro Castanho (a 80 quilômetros de Manaus) e Humaitá (a cem quilômetros de Porto Velho). Segundo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, a ferrovia conteria em 80% o desmatamento previsto para a reconstrução da BR-319.”

Ferrovia e rodovia cumprem finalidades diferentes, são complementares. A ferrovias destina-se principalmente para o transporte de cargas; quanto mais pesada for a carga, mais econômica. Em boa parte do mundo o transporte de passageiros por longas distâncias está em desuso. A Europa é uma excessão, muito pelo grande potencial turistico de atravessar diversos países e principalmente pela rapidez que se conseguiu nas composições.

É uma utopia imaginar que um país carente de rodovias (apenas 10% são asfaltadas) e com um sistema ferroviário ainda incipiente, poderá ter a ferrovia como solução para transporte de passageiros. Portanto, em se tratando de Brasil, ferrovias e rodovias não disputam passageiros.

Manaus é a principal cidade da Amazônia Ocidental, o pólo de todas as políticas para a região. Entretanto carece de uma ligação com as demais regiões do Brasil, colocando-a em uma situação de isolamento. Esta situação compromete a própria soberania brasileira na Amazônia ao afatá-la da maioria dos brasileiros. É preciso integrar a Amazônia ao Brasil, e para isso é preciso ligações rodoviárias para todas as capitais de estados, a começar pela do Amazonas.

A estrada já está aberta, falta pavimentá-la, o que implica em acertar seu traçado. O principal impacto já foi causado na época da suas construção, ainda na década de 70. Haverá novos impactos com a nova obra na 319, mas ela é necessária para a política de integração territorial brasileira. Que se tome todas as medidas para mitigação destes impactos e compensações ambientais necessárias, mas a obra deve ser feita.

Defesa do meio ambiente é uma coisa, mas o uso político desta defesa é outra completamente diferente.

Aliança macabra

Pipocam na imprensa, de vez em quando, a notícia que Marta Suplicy, Kassab e Alckmin estão disputando uma aliança com Orestes Quércia pelo tempo na tv do PMDB. Hoje o painel da Folha informa que Kassab está inclusive oferecendo cargos no segundo governo.

É preciso ter calma com o que se lê na imprensa, muitas vezes a mídia é uma extensão da disputa política. Informações privilegiadas, verdadeiras ou não, são “vazadas” para jornalistas para promover estragos aos adversários.

Sei que na disputa eleitoral de hoje o tempo na televisão tem uma importância muito grande, ainda mais em uma disputa acirrada como está se configurando em São Paulo. Os minutos do PMDB devem valer ouro, mas não tenho nada com estes cálculos políticos. Só acho uma aliança macabra, como o governo Lula está mostrando com o aparelhamento do estado pelo ex-partido de Ulisses Guimarães. Uma aliança com Quércia é uma aliança macabra para quem deseja se opor a tudo isso que está por aí.

Poço estar sendo bastante ingênuo, sei da importância das alianças para governar, mas sei de suas implicações também. Alckmin começou a jogar sua eleição no lixo quando subiu no palanque com Garotinho, não ganhou um único voto no Rio, aliás perdeu. Conseguiu rachar uma base sólida de sua campanha no Estado com César Maia e Denise Frossard. Na época o prefeito do Rio foi enfático: era o beijo da morte.

Quem se aliar com Quércia terá de carregá-lo, e não será fácil. Se existe realmente esta disputa, que vença Marta Suplicy, é a cara de seu governo. Se esta aliança for decisiva para vencer a eleição, acho melhor perder sem ela do que ganhar com ela, pois é uma dessas que se carrega pelo resto da vida.

Stédile e Tolentino

Associar no mesmo título o falecido poeta Bruno Tolentino e o líder do MST João Pedro Stédile parece coisa de maluco. Mas é que lembrei da famosa entrevista do primeiro à revista Veja em que afirmou que só entraria em uma universidade brasileira “vestido de cachorro”.

No meu mundo, um sujeito como Stélide estaria atrás das grades pagando por seus crimes. No mundo verdadeiro, esse em que vivemos, ele está dando “aula magna” na UFRJ, uma das maiores universidades federais do país.

Prefiro o meu mundo. De longe.

Meu Deus!

O Ministro Jorge Hage em seu depoimento na CPI dos cartões corporativos disse que o gasto do ministro dos esportes só ganhou notícia porque se referia à tapioca, se fosse um hamburguer do MacDonalds teria sido ignorado, trata-se, portanto, de um preconceito contra a tapioca.

