Do que reclama o PSDB?

Por que reclama o PSDB do vazamento da informação de que teve sua imunidade tributária suspensa e foi autuado em R$ 7 milhões pela Receita Federal, acusado de usar notas fiscais frias emitidas por uma empresa fantasma e por outra inidônea em 2002, durante a campanha presidencial do hoje governador José Serra (PSDB)? O valor total das notas é de R$ 476 mil.

O chamado distinto público tem o direito de saber, sim. Assim como soube que a ex-ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, usou cartão corporativo para pagar o que não devia. E que com cartão corporativo o ministro dos Esportes pagou uma tapioca de R$ 8,00. As notas frias do PSDB foram descobertas quando a Receita investigou a contabilidade dos partidos. Tem mais é que investigar.

Noblat escreveu um post hoje defendendo que o PSDB não tem direito de reclamar do vazamento da investigação sobre a campanha de Serra em 2002. Segundo ele, o povo tem tanto o direiro de saber desta investigação quanto da tapioca do ministro dos esportes.

Toda vez que um jornalista fala em tapioca para se referir ao cartão corporativo é bom abrir o olho. O que o Noblat fez neste post é tentar igualar os desiguais.

Não morro de amores pelo PSDB, mas daí a dizer que é igual ao PT a distância é larga. O que os tucanos estão reclamando, com toda razão, é do vazamento pela receita federal de dados em investigação para a imprensa com a finalidade única de atingir um adversário político. Isso é inadmissível em uma democracia; foi uma das razões para a queda de Nixon há 30 anos atrás. Disputa partidária é uma coisa, governo é outra completamente diferente. Usar o estado para atingir rivais políticos é muito grave, é coisa de criminoso mesmo, e uma das razões que o PT deveria ser varrido não da presidência, mas da própria política.

A partir do momento que o estado é colocado à disposição de um partido político, a luta torna-se desigual. A própria investigação é criminosa pelo origem. Existe um processo de fiscalização, definido por lei, para as campanhas políticas. Em virtude do mensalão, os partidos que foram flagrados com caixa dois, PT, PL, PP e PR, deveria ser devassados. Um gênio do planalto colocou os partidos de oposição e o PMDB na mesma barca. Por que? Única e exclusivamente para achar podres para que se iguale os desiguais.

Estou aqui se defendendo que não se investiguem partidos? Claro que não; estou defendendo algo muito mais importante que a corrupção em si: as leis e a democracia. O jornalismo deveria estar cobrando esta utilização da máquina pública para atingir a oposição. Isto é inadmissível. A confiança nas instituições é destruída quando o estado vira refém do partido no poder. Basta ver o que aconteceu na Caixa Econômica no episódio do caseiro. E agora a Receita Federal entra na mesma dança.

Cadê a coragem da mídia para cobrar a separação do estado com o partido político?

Quer dizer que o governo não pode lutar? Tem que ficar na defensiva? Exatamente. Governo tem que dar explicações sobre tudo que coloca as mãos. É direito do cidadão acompanhar a atuação dos seus governantes. E o papel de fazer a cobrança é da oposição. Podem ver nos Estados Unidos. Bush apanha de tudo quanto é lado, mas em nenhum momento acusa os democratas de nada. Este jogo não é permitido a um presidente da república. O dia em que a Receita de lá fizer algo parecido com o que aconteceu esta semana, cai o governo.

Fora do previsto no processo de prestação de contas, só se deve investigar sobre denúncias concretas. Não houve no caso da campanha de Serra. Usar a força do estado para devassar as contas de um adversário é perigoso e grave. Se fazem isso com o governador do maior estado da federação, o que poderão fazer contra nós? A justificativa de combater a corrupção não pode atropelar as leis e a própria democracia. Não vale o preço.

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