Enfim, começou o show chavista

Foram libertados os dois reféns prometidos pelo embaixador das FARC, Hugo Chávez. Não foi o mega show que estava preparado desde dezembro de 2007, mas vai ser o suficiente para dar uma alívio para boa parte da imprensa mundial. Esta ficou um tanto frustrado por não ter podido fazer seu papel neste teatro de erros.

Era hora da imprensa saudar a libertação dos reféns, mas também de lembrar que os narco-traficantes possuem outros 700 em suas mãos. Fica claro que foi uma jogada de marketing da guerrilha, a mídia deveria fugir da tentação de se elogiar um grupo que usa do terrorismo e do seqüestro para afrontar a democracia em seu país.

O problema é que o discurso anti-imperialista e marxista das FARC atraem ainda muita simpatia. Não é a toa que Chávez é um dos heróis da maioria das universidades brasileiras. Como esse pessoal acredita que os fins justificam os meios, estes crimes são apenas um instrumento de pressão para manter viva a ilusão da utopia socialista.

The show must go on.

Jesus multiplicou pães, Lula multiplicava a CPMF

Mesmo aumentando os impostos, que acreditam significar uns 10 bilhões a mais, o aumento da arrecadação, mais uns 10, e ainda o imposto que incidirá nestes 40 que eram da CPMF (o que dará outros 10), o governo vai fazer alguns cortes. Vai cortar o aumento do funcionalismo, dos militares, verbas do PAC, Educação, Saúde, e etc. Caramba! A CPMF não era de 40 bilhões, era 400! O governo quebrou por causa de um imposto que conforme declarações do próprio executivo, só rico pagava!

O discurso é um só. Tudo que der errado a partir de agora (e em um governo petista, muita coisa dará) será culpa da oposição que tirou a CPMF. Vejam que até dezembro estávamos no primeiro mundo, tudo estava certo, o próprio presidente falou que a saúde estava perfeita, a educação nunca tinha sido melhor, etc. Agora é o caos, até surto de febre amarela já existe. E tudo por causa dos 40 bilhões da CPMF!

Isto é política. Cabe a oposição fazer também e mostrar que o discurso é absurdo. Claro que a mídia, como sempre, faz o que pode para vender a versão do governo. Mas é preciso gritar até ser ouvido.

Quem sabe o grande tema para as eleições deste ano seja a finalidade dos impostos e a carga tributária brasileira? Já seria um grande avanço.

MP do mal

O DEM saiu na frente no combate à MP que aumenta os impostos e encontrou uma sacada boa, chamar a dita de “MP do mal”. Um nome fácil e que bem trabalhado tem tudo para pegar. É uma boa estratégia eleger os impostos como tema para a batalha eleitoral deste ano, governos de esquerda são gastadores por natureza. Está em seu DNA que o estado deve prover tudo, o que implica a necessidade de arrecadar impostos. Em um modelo tributário como o nosso, que incide fortemente no consumo, quem acaba pagando a conta são as classes mais baixas. Infelizmente poucos se dão conta disso, pois acreditam que o imposto que vale é o sobre a renda. Pois independente de quanto se ganha, o imposto sobre o pão é o mesmo, o que mostra de saída uma grande distorção, e acaba com os mais pobres pagando proporcionalmente mais impostos.

Cabe à oposição mostrar esta equação com clareza, e mostrar que gastar não implica em ser eficiente. É bom terem consciência que não poderão depois esquecer o que estão defendendo agora. Caso voltem ao governo não terão condições de lutar por mais impostos; pelo contrário, terão que diminuí-los. Para o Brasil já seria um grande avanço.

Caso Emmanuel: a grande farsa

Estava tudo pronto. Chávez armou o circo, os companheiros do Foro estavam todos lá, inclusive a figura sinistra de Marco Aurélio Garcia. De quebra, a participação do presidente francês. Oliver Stone, com sua câmara, preparava-se pare reabilitar o presidente venezuelano após os fracassos do fim de 2007.

E o resultado: nada. O garoto Emmanuel, nascido no cativeiro, estava o tempo todo em um orfanato colombiano. As FARCs tentaram ganhar tempo, recuperá-lo, acusaram a interferência do governo colombiano, e por fim a farsa acabou.

