A Veja da última semana trouxe um artigo muito interessante de Gustavo Ioschpe. Desta vez a polêmica que levanta é com os ambientalistas.
Lembra que o Brasil tem uma área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, mas pouco mais de um terço é para os brasileiros. Isto porque o restante é destinado por lei às árvores e os animais. Nestas áreas não é permitido nenhuma atividade econômica produtiva.
Nas áreas em que a atividade industrial é permitida, “ela não escapa do controle __ e dos custos __ da polícia verde. Qualquer obra de grande impacto ambiental no país (fábricas, siderúrgicas…) devem pagar uma taxa de 0,5% de seu valor ao Instituto Chico Mendes, órgão do Ministério do Meio Ambiente”.
Além disso, existem as licenças ambientais, que no Brasil levam anos para serem concedidas. Isso apesar do Brasil flertar a anos com a escassez de energia, existe uma grande chance de um novo apagão em um futuro próximo. Como conseqüência, o preço da energia elétrica no atacado subiu 91% em apenas um ano, o que causará alto nos insumos básicos, cancelamento de investimentos, demissão e aumento do preços ao consumidor.
Este assunto já foi tratado por Nelson Ascher este ano. De maneira geral a população é mantida na total ignorância sobre os custos da política ambiental. O Congresso não participa das discussões sobre medidas, tudo é decidido dentro da burocracia oficial. Em se tratando de Meio Ambiente, a democracia é solenemente esquecida.
O orçamento da União de 2008 resume bem a punição que o Brasil se impõe: o orçamento do Ministério do Meio Ambiente (R$ 2,9 bilhões) é mais do que o dobro daquele destinado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (R$ 1,3 bi). Apesar de sermos um país jovem e pobre, investimos mais na conservação da nossa escassez do que na geração das riquezas futuras.
Ioschpe lembra que é preciso ter uma boa dose de cesticismo com qualquer teoria que faça previsões catastróficas. Faz todo o sentido que os países desenvolvidos utilizem seus recursos para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos, reconstruindo o que foi danificado em seu país.
O que espanta, no caso brasileiro, é que esse discurso tenha sido integralmente “comprado” por aqueles que certamente colhem mais custos do que benefícios com a preservação ambiental, da maneira como vem sendo praticada. Estudo recente do economista U. Srinivasan, da universidade de Berkely, estima que os países ricos imporão perdas ambientais de até US$ 7,4 trilhões aos países de renda per capita baixa e média (como o Brasil) por conta de suas ações no período 1961-2000.
Ioschpe questiona porque a solidariedade universal só aparece na hora de socializar as perdas, e não os ganhos. Parece natural e aceitável que os brasileiros preservem suas florestas para o bem dos europeus, mas parece ficção científica sugerir que os mesmos europeus devolvam os recursos naturais que roubaram ao longo dos séculos. “Por que eles podem defender nossas árvores e ficar com nosso ouro”.
Não se trata de uma defesa do desmatamento, mas de prioridade e foco. E o nosso foco deveria ser o bem-estar do brasileiro. “Enquanto uma massa de brasileiros vive em condições subumanas, sinto-me moralmente impedido de defender a preservação do mico-leão-dourado. Se os países ricos querem que preservemos nossas florestas, que pagem por isso.”
O autor lembra outro custo que não é divulgado:
Faz sentido, em um país com os nossos índices de criminalidade, com os nossos problemas de tráfico de drogas e contrabando nas fronteiras, deslocar mil homens da Polícia Federal para vigiar madeireiras no Pará, como o governo acaba de anunciar?
Por fim, lembra que o índice de pessoas plenamente alfabetizadas no Brasil é de 28%. A cada dia milhões de pessoas vão para as escolas e saem sem aprender. Estamos garantindo que o cérebro da nossa população continue virgem e preservado, assim o país vai fechando suas portas para o desenvolvimento. O que aconteceria se a energia despendida na preservação de florestas e animais selvagens fossem transferida para um único objetivo: “que todas as nossas crianças aprendam a ler e a escrever na primeira série”. Deveríamos nos preocupar mais com a inteligência de nossas crianças do que a intelligentsia estrangeira.
Se a colonização intelectual nos leva à cópia de todas as porcarias que vêm do hemisfério norte, do fast-food ao blockbuster, será que não podíamos também copiar o pragmatismo e o patriotismo que ajudaram a levar esses países a onde eles estão hoje?