O fim da era Fidel

Estou curioso pelas manchetes de amanhã. Chega ao fim, após 49 anos, a mais longa ditadura existente, a Cuba de Fidel Castro. Sai do poder o herói de muito intelectual de miolo mole do lado de cá do equador. Será que os periódicos terão coragem de chamar a coisa pelo nome? A Folha Online começou bem, em sua chamada se refere a Fidel como ditador. O portal da UOL levanta o legado ambíguo de Castro. Fico pensando, ambíguo em que sentido? O homem é o maior assassino vivo, a prova de que o estado totalitário, nas mãos de uma facínora, é capaz de números assustadores. Perto deles, monstros como Jack estripador e Mason não dão nem para saída. Não, o lugar de Fidel é ao lado de Hitler, Stalin, Mao, Ho Chi Min e tantos outros.

O argumento usado é que Fidel teria melhorado a vida em Cuba. Melhorou tanto que é preciso manter a população presa na ilha para não ficar sozinho com seus burocratas. Aliás, este para mim sempre foi o argumento definitivo contra o comunismo, a necessidade de evitar a fuga em massa de sua população. O homem é capaz de aguentar o diabo em sua terra, mas o socialismo foi bem além do que imaginava ser seu limite.

Amanhã é dia de dar nome aos bois. É simples. Chamou Fidel de monstro, está do lado da humanidade. Tentou pintá-lo com as cores da ambiguidade, é  comprometido idologicamente. Chamou-o de democrata, é caso de hospício ou um perigo.

É simples assim.

Cristovão Buarque, o baluarte da educação

Na eleições de 2006 escutei de muita gente boa que o único candidato bom mesmo era o senador Cristovão. Pelo menos era um homem dedicado à educação, tanto que seu discurso só girou em torno disso. Eu, por outro lado, estava desconfiado. Ainda não me saía da cabeça a desmontagem do exame nacional de cursos, o provão. A despeito da oposição da UNE (para que serve esta estrovenga afinal?), o exame estava dando bons resultados. As universidades particulares estavam a caça de professores com currículo e incentivando-os a se aprimorarem cada vez mais. Começavam a se preocupar com o aprendizado dos alunos, e a população passava a ter um termômetro de qualidade.

Claro que como todo projeto novo, ainda possuía falhas e distorções, mas a idéia era muito boa. Pois Cristovão, como ministro da educação, acabou com ela e criou a versão inútil que vigora hoje. Tudo para atender o corporativismo das universidades.

Ontem, mostrou de que lado está. Diante dos indenfensáveis gastos do atual magnífico reitor da UNB, afirmou que não havia dolo, apenas “equívocos de prioridades”. Ora, senador, foram meio milhão de reais em decoração de um apartamento. Com esse dinheiro se constrói um excelente apartamento em quase todo o lugar do país; se é assim que defenderia o recurso público, ficou muito bem com os minguados votos que recebeu.

Voto aliás que não dei. E agora dou-lhe uma banana. E não é a fruta.

Valor mínimo para ética

O artigo de Marcos Nobre, na Folha hoje, vai no mesmo caminho de Marcelo Coelho. Considera a cobertura do uso dos cartões corporativos desproporcional, tendo em vista os valores envolvidos. É a defesa do governo, que insistiu em rotular a tapioca na estória. Segundo eles, ao que parece, existe uma valor mínimo para ética no gasto público; o mais importante seria discutir a reforma tributária que envolve bilhões.

Não posso concordar com uma posição dessas. E a questão não se resume a uma tapioca, vai além disso. O que se apurou, baseou-se no portal de transparência, onde apenas 10% do total dos cartões foram lançados; mesmo assim o governo considerou que a “transparência” ameaçou a segurança do presidente.

Vivemos em um regime presidencialista, não uma monarquia. Nem nesta existe algo remotamente parecido com o que a corte lulista vem fazendo com o recurso público. O presidente da república deveria ser o primeiro a esclarecer os gastos de seus assessores diretos a fim que não haja dúvida. Ao esconder os gastos sobre a rubrica de “segurança de estado” coloca a instituição da presidência da república sob suspeita.

Marcos Nobre e Marcelo Coelho advogam uma causa estúpida. O dinheiro gasto de forma irresponsável e, em muitos casos, criminosa não é do estado, é da população brasileira. É preciso combater a idéia de que dinheiro público não tem dono, tem sim, e de todos nós. Isso inclui cada real. Eles gostam de se referir à tapioca, por que não usam o mesmo argumento com a picanha argentina da presidência? Ou o meio milhão de reais do reitor da UNB? Ou os gastos com a primeira-filha? Ou a hospedagem de ano novo no Copacabana Palace por Márcio Thomaz Bastos?