Só tenho uma coisa a dizer depois de um depoimento destes: Meu Deus!

É esse o homem que tem a incumbência de investigar as irregularidades na administração federal.

5 anos de ocupação no Iraque

Editorial da Folha de hoje:

Já se mostrou à exaustão que a aventura foi uma catástrofe humanitária e um fracasso político que encalacrou o Pentágono numa ocupação militar sem perspectiva de solução. Verifica-se agora que foi também um desastre financeiro.

Gostaria de saber o que a Folha define como “catástrofre humanitária”. Que a ocupação militar foi um fracasso político e financeiro não há dúvidas, os Estados Unidos erraram, e feio, o cálculo. Na cabeça de seus estrategistas teriam uma operação militar rápida, o que ocorreu, e depois ocupariam com poucas tropas pelo tempo suficiente para devolver o poder aos próprios iraquianos.

Mas que iraquianos? Rapidamente descobriram que não  bastava apenas destituir o ditador sanguinário (e não os são, todos?) mas era preciso reconstruir as instituições, uma coisa que leva tempo. A situação é ainda mais delicada quando o país é dividido em xiitas e sunitas. O erro americano custou caro, logo os grupos terroristas perceberam que as forças de ocupação não sabiam o que fazer e começaram a atuar.

É preciso entender que a guerra destes homens não é contra os Estados Unidos, mas contra o mundo ocidental. A ONU recusou-se a dar aval para a guerra, mas não escapou de dois atentados ainda em 2003. Em 19 de agosto, morreram 22 pessoas na seda da missão em Bagdá, incluindo Sérgio Vieira de Melo. 27 de outubro, atentado à sede da Cruz Vermelha Internacional, 11 mortos. O terror existe de fato e não vai desaparecer apenas por tentar esquecê-lo. Os Estados Unidos e a Inglaterra parecem ser os únicos que perceberam isso.

Nos últimos meses a situação tem se acalmado, o ritmo de atentados e mortes tem diminuído bastante. O principal fator foi o aumento do contingente militar americano que começa a efetivamente colocar ordem no caos. Aos que defendem a saída imediata das tropas é bom lembrar que no dia seguinte começaria a real “catástrofe humanitária”. Não é possível a saída enquanto não houverem instituições iraquianas em condições de manter a ordem e evitar a guerra civil. Não é coisa para amanhã, leva tempo.

Um bom livro para entender a questão, e ler uma opinião contrária ao lugar comum que se instalou na mídia é “Sobre o Islã”, de Ali Kamel. É um daqueles obrigatórios.

Já vai tarde

Paulo Henrique Amorim foi demitido do site IG. Já não era sem tempo, o que fazia não podia ser chamado de jornalismo. Acho que tem toda a liberdade de escrever o que quiser, mesmo com toda sua falta de coerência. Agora receber para isso já era de profundo mal gosto. Se Lula não tivesse tanta antipatia por ele acabava colocando-o na TV Lula, o que parece ser seu grande sonho.

Primeiro o embate de Diogo Maynardi com Franklin Martins. Resultado, o segundo perdeu o emprego na Globo e acabou mostrando que a suspeita de Mainardi sobre sua falta de isenção jornalística era mais do que verdadeira ao virar ministro da propaganda do governo.

Agora foi a vez do embate de Reinaldo Azevedo colocar PHA em seu devido lugar. Se foi a causa de sua demissão não sei e nem me importa. Mas o primeiro continua firme e forte como blogueiro da maior revista do país.

Ah… ainda falta um!

Anti-americanismo e o verdadeiro problema do mundo contemporâneo

Um dos assuntos que me despertam o interesse é o anti-americanismo, principalmente aqui no Brasil. Reinaldo Azevedo costuma dizer os americanos são mais odiados em São Paulo do que Bagdá. De certa forma é por aí.

Na verdade se confunde muita coisa, é muito lugar-comum e desinformação. Palavras de ordem substituem o pensamento; pouco se reflete apenas seguem-se correntes. Costumam personalizar tudo que é ruim, ou considerado ruim, nos norte-americanos. Será?