Em uma última tentativa, já no desespero de argumentos, acusam o governo de Uribe de ter, acreditem, seqüestrado o menino para sabotar a operação.  Como um governo constituído seqüestra um seqüestrado é algo incompreensível. Se assim fosse, seria o caso de libertar um refém.

A mídia brasileira, através de editoriais, procuram se eximir de qualquer responsabilidade por suas opiniões afirmando que este fracasso era inevitável, que as FARC nunca cumpriram um acordo. Não foi assim que noticiou nas últimas semanas. O tom favorável a missão Emmanuel era flagrante, e já estavam prontos para exaltar a “ação humanitária” e a “generosidade” dos guerrilheiros narco-traficantes. E, é claro, crucificar Uribe como o grande perdedor da estória toda.

Infelizmente as FARC continuam mantendo cerca de 50 reféns, a anos, como forma de pressionar um governo legítimo, como praticamente todos da Colômbia ao longo de sua história, fato raro neste continente. Que este grupo, por sua pregação marxista, continuem atraindo simpatia de intelectuais e grande parte da mídia brasileira e mais do que inacreditável, é uma patologia.

A máquina em funcionamento

No apagar das luzes de 2007, Lula II deu os ajustes finais na sua já fantástica máquina eleitoral visando 2008 e, principalmente, 2010.

Primeiro estendeu os benefícios do bolsa família para adolescentes de 16 e 17 anos. Por que 16? Porque a partir desta idade já podem votar. Vejam que curioso, durante os debates sobre a CPMF o governo bradou que os programas sociais estavam ameaçados pelo fim do tributo. Pois a CPMF acabou e o programa foi estendido! E agora Jefferson Péres? E agora Pedro Simon? (Só cobro de quem tem um mínimo de consciência).

Uma segunda medida muito interessante. O governo, através de MP, adiou por 6 meses as novas regras para fiscalização das ONGs. Qual a relação? Aqui é de financiamento ilegal de campanha, basta ver a quantidade de petista envolvido com elas. Não é Marta Suplicy?

Por fim aumentou os impostos. Quando Mantega disse que o faria, Lula o desautorizou. Depois, na surdina, assinou o aumento. Fica a imagem que foi obra de seu ministro. É o jeito Lula, quando lhe é conveniente responde pelo governo, quando não é o titular da pasta que se explique. Ele, é claro, está sempre do lado do povo.

É hora das oposições gritarem, e para valer.

Brasilianos

Esqueci de comentar o excelente (como sempre) artigo de Stephen Kanitz na Veja da semana passada, tratando do tema “Brasileiros e Brasilianos”.

Kanitz remete ao uso da própria língua ao denominar de brasileiros todos nós que habitamos este país. Lembra que brasileiro rima com padeiro, carpinteiro, leiteiro; refere-se às profissões. Por outro lado temos italiano, americano, australiano. Mais do que uma nacionalidade, é uma declaração de cidadania. Faz a distinção de brasileiro e brasiliano nos seguintes termos: o primeiro é uma profissão, aquele que vê no Brasil uma terra a ser explorada, o mais rápido possível. O segundo, vê o Brasil como uma comunidade, como a expressão de uma família.

Brasilianos investem na Bolsa de Valores de São Paulo. Brasileiros investem em offshores nas Ilhas Cayman ou vivem seis meses por ano na Inglaterra para não pagar impostos no Brasil. Brasileiros adoram o livro O Ócio Criativo, de Domenico de Masi, enquanto os brasilianos não encontram livro algum com o título O Trabalho Produtivo, algo preocupante. Como dizia o ministro Delfim Netto, o sonho de todo brasileiro é mamar nas tetas de alguém. Quem está destruindo lentamente este país são os brasileiros, algo que você, leitor, havia muito tempo já desconfiava.

A vida social, segundo os clássicos, deve ser organizada em função de valores comuns e a disposição de fazer o possível para defendê-los, participando do desenvolvimento da própria comunidade. Envolve responsabilidades, fazer sua parte para o bem comum. Quantos de nós se dispõem a exercer uma função não renumerada em proveito de bem comum? Que envolva em uso do próprio tempo? Até nas coisas mais simples, quantos evitam jogar lixo nas ruas porque entendem que um local público pertence a todos, e não a ninguém?