Os dois artigos são um atentado ao bom senso e uma amostra do alinhamento ideológico dos articulistas. O fim justificam os meios. Não estão roubando o erário, estão garantindo o “novo mundo possível”.

Sobre a pesquisa CENSUS

A última pesquisa CENSUS, divulgada hoje, mostra o que já se sabia. A popularidade de Lula é indiscutível, a maior desde 2003 e José Serra é o favorito para sucedê-lo.

Cada dia fica mais evidente que a natureza do discurso político no Brasil é eminentemente econômico. Entra eleição, sai eleição, tudo se resume a reduzir desigualdades, gerar empregos, diminuir os juros, etc. Não é surpresa portanto, que em um cenário de crescimento econômico razoável, o governo suba na avaliação, ainda mais com um presidente de evidente apego popular.

A oposição parece não perceber isso, e se afunda cada vez mais em seus próprios erros. Falta ao PSDB e DEM um projeto para o país que vá além da mesmice do discurso econômico. É preciso confrontar Lula em um cenário de estabilidade econômica, e não apostar, como o PT sempre fez, em uma crise econômica para conseguir espaço.

Falta a discussão de problemas crônicos dos quais a economia é apenas uma parte, como a saúde, a educação e a segurança pública. Em todos estas áreas o governo Lula é um desastre completo, mas estas questões passam a largo da discussão política no Brasil. Questões de valores então, é assunto proibido. Gostaria de saber o que pensam estes partidos sobre a questão do aborto por exemplo, ou da Universidade pública para ficar mais fácil. Gostaria de saber, por exemplo, se o partido acha justo que se retire recursos da sociedade para pagar uma universidade gratuita para quem anda de Corola. Ou se é justo que um trabalhador assalariado pague inteira no cinema enquanto que o mesmo universitário  do Corola paga meia para ver o último enlatado americano.

Gostaria de ver toda essa gente defendendo abertamente seus pontos de vista, como faz, por exemplo, Hilary Clinton ao defender seu projeto de saúde universal ou o direito de casamento entre homossexuais; ou John McCain ao defender o envio de mais tropas para o Iraque. Obama não vale; não vi nenhuma proposta concreta do “novo” político americano, este “só” quer um cheque em branco para mudanças.

Mas aí é preciso cidadania, né?

Esquece.

Tropa de Elite: fazendo história

A vitória do filme “Tropa de Elite” em Berlim foi um feito notável. Rompe com a tendência do “progressismo” na produção cultural brasileira. Tendência aliás que não é só nossa, mas uma realidade do mundo do século XXI.

Muito se falou sobre a obra no último ano; infelizmente o debate não foi mais longe pela recusa da elite intelectual em fazer qualquer concessão ao diálogo. O filme foi acusado de fascista, de uma defesa da violência policial. Longe disso, a premiação em Berlim, onde o fascismo é tratado com um crime, mostra que foi uma interpretação equivocada por muitos. Longe de qualquer justificativa, “Tropo de Elite” é um painel da realidade do Rio de Janeiro. Existem policiais corruptos, em boas quantidades, mas existem os honestos também, bem como os idealistas. Já os bandidos… são bandidos. Nada de concessão, de estória triste para justificar sua escolha. Este é o que assusta aos nossos progressistas. O bandido é o que é por escolha, motivado pela ganância, pela busca do dinheiro fácil. No meio a população civil, os que financiam o crime e os que sofrem suas conseqüências, estes geralmente os moradores das favelas, mantidos sob regime de terror pelos traficantes.

Mas não é só as mensagens do filme que foram premiadas, mas a estética também. Outro choque. Existe uma espécie de monopólio estético por esta burocracia intelectual pensante que existe no Brasil. Leiam o “Imbecil Coletivo” de Olavo de Carvalho, está tudo lá. Primeiro se classifica a obra: é progressista ou é reacionária
(forma “carinhosa” como os progressistas tratam os que não comungam de seus credos, em especial os conservadores). Depois se analisa sua estética. Se progressista, é ressaltada. Se conservadora, o contrário. É fácil ser crítico assim, não?
O valor estético não é privilégio de uma posição ideológica, pelo contrário. A ideologia leva, invariavelmente, a corrupção da beleza. Basta ver a feiúra cultural produzida nos países comunistas. A arte tem em si sua beleza. Geovanni Reale afirma a perda do sentido do belo como um dos 10 maiores problemas da sociedade moderna.

