Células-tronco: decisão adiada

Como estava previsto, o ministro Carlos Menezes Direito pediu vistas ao processo e a decisão do STF fica adiada em pelo menos 10 dias. Sobre esse assunto, a Folha publicou em editorial hoje:

A iniciativa do ministro recende a atitude protelatória, pois é difícil imaginar que os magistrados participantes deste que é um dos mais polêmicos julgamentos da história do STF ainda não conheçam os argumentos esgrimidos e não tenham suas convicções formadas -o que poderia justificar o pedido de vista.

Se fosse assim, todo pedido de vistas seria protelatório e não é verdade. O que Direito pretende não é estudar o processo, mas dissecar a argumentação do relator. Esta só veio a público ontem! Infelizmente não há como fugir do trocadilho aqui, é direito de Direito exercer esta prerrogativa. É o verdadeiro sentido da dealética conforme vista por Aristóteles. Diante de uma opinião, constrói-se uma contrária. Do embate das duas chega-se mais perto da verdade, desde que se esteja sinceramente atrás dela. Nada leva a crer que os ministros não estejam realmente dedicados a chegar a uma decisão justa.

A Folha ainda argumenta que o atraso coloca em risco vidas humanas. Este argumento só pode ser classificado como espúrio. Mesmo nos países mais avançados, ao que eu saiba, ainda não tem nada de concreto na pesquisa da célula-tronco embrionária. Diante de tão relevante questão, não vejo como 30 dias a mais (caso o pedido seja renovado) atrasará tanto assim o avanço científico.

Pelo que vi a pesquisa será autorizada pelo STF. Particularmente não sei qual a decisão certa neste caso. O problema é que li “Admirável Mundo Novo”, e quem o leu não esquece. Huxley descreveu uma sociedade perfeita, onde todos eram felizes e tinham bem definido sua posição na sociedade. Não haviam doenças, a ciência atingira a quase perfeição. E a sensação de ler o livro é de profunda agonia; perfeito ou não, aquele mundo não era humano.

Um pensamento sobre “Células-tronco: decisão adiada

  1. Esta lei parece ser mais uma tentativa de abrir portas do que qualquer coisa, já que a limitação a embriões congelados não é proporcional ao discurso de salvação da humanidade: se os embriões podem oferecer tal cura, não faz sentido limitar a pesquisa a poucos embriões, nem a extração de células para tratamento. Logo, em seguida seria exigida a liberação de outras fontes de embriões, o prosseguimento lógico dos defensores nos levando à fazendas de embriões humanos.

    E em se tratando de liberação, certamente não tardaria a ser exigido pesquisa com os embriões híbridos, a nova onda defendida na Europa e nos EUA e muito simbolicamente tendo sido pioneiramente pesquisada na China: http://www.stemcellnews.com/articles/stem-cells-hybrid.htm

    A única pesquisa ética é aquela com células-tronco adultas extraídas voluntariamente e “reprogramadas” para desenvolver-se em células de qualquer parte do corpo. Infelizmente, estas também não deixariam de nos aproximar das fazendas de humanos, muito menos se o atual discurso de defesa de tipo messiânico continuar dominante.

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