Um dos motivos para nossa miséria, mais cultural e moral do que econômica, é a absoluta falta de sentido de comunidade para uma grande parcela da população, em todas as classes. Não existe esta comunhão de valores, nem a disposição de assumir responsabilidades dentro desta comunidade. Quantas vezes escutamos a frase “não vamos fazer isso não, dá muito trabalho…”

Qual é a proporção de brasilianos e relação aos brasileiros?

É o questionamento de Kanitz. O artigo pode ser lido aqui.

TV Pública

Em artigo hoje, na Folha, José Paulo Cavalcanti faz uma defesa da TV Brasil. Não é uma defesa direta, pelo menos no lead. Coloca duas perguntas e ao longo do texto apresenta seus argumentos. Cavalcanti é um dos membros do conselho curador da estrovenga.

Achei particularmente interessante a primeira questão que colocou: ela vai fazer propaganda do governo? Diz ele que é fácil de responder: não se sabe. E isso vem de um dos membros do seu conselho! Poderia ter negado, dito que a função dele era justamente evitar esta utilização, mas saiu-se com este “não se sabe”. É uma das formas mais comuns no debate brasileiro, ao invés de defender sua posição e apresentar seus argumentos, o debatedor se coloca como juiz da própria questão que colocou, como se fosse um árbitro imparcial; tanto que em nenhum momento o Sr Cavalcanti referiu-se ao cargo que ocupa na TV. Provavelmente preferia que a Folha nem colocasse esta informação no rodapé do artigo.

É claro que não é um “não se sabe” comum, é um truque semântico. Cavalcanti sabe sim, tanto que acrescenta logo a seguir:

As biografias do ministro Franklin Martins; da presidente da TV, Tereza Cruvinel, e sua equipe; do presidente Luiz Belluzzo e dos demais membros do Conselho Curador não autorizam admitir que essa TV seja usada, hoje, como chapa-branca -assim se referem a ela alguns jornais.

Gostaria que o autor tivesse apresentado um argumento (coerente) para que as biografias das pessoas citados servissem para garantir a independência da TV Lula. Franklin Martins participou de grupos armados, de seqüestro, e é envolvido com um jornal delinqüente que faz apologia ao assassinato de jornalistas. Foi demitido da Globo por não ter conseguido apresentar um argumento coerente (esse pessoal tem dificuldades nesta parte) para refutar a acusação que lhe fez Diogo Mainardi. Este o acusou, vejam só, de ter ligações com o governo, citando uma série de parentes empregados sem concurso em cargos de confiança. Cruvinel passou toda a crise de 2005 falando no “suposto” mensalão e na defesa de José Dirceu, e vejam que o crime já tinha sido admitido pela cúpula do partido e até pelo presidente Lula no famoso “fui traído”! Beluzzo é sócio e membro do conselho editorial de uma revista de quinta categoria, mas muito bem patrocinada por estatais, chamada “Carta Capital”. Ah, esta revista também advoga que o mensalão não existiu.

As pessoas citadas são mais provas da adjetivação de “carta-branca” da nova TV do que o contrário. Mas Cavalcanti, agindo como uma espécie de Salomão, joga seus nomes ao ar como se não precisasse de outros argumentos. Pois precisa, ainda mais depois de citar estes nomes.

Nem vou entrar na segunda questão, a que coloca se um país com sérias carências sociais pode financiar uma tv pública. Cavalcanti faz sua defesa, para que não se julgue por enquanto, como se a TV pública fosse um sucesso de audiência. Enumera questões de ordem como que a tv tem que ser a “cara” do país, ser multi-cultural, etc. Não comenta o fato da audiência ser um traço. Isto mesmo, é tão insignificante que não consegue ser medida. Como as demais tvs públicas do país. Poderia ter colocado a questão de forma mais precisa: pode um país carente socialmente financiar uma tv pública que ninguém assiste?

Em resumo: um membro do conselho da TV Lula, se coloca como um árbitro, julgando duas questões que ele próprio colocou, mas assumindo claramente um lado. Pior, sem apresentar um mínimo argumento para este lado, limitando-se a citar biografias (um refúgio) e idéias abstratas do que imagina que seja a função de uma televisão. Uma lástima.