Tropa de Elite rompeu um paradigma. Espero que não fique só no filme, que outras obras rompam esta barreira defensiva criada pelos progessistas que impede o questionamento de seus valores, como se fossem absolutos. Não são. E muita gente começa a perceber isso no Brasil, para desespero de alguns.

Resumo da ópera

Gente muito mais qualificada do que eu já falou tudo que tinha que falar sobre o acordo esdrúxulo feito pelo PSDB, não adianta colocar a culpa exclusiva em Carlos Sampaio,  na proposta de CPI para os cartões corporativos. O resumo é o seguinte:

  • O partido conseguiu, na pressa de tentar mostrar que nada tema , envolver desnecessariamente seu maior nome na lama. Não há o menor fato ou denúncia envolvendo FHC, a confusão é toda do governo atual. Coloco a mão no fogo? Claro que não, mas o governo tem acesso a todas as despesas do ex-presidente. Em caso de suspeitas, que investigue. Está mais do que na hora deste partido defender seu próprio legado.
  • Uma CPI no senado era essencial. Ali a oposição tem uma bancada mais vistosa; o suficiente para conseguir o cargo de presidente da comissão. Na mista meteu os pés pelas mãos. Fica sem lugar na mesa. Parece que Sampaio acreditou que a CPI dos Correios seria re-editada, onde com presidente e relator governista, deu no que deu. Pode esquecer, não há a menor chance de repetir uma dobradinha tipo Dulcído-Serraglio. Serão escolhidos a dedo.
  • Uma das apostas é o papel da imprensa pressionando a CPI. Outra bobagem, a mídia está em uma cruzada para se mostrar “isenta”. Isso quer dizer que para cada notícia ruim para o PT, deve ser dada outra para o PSDB. Outro dia o JN noticiou que no caso de São Paulo, não existem funcionários comissionados com o cartão, mas que por outro lado, não existe dados disponíveis na internet. É uma tentativa de se mostrar isento, mas uma grande bobagem. 100% dos gastos com o cartão de SP estão disponíveis para TODOS os deputados estaduais. Tanto que o líder do PT, em um primeiro momento, afirmou não ter motivos para pedir a instalação de uma CPI. No caso federal, apenas 11% estão, ou estavam, disponíveis na internet. NENHUM deputado ou senador tem acesso aos outros 89%. Nestas condições, dizer que o governo federal é mais transparente que o governo estadual paulista é uma vergonha para um veículo de comunicação.
  • Não se atentou para a gravidade da apelação para a segurança nacional para proteger as informações. Até o atentado no Timor Leste serviu como comparação. Como se Brasil e este país tivessem alguma coisa em comum além do idioma. Só agora parece haver uma tentativa de lutar no STF para que o legislativo faça sua missão constitucional: investigar as contas do executivo. TODAS. O que houver de segurança nacional deve ficar na comissão de mesmo nome no senado. Para isso que ela serve.
  • Está mais que na hora de se discutir esta estória que a vida da família do político deve ser preservada. Por que? Por acaso esta família é melhor do que qualquer outra deste país? Estariam imune ao pecado de cobiçar o recurso público alheio? A atitude de muitos políticos de se esconder atrás dos próprios familiares deveria ser um motivo suficiente para perda de mandato por falta de decoro. Se esconder por trás de mulheres e crianças, francamente!

Surreal

A democracia funciona com governo e oposição. O primeiro faz o que o eleitor determinou: governa. Para isso tem a maioria. O segundo faz o papel de fiscalizador do governo. Em países mais civilizados, parte da oposição, ou mesmo toda ela, tem acesso direto aos gastos públicos. No parlamentarismo inglês se forma até um “gabinente fantasma”, com função espeífica de ser o contraponto para cada área do governo. Em qualquer caso, a instituição das CPIs são importantes instrumentos para a fiscalização, tanto que são chamadas de direito de minoria. Para ser aprovada basta 1/3 dos votos, justamente para que a oposição tenha condições de iniciá-la. Além disso, para evitar ser um constante instrumento de desgaste para o governo, é exigido um fato determinado para sua abertura. Simples assim.

Não no Brasil! Temos agora, no caso dos cartões corporativos, uma CPI protocolada pelo governo(?!?) para investigar o governo atual (?!?) e o anterior. Por que o anterior? Porque o governo quer levar a lambança para a oposição. Fato determinado só existe no atual governo. Se querem investigar o anterior, que investiguem. Os dados estão nos próprios órgãos governamentais. Não precisa de CPI para isso.