A primeira coisa que associam é com o capitalismo selvagem. Como se eles o tivessem criado e exportado pelo globo. Não é verdade, o capitalismo foi criação européia, assim como sua forma mais perversa, onde se passou do mercantilismo para a capitalismo através da industrialização. O momento em que pode-se dizer que o capitalismo foi realmente selvagem foi na industrialização européia, particularmente na inglesa. Foi este capitalismo que foi criticado por gente como Dickens e o próprio Marx, embora este não tenha sido capaz de visualizar que o sistema poderia evoluir e eliminar muitos de seus males.

Ortega Y Gasset afirmava ainda na década de 20 que os Estados Unidos não traziam nada de novo; sua cultura é essencialmente européia. Foi construído pelo que transbordou da Europa.

Outra associação é com o consumismo. Também não foi criado lá e imposto pelo mundo, mais uma vez é uma criação européia. Foi fruto do extraordinário avanço da ciência no século XIX e com a técnica que cresceu junto com a revolução industrial. A Europa foi o berço do extraordinário aumento das possibilidades do homem, também descritas por Gasset. Antes dos Estados Unidos alcançarem a posição hegemônica que teria a partir da guerra fria, o pensador espanhol já denunciava o consumismo europeu. O DNA do “Americam Way of Life” é europeu, e não o contrário.

A  maior criação americana foi a filosofia do pragmatismo e sua moral utilitarista. Isso os afastou de buscar as verdades absolutas e da tradição clássica de Aristóteles e Platão. Depois de 100 anos seguindo uma teoria que coloca o interesse apenas no que é útil não é surpresa descobrir que o americano tornou-se um ser vazio, sem valores que seja capaz de defender. E aí está o verdadeiro problema do mundo atual. Os próprios europeus seguiram o exemplo e se afastaram de sua própria tradição baseada no tripé formado pela filosofia grega, direito romano e na tradição judaico-cristã.

Não é o capitalismo ou o consumismo em si que resultam no quadro atual, é a perda dos valores morais mais elevados que levam ao consumismo e a procura do enriquecimento ilícito e imoral. O capitalismo é um sistema em que vigora a liberdade das pessoas que realizam transações comerciais de qualquer espécie. Não é o capitalismo que está doente e precisa ser reformado, são as pessoas! Sócrates, Platão, Aristóteles, Jesus, Gandhi, todos esses alertaram sobre o mesmo ponto: é preciso reformar-se intimamente.

Muitos defendem que isso é impossível, uma utopia. Pois digo o contrário, impossível é tentar tornar o mundo mais justo sem que as pessoas mudem. Isso não se dá por leis ou pela força cada vez maior do estado, mas pelo convencimento, pela educação, pela reflexão.

O problema do mundo não são os americanos, chineses, ou seja lá o que for. O problema são as pessoas, estas precisam ser reformadas, mas por si mesmas, intimamente. Já tentaram várias vezes fazer esta reforma por coação e o resultado foram verdadeiras catástofres sociais. É trabalho para gerações, mas primeiro devemos nos afastar dos falsos profetas, aqueles que dizem ter as soluções para tornar o mundo mais justo.

A solução está em cada um de nós.

Novidades do domingo…

Passei o fim de semana longe do computador. Pelo que vi em uma rápida passagem pela net é que os dois principais fatos deste domingo foram:

  1. Kassab subiu nas pesquisas e já enfrenta de igual para igual Marta Suplicy no segundo turno. É uma pensa que Alckmin esteja forçando a barra e dividindo uma eleição certa para tentar fugir do ostracismo. Devia pensar grande; o DEM está louquinho por um candidato à presidente para poder concorrer em 201o. Alckmin seria um bom nome. Largaria esta barca furada que se tornou o PSDB, deixaria Aécio brigando com Serra, e se lançaria por um dos  dois partidos que estão efetivamente fazendo oposição ao governo atual (o outro é o PPS). Ainda me pergunto, por que os institutos não simulam pesquisas para 2010 com Alckimin concorrendo? Seria uma boa medir o recal do ex-candidato. Se até Lula consegui aprender com suas derrotas, por que ele não poderia? O Brasil precisa romper esta polarização PT-PSDB. Afinal trata-se da esquerda e da direita…. da esquerda! Está na hora de surgir um partido que defenda o conservadorismo, pode se surpreender com a reação…
  2. McCain emparelhou com os democratas. É um feito e tanto se considerarmos a percepção altamente negativa do governo Bush, principalmente na economia. Não sei se seria uma boa vencer as eleições com um candidato republicano que não é lá muito republicano. Mas não deixa de ser interessante para mostrar que o pensamento conservador nos Estados Unidos ainda está de pé.