Artigo de Jefferson Péres

O artigo de Jefferson Péres na Folha de hoje é um dos mais lúcidos que já li vindo de um esquerdista. É um dos casos de gente que se pode até discordar, mas nunca perder o respeito, e neste artigo foi muito bom para refletir um pouco sobre coisas que ainda não tinha pensado.

Basicamente tratou do confronto entre socialismo e capitalismo que se instalou a partir do Manifesto Comunista de Marx (1848). Segundo Jefferson,  “a análise marxista, excessivamente reducionista, foi parcialmente correta no diagnóstico, falha na terapia e um grande fiasco no prognóstico“.

Marx fez um diagnóstico sobre o capitalismo de seu tempo. Na época existia um vazio jurídico, não havia legislação trabalhista, seguro social, proteção ambiental. Era realmente o capitalismo selvagem onde a acumulação do capital era baseado no menor custo de produção possível. Era “um modelo condenado ao desaparecimento, porque socialmente cruel e politicamente insustentável“.

O grande erro do marxismo foi acreditar que o capitalismo não evoluiria, que se manteria estático. Este erro, para um dialético, é imperdoável segundo o senador do PDT.

O erro dos seguidores de Marx foi acreditar que o remédio receitado, o socialismo, seria viável sem o colapso do capitalismo, que supostamente ocorreria nos países mais desenvolvidos. Aí estaria o grande fiasco de Marx no prognóstico.

Segundo Péres, o capitalismo do tempo de Marx era a própria negação da economia de mercado. O socialismo acabou sucumbindo diante da evolução do capitalismo e sua nova dinâmica. ” Ora, o sistema de mercado só funciona bem dentro de um marco institucional, interno e internacional, solidamente estabelecido. Vale dizer, precisa de paz, de regras claras e de segurança jurídica, tudo que não havia na época do velho capitalismo e do seu corolário, o neocolonialismo. ”

Considera que no velho capitalismo o mercado foi anulado pela omissão do estado, no socialismo real pela sua hipertrofia.

O pensamento de Péres se distancia nesta frase do liberal e do conservador. Está aí o germe da social-democracia, onde o estado teria um papel de equilíbrio no mercado, atuando para corrigir e evitar as crises. Já aqueles acreditam que papel do estado estaria mais na segurança das regras jurídicas estabelecidas democraticamente pelo parlamento, sua participação como agente econômico seria o mínimo possível.

Não creio que tenha sido o estado o grande ator a modificar o capitalismo. A legislação trabalhista saiu do confronto entre trabalhadores e empresários e foi negociada nos parlamentos nacionais. Foi mais um consenso da própria sociedade do que intervenção do estado. É claro que estou falando dos países onde estas legislações surgiram. No Brasil foi obra realmente do estado, e até hoje estamos pagando por regras que não foram estabelecidas por negociação entre as partes interessadas, no caso, trabalhadores e empresários.

O próprio Jefferson lembra que o capitalismo ainda não se reformou por completo, e sua transição encontra-se em nível diferente nas várias partes do globo. O Brasil ainda teria de “fazer um contínuo aperfeiçoamento do arcabouço institucional, para remover o entulho que impede o pleno funcionamento da economia de mercado. ”

Péres conclui que o Brasil precisa se livrar da “sucata mental” que impede a leitura do mundo de hoje e principalmente do de amanhã.

É  um texto de um homem lúcido, que apesar de algumas discordâncias pessoais, reconheço como um político de respeito e me dá uma esperança que nem só de canalhas é constituído nosso congresso e até mesmo nossa esquerda.

O senador mostrou como se constrói um debate democrático e se deve fazer política.

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