Não estou ouvindo protestos mais contundentes, mas me parece que se o governo gostar dessa estória de convocar CPIs teremos um inédito instrumento de pressão contra a minoria parlamentar. Ou seja, um pouco menos de democracia.

Mais um espetáculo brasileiro.

Hoje no programa Painel da Globonews foi discutido as eleições americanas até aqui. O programa dividiu-se em dois blocos, no primeiro centrado na decisão republicana em torno de John McCain e no segundo em relação à disputa democrata entre Hilary e Obama. Apresento a seguir os principais pontos levantados na discussão:

  • John McCain enfrenta em seu partido uma desconfiança muito grande em seu próprio partido. O perfil mais moderado o coloca em uma posição que poderia ser considerado de “esquerda” dentro do partido republicano. Até que ponto conseguiria mobilizar o eleitorado conservador para as eleições?
  • No entanto, é uma figura com um certo carisma, um herói de guerra, de reputação ilibada. Seu maior problema é carregar a rejeição do governo Bush. Por mais que esteja dissociado do presidente americano, faz parte do partido do presidente e será o candidato da situação. Sua capacidade de se colocar como um candidato de mudança da situação atual é muito limitada.
  • Barack Obama tem como grande trunfo sua extraordinária capacidade midiática. Percebeu bem a insatisfação que aparece de forma difusa na sociedade americana, causada pelos rumos econômicos atuais e pela concentração de renda dos últimos 20 anos. Apresenta-se como o candidato da mudança, uma ruptura da política tradicional.
  • O problema é que até agora não apresentou uma proposta programática para os principais problemas que serão debatidos nas eleições. Isto o aproxima de um perfil “populista”; de certa forma quer um cheque em branco para mudanças. Que mudanças e como são duas questões que começam a inquietar não só os conservadores, como parte do eleitorado tradicional democrata e dos independentes.
  • Hilary Clinton é a candidata mais preparada do partido democrata. Tem o sucesso do governo Clinton para comparar com a era Bush, o que é um discurso poderosíssimo. Seu maior problema é seu concorrente no partido. A chamada por mudança começa a se alastrar como uma possível onda, e nestas condições seu nome passou a ser associado ao estabilishment, à política tradicional.
  • Nem Obama se apresenta como candidato negro, nem Hilary como candidata mulher, mas ambos começam a sedimentar nestes eleitorados uma importante base. No cenário de uma disputa mais acirrada poderão radicalizar nestas questões, o que poderá custar caro mais adiante.
  • O eleitorado americano vai mais além do que os eleitores registrados que participam das prévias. Estes são mais mobilizados, e se configuram como uma força para impulsionar os demais nas eleições. Muitas vezes se escolhe um candidato forte na militância mas que não atrai o eleitor médio, aquele que define o resultado de novembro. Historicamente os candidatos que se localizam mais no centro do espectro político costumam ter melhores condições para convencer este eleitor.
  • Esta seria uma importante vantagem de McCain contra Obama, pois este se afasta muito deste centro. Poderá em uma eleição criar um temor em relação ao seu nome que favoreceria o republicano. Esta vantagem desaparece diante de Clinton, com perfil mais próximo do centro. Uma questão que se levantou é que hoje não existe uma resposta para o atual lugar do centro tendo em vista o problema crônico do Iraque (e Irã) e a crise econômica que se configurou no fim do mandato Bush.
  • Qualquer que seja o candidato democrata, ele será o favorito. Entretanto, uma radicalização do conflito entre Obama e Hilary poderia favorecer o candidato republicando que poderia atrair parte do eleitorado democrata descontente ou se beneficiar por uma abstenção.
  • A chave para a eleição é até onde o eleitor americano estaria disposto a ir em termos de mudança. Daria um cheque em branco a Obama? Daria seu voto às mudanças propostas por Hilary, estas mais concretas e identificadas com o ideário histórico de seu partido? Ou ficaria com McCain, acreditando que seu afastamento de Bush seria suficiente para garantir uma mudança em relação ao atual governo?

Foi um debate importante para situar o brasileiro que não acompanha o desenrolar dos acontecimentos na maior nação do mundo. Alguém como eu. Os pitacos que tenho dado, são pitacos mesmo, frutos de uma observação ainda muito superfical. Tenho começado a perceber que a sociedade americana está em um processo de mudança, fruto do descontentamento, que tem abalado aos poucos o “american way of life”. Mas este é assunto para outros posts.