O resultado da superterça está noticiado na imprensa. Do lado republicando, está quase definido o nome de John McCain para tentar suceder Bush. No lado democrata, Hilary e Obama estão em disputa acirrada, ainda sem definição, mas com liderança da sra Clinton.
Interessante esta pré-disputa pela indicação dos partidos. Nada lembra a brasileira. Só para ficar em 2006, um jantar envolvendo três eleitores decidiu pelo candidato do PSDB à presidência. A situação era tal que uma disputa aberta, como a americana, causaria um racha no partido. Não é privilégio dos tucanos. No PT só em 2002 teve uma prévia, mesmo assim de mentirinha, envolvendo Suplicy e Lula. A do PMDB nem se conta, acaba sempre em cadeiradas e disputa na justiça.
Voltando mais ao norte, na época em que não prestava muita atenção à política, eufemismo para alienado, tinha uma simpatia pelos democratas. Por que? Porque a mídia sempre retratou o partido com mais simpatia do que o partido republicano. Hoje já vejo o porquê. Cheguei até mesmo a torcer para o bestalhão, e agora esperto, Al Goore. Nas últimas cravei democrata novamente, felizmente perdi. Por pior que Bush tenha sido, e não foi tão ruim quanto a imprensa o vende, pior seria um democrata que inventava estórias para se vender como ex-prisioneiro de guerra.
Por que fico com os republicanos? É uma questão que vai além de nomes, chego aos princípios. Ortega Y Gasset cita em sua obra magistral, A Rebelião das Massas, o seguinte pensamento de Dupont-White: “A continuidade é um direito do homem; ela é uma homenagem a tudo que o distingue do animal.” O francês queria dizer que o rompimento completo com a tradição era um negócio muito perigoso, que não podia se dissociar de alguns séculos de evolução no pensamento humano, enfim da tradição com que o ocidente se formou.
A humanidade não é perfeita, longo disso, mas é inegável que evoluiu muito dos tempos das cavernas para cá. Essa estória de bom selvagem do Rosseau não me convence, não é a sociedade que perverte o homem, mas seus próprios atos. Sócrates e Cristo deixaram bem claro: a verdade está em cada um de nós.
Portanto desconfio sempre do Estado organizado, o Leviatã de Thomas Morrus. Não creio em uma superioridade moral do estado sobre os indivíduos, ainda acho o liberalismo a mais natural das políticas. Baseia-se na liberdade de troca das pessoas envolvidas; não acho que o estado se envolvendo como ator nesta troca faça o mundo melhor do que é.
Hoje o politicamente correto surge como uma força que sobrepõe à consciência individual. Não basta que eu aja dentro de determindas regras da sociedade, querem meu pensamento também. Cada vez sobra menos espaço para a liberdade de ser, cada vez o estado é mais presente e ameaçador.
Este é o lado do partido democrata, o fortalecimento do estado e sua presença cada vez maior em toda a sociedade. O mundo é injusto, cabe aos políticos, através do estado, corrigi-lo. Pois acho que a tradição, os valores que servem de esteio para o mundo ocidental, não podem ser abandonados como estão sendo. A destruição da família, a cada vez maior fragilidade de seus laços, nada disso torna a humanidade melhor.
Os republicanos ainda falam destes valores. Posso discordar de algumas posições, com a pena de morte, mas reconheço a importância de que se defenda valores. Não vejo isso nos democratas, pelo contrário, vejo a constante deterioração e desprezo por estes valores, a busca de um futuro ignorando a herança do passado. Um futuro em que não me reconheço, onde a sociedade disciplina o cidadão, e não sua própria consciência.
Nenhum dos dois partidos estão livres dos demagogos, dos aproveitadores, dos incopetentes. Ao contrário do Brasil, os políticos não são absolutos em relação aos partidos e estes partidos possuem seus ideais. Pois fico com os valores e não ao novo mundo possível. Ainda acho que o problema da humanidade está em cada um e não em uma sociedade a ser reformada.